CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

sábado, 27 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fantasporto 2010

   Começou na segunda-feira, dia 22, a 30ª edição do Fantasporto, Festival Internacional de Cinema do Porto, em Portugal, um dos mais tradicionais eventos de cinema fantástico do mundo. Porém, a coisa começa a valer mesmo a partir de hoje, dia 26, com o início da mostra competitiva. Concorrem na Seção Oficial de Cinema Fantástico os longas Deliver Us from Evil, de Ole Bornedal; Embargo, de Antônio Ferreira; Heartless, de Philip Ridley; Hidden, de Pål Øie; Jennifer’s Body, de Karyn Kusama; La Herencia Valdemar, de José Luis Alemán; [Rec] 2, de Jaume Balagueró e Paco Plaza; Salvage, de Lawrence Gough; Solomon Kane, de Michael Bassett; Splice, de Vincenzo Natali; T.M.A., de Juraj Herz; The Descent: Part 2, de John Harris; The Human Centipede (First Sequence), de Tom Six; Thirst, de Chan-Wook Park, e Valhalla Rising, de Nicolas Winding Refn.
   A julgar pelos realizadores (incluindo o retorno do veterano Herz e de nomes consagrados no gênero como Natali, Bornedal e Park, além dos badalados Balagueró e Plaza), muitos destes filmes prometem constar das listas do melhor do cinema fantástico de 2010; alguns deles inclusive já foram exibidos em festivais do ano passado. O Fantasporto vai até o dia 7 de março.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perils of Julia and Gill Man (1954)

   O acervo de imagens da revista Life disponível na internet está repleto de preciosidades que a gente só encontra depois de pesquisar muito no site. Entre as coleções históricas consta até uma visita à casa sinistra onde viveu o serial killer Ed Gein, em 1957. O cinema, como não poderia deixar de ser, tem lugar de destaque no arquivo da Life, com muitas sessões fotográficas exclusivas. Uma das mais curiosas é a série que reproduzo aqui, intitulada Perils of Julia and Gill Man. Clicada pelo fotógrafo Edward Clark em 1954 nas locações do filme O Monstro da Lagoa Negra, da Universal, mostra a curvilínea Julia Adams às voltas com a criatura escamosa descoberta no Rio Amazonas. Acho extremamente charmosa essa coloração envelhecida das fotografias, dando um toque nostálgico às imagens, ao mesmo tempo ingênuas e sensuais, com Miss Adams absolutamente irresistível em seu inimitável maiô.

Set: Um Horror de Cinema

   A revista Set de agosto de 2008 anunciou em sua capa o filme Encarnação do Diabo [sic], a tão esperada conclusão da trilogia de Zé do Caixão. A reportagem interna inclui um box com quinze filmes de horror brasileiros, encomendado pelo editor e compilado por mim, pela profa. dra. Laura Cánepa e pelo Dennison Ramalho, co-roteirista do longa tema da matéria principal.
   Cada um contribuiu com seus favoritos, mais ou menos assim (pelo que lembro): Amadas e Violentadas, Escola Penal de Meninas Violentadas e A Força dos Sentidos são sugestões minhas; Prata Palomares, O Signo de Escorpião e Ninfas Diabólicas são dicas da Laura. Os filmes clássicos do Mojica, do Christensen e do Khouri, além do cultuado episódio O Pasteleiro, de David Cardoso, são basicamente os prediletos de toda a galera!
   Se eu refizesse a lista hoje, certamente ela seria bem diferente, pois descobri muita coisa interessante nesses últimos dezoito meses. O box está reproduzido abaixo, atendendo o pedido do Rodrigo Ramos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Banquete de Taras (1982) e As Taras do Mini Vampiro (1987)

   Vampiros, esses coitados, não têm vez no cinema brasileiro. Não estou dizendo que os chupadores noturnos não tenham mostrado em nossas telas seus dentes pontiagudos, suas capas esvoaçantes e sua insaciável sede de sangue. Mostraram sim, e em quantidade (ainda que nem sempre em qualidade), mas quase nunca foram levados a sério. Parece que nossos cineastas já decidiram que vampiro não assusta em cenários tropicais.
   Obras kine-cômicas como Um Sonho de Vampiros, Olhos de Vampa, As Sete Vampiras e o irreverente Nosferato no Brasil - estes dois últimos assinados pelo esculhambador-mór Ivan Cardoso - se encarregaram de aniquilar quaisquer rastros do poder apavorante dos vampiros de antanho. Sob nosso calor tropical, Bela Lugosi não apenas is dead; neste rincão onde se plantando tudo dá, ele foi sumariamente enterrado e serviu de adubo para comédias que trataram de humilhar a figura clássica do desmorto.

Banquete de Taras

   Talvez essa nem seja a principal intenção deste horror erótico dirigido por Carlos Alberto Almeida e lançado em 1982, mas garanto que você não vai levar Banquete de Taras a sério depois de assistir os primeiros cinco minutos. A premissa é clássica e o filme até pega emprestado alguns elementos góticos de obras estrangeiras: começa com a chegada a Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, de um estranho homem vestido de preto. Ele visita a mansão de Vladmir Vladislav, um jovem escultor que leva mais uma vida de playboy do que a de um artista plástico. O visitante revela que está no Rio de Janeiro para cuidar dos planos de além-túmulo de um ancestral do escultor, um conde vampiro morto há mais de 500 anos na Transilvânia. O tal conde continua vivo em espírito e precisa de sangre fresco para renascer. O plano é tão simples quanto canalha: para saciar a sede de sangue do titio, Vladmir deve fazer sexo com quatro mulheres diferentes em quatro noites seguidas de lua cheia. O rapaz acha bem razoável a proposta, não faz qualquer objeção e as orgias logo começam.
   A melhor idéia do filme são as mulheres que, depois de serem possuídas sexualmente pelo escultor, são transformadas em estátuas de pedra que passam a decorar o jardim de sua mansão. A referência direta, obviamente, é o clássico O Moinho das Mulheres de Pedra (1960), dirigido pelo italiano Giorgio Ferroni, mas o filme é conduzido de maneira tão pouco imaginativa que mesmo detalhes assim acabam se perdendo. Completa a bagunça uma trilha sonora que mistura indistintamente Ravel, Roberto Carlos, Rick Wakeman, Pink Floyd e Bernard Herrmann.
   Para quem se contenta com um punhado de cenas de sexo softcore, Banquete de Taras pode até divertir um pouco, no sentido ‘sala-especial’ de diversão. Porém, mesmo seu erotismo é contestável: a cena de abertura fica entre o hilário e o grotesco, quando o emissário do conde usa seu incrível poder hipnótico para induzir uma mulher mais velha (e não muito atraente) a se masturbar dentro do ônibus! Entretanto, nada provoca mais risos incontroláveis do que o ridículo Newton Couto posando como uma versão barata de Christopher Lee, com a diferença de ter feições mais engraçadas do que assustadoras - e muitos centímetros a menos em estatura. Aliás, falando nisso, já estamos prontos para falar de nosso próximo exemplar...

As Taras do Mini Vampiro

   Aproveitando a visita do grande corintiano Diogenes ao blog (o legal desse formato é que podemos chamar pelo nome a maioria dos leitores!), vou comentar um filme bônus: nada menos do que o cult trash As Taras do Mini Vampiro (1987), dirigido por José Adalto Cardoso. O Diogenes sempre propagou aos quatro ventos que é fã do filme, e principalmente de seu diminuto astro, o anão Chumbinho, protagonista também do pornô bad-trip Fuk Fuk à Brazileira (1986), que Jean Garrett assinou sob o esperto pseudônimo J.A. Nunes; então está feita a homenagem ao amigo!
   Tudo que ficava no quase no filme comentado anteriormente chega às últimas consequências em As Taras do Mini Vampiro. O humor, desta vez, é escrachado, e o sexo, tão explícito quanto é possível imaginar. No mau sentido. Aquele explícito grosseiro, feio, desagradável, capaz de disassociar erotismo de pornografia (eu, ao contrário de muita gente, acredito que pornografia é essencialmente erótica, mesmo quando seu foco principal são closes genitais).
   O filme acompanha as desventuras do personagem do título, um horrendo anão vampiro que ataca casais (e, às vezes, trios) em seus momentos de intimidade. A trama é ambientada em Batatal, uma pacata cidadezinha do interior, e logo a grotesca criatura vai parar na primeira página dos jornais e atrai a atenção de políticos oportunistas e um excêntrico caçador de vampiros, interpretado por Renalto Alves. É fácil demais apontar os defeitos no filme, pois eles são muitos, porém é muito mais interessante vasculhar seus méritos. Os momentos de humor às vezes funcionam: impossível resistir, por exemplo, à safadeza do prefeito da cidadezinha, que quer a todo custo tirar proveito da situação para fazer com que Batatal fique conhecida nacionalmente. A cena do vampiro arrastando seu caixão pelo campo tem algo de trágico, macabro e poético, mas é melhor eu não comparar com a tomada semelhante que aparece em Nosferatu, o Vampiro da Noite (1979), de Werner Herzog...
   A conclusão que podemos chegar é que As Taras do Mini Vampiro é algo que só pode ser devidamente apreciado por alguém com gosto adquirido pela coisa. É para os iniciados, para quem experimentou sangue e quer mais, mais, mais!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Enquete: Quantas vezes você assistiu seu filme favorito?


   A galera parece mesmo ter caído na folia ao longo desta semana (e depois enfrentado aquela baita ressaca...), pois as visitas ao blog foram bem discretas. Esta enquete também parece não ter instigado os cinéfilos a participar; conheço gente que se vangloria de ter visto Blade Runner mais de 100 vezes (“parei de contar na 125ª...”), mas apenas um leitor do blog afirmou ter visto seu filme favorito em torno de 50 vezes. Um visitante votou em entre 20 e 40, dois votaram em mais de 10 e cinco afirmaram que viram seu filme do coração menos de 10 vezes. Vocês são mesmo uns cinéfilos bem pouco passionais! Espero que os votantes (e também os foliões) agora se animem em citar o nome de seus filmes preferidos e quantas vezes o assistiram!
   A nova enquete que está no ar, como certamente os mais antenados já devem ter percebido, é em ocasião do lançamento da refilmagem de O Exército do Extermínio (The Crazies). Pois bem; fora a saga dos mortos-vivos de George A. Romero (que já teve a primeira metade refilmada por outros cineastas), qual outro filme do velhinho de Pittsburgh merece uma releitura? Votem!!
   A ausência dos amigos que costumavam aparecer sempre por aqui também me desestimulou a continuar as postagens diárias, então deixarei para os próximos dias o restante das postagens da Semana dos Vampiros. Quero comentar pelo menos mais quatro filmes. Espero que os zumbis voltem a se manifestar...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

The Vampyre; A Tale (1819)

   Atendendo a uma sugestão do Blob, decidi deixar registrada aqui uma modesta homenagem ao Lorde Byron (1788-1824) neste ciclo vampírico. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de interesse em cultura macabra inevitavelmente se apaixona pela figura de Byron, por tudo que ele representa e pela turminha barra-pesada que o acompanhava em suas noitadas. Para ficar apenas no básico, Byron e seus amigos praticamente inventaram a literatura fantástica depois de uma noite de farra na Villa Diodati, em Genebra (Suíça), em 1816, quando um desafio entre colegas poetas resultou em Frankenstein, de Mary Shelley, e The Vampyre, de John Polidori.
   O processo de criação da seminal história de vampiro de John William Polidori (1795-1821) - fruto de uma espécie de concurso sobre qual deles era capaz de escrever a história mais assustadora - é um dos episódios mais fascinantes do mundo literário, repetido à exaustão em qualquer compêndio acerca da gênese do horror e da ficção científica nas letras. Existem pelo menos três interessantes filmes sobre o período de orgias e caos criativo em Villa Diodati: Gótico (1986), de Ken Russell, Primeiro Verão de Amor (1988), de Ivan Passer, e Remando ao Vento (1988), de Gonzalo Suárez. O prólogo de A Noiva de Frankenstein (1935) também faz uma simpática menção ao evento, que ainda inspirou Frankenstein, o Monstro das Trevas (1990), de Roger Corman.
   A criação vampírica de Polidori, entretanto, não ficou imortalizada por algum possível valor literário, mas por sua autoria ter sido erroneamente atribuída ao próprio Lorde Byron quando da publicação original. Ficaram igualmente famosas as espinafradas que Byron desferiu no amigo por meio de cartas enviadas a revistas, não apenas desmentindo ser o autor do conto, mas também desmerecendo qualquer valor artístico na obra. O conto teria sido escrito por Polidori a partir de um rascunho de Byron. De qualquer maneira, o tempo se encarregou de enaltecer a importância de The Vampyre, considerado um dos primeiros trabalhos em língua inglesa sobre o tema, e muitos enxergam inequívocos traços byronianos no desmorto protagonista da narrativa, Lorde Ruthven.
   Quem quiser guardar na coleção essa raridade, pode baixar um facsímile da edição original de The Vampyre, de 1819, clicando aqui (botão direito do mouse, ‘salvar destino como’, vocês sabem). Observem no frontispício reproduzido acima (o qual não traz o nome de Polidori) a anotação manuscrita “by Lord Byron”, condenando o poeta maior a assinar pela eternidade uma obra que renegara em vida.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Vlad Tepes e Erzsébet Báthory

   As lendas medievais sobre defuntos que se levantavam de seus túmulos para se alimentar dos vivos, nos rincões mais excêntricos da Europa, forneceram o combustível necessário para que os poetas imortalizassem nas letras o mito do vampirismo. Os espantosos e insistentes relatos de casos vampíricos na Sérvia, Hungria, Morávia, Polônia e outros países eram, de fato, mais estranhos do que qualquer ficção. Porém, duas figuras históricas, ambas de traços carregados e extravagantes, também foram essenciais para dar vida ao monstro, agregando características mais humanas ao vampiro, até então meros carniçais incapazes de raciocinar.
   As peripécias sangrentas de Vlad Tepes e Erzsébet Báthory, cada um à sua maneira, enriqueceram de detalhes a criação de Drácula, a obra máxima do vampirismo literário, lavrada pelo irlandês Bram Stoker no apagar da era Vitoriana. Durante a segunda metade do século XX, depois de um longo período de esquecimento, ambos foram redescobertos pela cultura popular e suas lendas - muito mais do que os fatos históricos - passaram a compor de maneira indelével o imaginário vampírico.
   Os primeiros filmes que comentarei neste ciclo vampiresco são duas cinebiografias que recontam com riqueza histórica os feitos de Vlad Dracula e Erzsébet Báthory. Apesar de terem pouco (no caso do primeiro, nenhum) conteúdo vampírico, são filmes indispensáveis para quem se interessa por estas fascinantes figuras.

Vlad Tepes (1979)

   Suntuosa produção romena que relata os momentos cruciais na vida de Vlad Tepes (1431-1476), especialmente os últimos anos da sangrenta batalha que o voivode da Valáquia liderou contra a invasão do exército turco-otomano em Belgrado, em 1456. O filme é um épico bélico que peca basicamente pelo excesso de diálogos - não sou das pessoas mais inteligentes para acompanhar conspirações políticas, bloqueios de rotas comerciais, acordos de armistício ou negociações de cargos e postos de comando - mas cujo ritmo dinâmico providencialmente impede que a trama perca o interesse. Quem não conhece a história de Vlad Tepes, indico a leitura rápida deste verbete. Também altamente recomendável é o livro Em Busca de Drácula e Outros Vampiros, de Raymond T. McNally e Radu Florescu, lançado em 1995 no Brasil pela editora Mercuryo, que talvez ainda esteja em catálogo.


   O filme, financiado pelo fundo de cinema romeno, tem um nível de produção excepcional, com cenários grandiosos e centenas de figurantes nas batalhas em campo aberto. O papel principal é interpretado com absoluta convicção por Stefan Sileanu, encabeçando um ótimo elenco. Vários episódios pitorescos da biografia de Vlad Tepes são recriados com riqueza de detalhes, como os mendigos que ele mandou aprisionar e queimar vivos depois de lhes oferecer um generoso banquete, ou quando mandou pregar os turbantes na cabeça dos embaixadores turcos que visitavam seu castelo e recusaram-se a retirar os ornamentos. As grotescas execuções por empalamento também são mostradas com toques macabros e sinistros. Porém, o filme opta por resgatar a imagem heróica de Vlad Tepes, mostrando-o como um governante intolerante e cruel, de punho firme, porém disposto a chegar às últimas consequências para proteger sua nação e seu povo. O filme mostra que parte do mito das atrocidades atribuídas a Vlad Tepes foi inventada por seus oponentes, que se valeram da lógica de que uma mentira contada repetidas vezes inevitavelmente torna-se verdade.
   Devo essa raridade fílmica ao amigo Cayman, que me avisou ter encontrado a película num fórum de obras raras. Tenho duas versões do filme, mas somente a mais curta, com 102 minutos, tem legendas em inglês. A versão uncut tem 134 minutos, mas é falada em romeno e eu sou fraco nesse idioma. Mesmo assim, assisti também a essa versão longa e, pelo que pude perceber, tem apenas mais cenas de diálogos e alguns episódios que foram cortados da outra edição, mas nada relacionado a violência ou horror. A história do voivode também foi relatada em Príncipe das Trevas: A Verdadeira História de Drácula (2000), telefilme que abusa de situações mais apelativas para convencer que, no fundo, Vlad Tepes era gente boa.

The Countess (2009)

   O companion perfeito para o filme sobre Vlad Tepes seria a biografia Bathory (2008), co-produção da Eslováquia, República Tcheca e Hungria que reconta a história da condessa de maneira revisionista, retratando-a basicamente como uma vítimas das circunstâncias e da ganância de seus oponentes. Da mesma forma que o filme romeno resgata o Drácula histórico por meio de seus feitos militares, Bathory é interessante por mostrar como a condessa Erzsébet Báthory (1560-1614) é vista por (pelo menos parte de) seus compatriotas, livre de preconceitos e extravagâncias caricatas perpetuadas no decorrer do século XX.
   Entretanto, escolhi The Countess por ser um filme mais recente e, na minha opinião, mais interessante em termos cinemáticos. É um projeto de estimação de Julie Delpy, que dedicou vários anos em sua realização (há cerca de quatro anos, tive o roteiro deste filme em mãos - mas não cheguei a lê-lo - quando visitei um amigo que acabara de voltar de Hollywood). Se por um lado Vlad Tepes emprestou seu apelido ‘Drácula’ ao vampiro de Bram Stoker, foram as barbaridades supostamente cometidas pela Condessa Erzsébet Báthory que enriqueceram o monstro literário com obsessões sanguíneas.


   Julie Delpy assina o roteiro e a direção e estrela esta ambiciosa obra no papel da poderosa nobre húngara que, ao perceber sua beleza se desvanecendo no espelho, descobre ao acaso que o sangue de moças virgens tem poder rejuvenescedor. Porém, ao contrário do clima fantasioso de muitas das versões anteriores levadas às telas, The Countess retrata Báthory essencialmente como uma mulher fragilizada emocionalmente que começa a enlouquecer ao vislumbrar sua própria mortalidade. A condessa, aos 38 anos, apaixona-se por um rapaz de 21, o qual corresponde ao seu amor, mas uma série de desencontros provocados pelo invejoso e ciumento pai do jovem desencadeia um processo que descamba para as famosas crueldades cometidas pela nobre.
   The Countess, mais do que um filme de horror sobre uma das maiores assassinas da História, é um estudo sobre a suscetibilidade feminina a elogios fáceis, à leviandade do egoismo e o abuso de poder. O desempenho de Delpy é ao mesmo tempo tocante e corajoso, comovente em sua dedicação a um papel difícil, aparecendo a maior parte do tempo em cena com feições cansadas, de aspecto quase doentio, desprovida de beleza ou sensualidade. Os diálogos são precisos e fogem da armadilha de grande parte dos dramas de época, que costumam revestir as falas com uma improvável formalidade. As cenas de tortura e assassinato inserem o filme no gênero horror e chegam a provocar repulsa em seu grafismo, mostrando a maneira impessoal (quase casual) com a qual Báthory tratava suas vítimas. O filme evita mostrar as agressões pelo ponto de vista das virgens, o que torna ainda mais chocante a maldade da condessa.
   Acredito que conheço todos os filmes sobre a Condessa Bathory - e são muitos, uma legião! - mas não assisti a todos (quem entende mesmo do assunto é a Beatriz Saldanha, autora de um excelente artigo - ainda inédito - sobre a condessa sangrenta). Mas ouso afirmar que The Countess é, de longe, o melhor filme já realizado sobre o tema. Nada sei sobre sua repercussão, se fracassou ou se colheu críticas favoráveis, mas é o tipo de filme que merece um público amplo, de preferência pessoas capazes de compreender suas muitas facetas, pois trata-se de uma obra que ainda merece ser discutida profundamente.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Drácula (1931)


   Já dizia aquela impagável paródia do conde vampiro: Dracula sucks! Estava dia desses folheando o livro V Is for Vampire: The A-Z Guide to Everything Undead (1996), de David J. Skal, e encontrei uma observação deveras curiosa que quero compartilhar aqui com vocês. Vejam só o comentário do autor no verbete fellatio, depois de ponderar diversas implicações diretas ou indiretas entre vampirismo e sexo oral: “Quando assistida corretamente, até mesmo a indigesta versão cinematográfica de Drácula de 1931 contém algumas surpresas de, digamos, cair o queixo. Renfield, o raivoso servo de Drácula, apesar de ter sido mordido pelo conde, não apresenta qualquer marca, pelo menos não no pescoço. Durante a viagem marítima rumo à Inglaterra há uma tomada muito interessante, quando Renfield abre o caixão do vampiro: certamente alguém deve ter percebido que quando Drácula se senta, seu rosto vai diretamente às calças de Renfield - como que ávido por um burrito cheio de sangue para o café-da-manhã”. O vídeo está aí para cada um tirar suas próprias conclusões: does Dracula really suck?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Semana dos vampiros


   Os vampiros vão invadir este blog durante toda a semana! De segunda a sexta, falarei apenas de filmes de vampiro. Cenas inéditas da saga Crepúsculo, tudo sobre os bastidores de Lua Nova, fotos sensuais de Kristen Stewart e Robert Pattinson na intimidade, revelações surpreendentes sobre o romance de Bella e Edward ou Jacob (ou seja lá quem for, não sei...), uma entrevista exclusiva com a autora Stephenie Meyer e as primeiras informações sobre os próximos filmes da série: Crescent, Eclipse, Full Moon e Breaking Dawn. Descubra como sincronizar as cenas de New Moon com o LP Dark Side of the Moon e desvende significados secretos da trama! (Bem, na verdade não terá nada disso aqui, mas será bacana se essas frases atrairem um monte de visitantes pelo Google, não acham?!?)
   Falarei (agora é sério) sobre meia dúzia de filmes bem pouco óbvios, alguns deles relacionados ao vampirismo apenas de maneira marginal, mas acredito que vocês os acharão bem interessantes. Também planejei colocar como bônus uma coleção de cartazes clássicos de filmes de vampiro, todos bem grandes, com dimensões que permitem até que sejam impressos e pendurados na parede. Não sei se os leitores do blog gostam desse tipo de coisa, então se manifestem, aí decido se coloco ou não esse bônus!
   Este ciclo é afetuosamente dedicado aos meus amigos e parceiros Cid e Nagash, que deram as boas-vindas ao blog bem no comecinho. Como qualquer visitante do site Carcasse (no momento, em estado criogênico) pode comprovar, o Nagash é o designer com toque mais macabro que existe no lado obscuro da internet. (Aliás, o que tem de site de “terror” com visual brega é uma grandeza...!) A semana dos vampiros também é dedicada aos colegas Adriano Siqueira, Giulia Moon, Shirlei Massapust e Mariliz Marins (Liz Vamp), que tanto fazem para manter viva e pulsante a paixão pelos seres noturnos.
   Portanto, fiquem com o kit de primeiros-socorros à mão porque o sangue vai começar a jorrar! Para cravar a primeira estaca, deixo algumas páginas de uma extensa reportagem sobre vampiros publicada no Diário do Nordeste em 15 de novembro de 2009

Related Posts with Thumbnails

Canal Cine Monstro Rock Horror Show!!