CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

domingo, 23 de janeiro de 2011

The House of Hammer: José Mojica Marins

   Uma das minhas aquisições recentes, por conta da pesquisa que estou desenvolvendo para um trabalho sobre a produção cinematográfica de horror na Inglaterra, foi a coleção digital da revista The House of Hammer, que teve ao todo 30 edições. Ao folhear logo o primeiro exemplar, de 1976, qual não foi a minha surpresa ao encontrar um artigo sobre ninguém menos do que José Mojica Marins?! A revista apresentava uma combinação de quadrinizações dos filmes da produtora Hammer e artigos sobre o cinema de horror, tanto do período clássico quanto o contemporâneo. O breve texto sobre Mojica, assinado por Barry Pattison em sua coluna “Horror Around the World”, começa metendo o pé na porta: “A indústria do cinema de horror internacional contêm algumas personalidades bastante estranhas, mas eu desafio qualquer um a encontrar uma mais bizarra do que a criada e interpretada por José Mojica Marins - o temido Ze do Caoxi [sic]”.


   Sempre que tenho oportunidade de conversar sobre pesquisa de cinema com pessoas que ainda estão iniciando nessa área, tento motivá-las dizendo que não existe melhor época do que a atual para se pesquisar filmes, com toda a facilidade para se ter acesso a obras de toda parte do mundo e de praticamente qualquer período. Uma das evidências mais incisivas disso é a quantidade assombrosa de bobagens que costumo encontrar nos livros de cinema de horror mais antigos. Tenho alguns livros sobre o tema publicados nas décadas de 60, 70 e 80, mas ao contrário de encontrar preciosidades escritas por críticos e pesquisadores que, em tese, estavam mais próximos dos acontecimentos que registravam, muitas vezes nos deparamos com imprecisões, generalizações ou informações viciadas.

  
   O artigo de Pattison sobre Mojica é um prato cheio nesse departamento. Depois de contar algumas anedotas sobre o cineasta, como os primeiros filmes que ele fez no galinheiro da família e o fim trágico do filme O Auge do Desespero, destruído por uma tempestade, o autor erra feio ao dizer que Meu Destino em Tuas Mãos é estrelado por Pablito Calvo e Joselito! Para quem não sabe, Calvo é o astro infantil do filme espanhol-italiano Marcelino Pão e Vinho (1955), óbvia inspiração para o Mojica colocar Franquito, “o garoto da voz de ouro”, como protagonista de Meu Destino em Tuas Mãos. Alhos por bugalhos...


   O artigo ainda afirma que os críticos da época chamaram Mojica de “assassino do cinema brasileiro” - uma frase e tanto, mas que não me lembro de ser um dos tantos impropérios disparados contra Mojica pela ala conservadora. O texto ainda consegue errar a grafia de praticamente todos os filmes que cita (A Meia Noitre Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei Teu Cadavera, O Mundo Estranho de Ze do Caizo), diz que O Diabo de Vila Velha é um filme de horror (não é; trata-se de um faroeste) e afirma que o diretor a seguir fez A Encarnação do Demônio. O filme, todos sabem, só foi realizado mais de trinta anos depois. A coisa mais curiosa do texto provavelmente é a citação de Glauba [sic] Rocha e seu ‘caubói marxista’ Antônio das Mortes.

Da casa aos corredores

   Bagunças à parte, é uma delícia passear pelas páginas de The House of Hammer, mesmo folheando-a digitalmente; no mínimo pelas belíssimas adaptações em quadrinhos dos clássicos da Hammer, pelas mãos de grandes artistas dessa mídia. A existência relativamente curta da revista também serve para demonstrar as dificuldades que publicações sobre esse tema enfrentam em qualquer lugar do mundo. Publicada na Inglaterra a partir de outubro de 1976, a revista carregou o nome The House of Hammer até a 18ª edição, mudando a seguir para Hammer’s House of Horror nos números 19 e 20, e depois para Hammer’s Halls of Horror nas edições 21 a 23. Finalmente, quando a Hammer cessou de vez a produção de filmes, a publicação passou a se chamar apenas Halls of Horror e durou da revista 24 até a 30. O último número é datado de novembro de 1984. Nas edições finais, a revista se transformou numa espécie de guia do cinema fantástico, com ênfase nos filmes de ficção científica e fantasia tão populares na época (como Mad Max e Blade Runner), compilando breves verbetes com resenhas de filmes e perfis de astros e realizadores.


   Ilustram esta postagem todas as capas da fase inicial da publicação, além de algumas páginas da edição inaugural, incluindo o editorial de apresentação e o artigo sobre nosso prezadíssimo José Mojica Marins. Numa próxima postagem colocarei as capas restantes.

11 comentários:

  1. Olá Carlos, encontrei seu blog quando procurava por edições originais de livros. Estou pesquisando sobre as edições de Lewis Carroll e não consigo encontrar a edição de 1889, The Nursery Alice, dirigida ao público pré-escolar. Você saberia de algum link onde eu possa encontrar? Desde já agradeço.

    Ana Paula Corrêa

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  2. Olá, Ana Paula!

    Não seria isso que você está procurando?
    http://www.aliang.net/literature/the_nursery_alice/tna_ch01.html

    Grande abraço e espero ter ajudado! Escreva sempre!
    Carlos

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  3. Isso de "desinformações" nos livros dos anos 60 e 70 são muito comuns, até em livros "consagrados" que a gente tem de ler na faculdade.

    Por exemplo, lembro de uma vez ler um texto do Jean Claude Bernardet sobre o filme "Cio - Uma verdadeira História de Amor", onde o crítico belga rasga elogios ao filme do Fauzir Mansur, pois finalmente o cinema brasileiro tinha um exemplar do melodrama moderno popularizado pelo "Romeu & Julieta" do Zefirelli e(especialmente) pelo campeão de bilheterias "Love Story" do Arthur Hiller, e que esse tipo de filme deveria ser mais feito por essas bandas que contam apenas com aventuras amorosas ou recheadas de pornografia ou de dramas existenciais que dispersam o público.

    Tudo muito bonito e tudo mais, se não fosse pelo fato de "Cio" ser a história de um empresário quarentão que se apaixona por um menino engraxate de 13 anos. Ou seja, além de não ter visto o filme, provavelmente Bernardet nem sequer leu a sinopse do jornal pra elogiar o filme que, de acordo com o que tava na cabeça dele, era o chamariz de gente que visava cativar o público sem "pornografia" (uau, um romance pedófilo homossexual entre um quarentão e um engraxate, agora sim temos nosso Love Sotry!).

    Ainda bem que hoje existe internet e você pdoe checar os fatos 10 ou 15 vezes antes de printar pra eternidade besteiras desse tipo.

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  4. DIOGENES, COM TODO O RESPEITO A SUA PESSOA, VOCE TAMBÉM ESTÁ MAL INFORMADO SOBRE O FILME 'CIO, UMA VERDADEIRA HISTÓRIA DE AMOR' PRODUÇÃO DE 1971, ESTRELADA PELO MAIOR GALÃ DA ÉPOCA, MEU SAUDOSO AMIGO FRANCISCO DI FRANCO.
    ELE NA ÉPOCA DO FILME, TINHA 32 ANOS, POIS O FILME FOI RODADO EM MARÇO DE 1971, E ELE FEZ 33 ANOS EM MAIO, PORTANTO NÃO ERA NEMHUM 'EMPRESÁRIO QUARENTÃO' - O TAL 'MENINO ENGRAXATE DE 13 ANOS',ERA A ATRIZ VERA LUCIA, QUE NA ÉPOCA TINHA 18 ANOS - A MAIORIA DO PÚBLICO DOS CINEMAS PENSAVA TRATAR-SE DE UM GAROTO, MAS ERA VISÍVEL PELA SUAVIDADE DO ROSTO, TREJEITOS E DETALHES FÍSICOS QUE ERA UMA JOVEM DO SEXO FEMININO, E A SURPRESA FINAL QUANDO O ENGENHEIRO PAULO, PERSONAGEM DE DI FRANCO,DESCOBRE A VERDADE,PARA MUITOS NÃO FOI SURPRESA, POIS JAMAIS A CENSURA MILITAR, SEVERA DA ÉPOCA,DEIXARIA QUE O FINAL FOSSE DIFERENTE. TENHO O FILME NA MINHA VIDEOTECA, O QUAL JÁ VI ALGUMAS VEZES COM PESSOAS INTERESSADAS NESSA OBRA (ARTISTAS E HISTORIADORES)TRATANDO-SE DE UMA PRODUÇÃO CLASSE A, ONDE TINHA AS BELAS MARLENE FRANÇA E MARCIA MARIA E O GRANDE JOFRE SOARES, MAS O FILME FUNCIONA COMO VEÍCULO PARA O CARISMÁTICO FRANCISCO DI FRANCO, O MAIOR GALÃ DO CINEMA NACIONAL DOS ANOS 70, HOJE INJUSTAMENTE ESQUECIDO, COMO TANTOS NESSE BRASIL SEM HISTÓRIA E SEM MEMÓRIA.

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  5. Uau, que bom que as discussões voltaram ao blog; lógico que graças a eu ter voltado a escrever para o blog, hehehe... Vou tentar manter uma regularidade minimamente aceitável por aqui...

    Gostei dos comentários do Diógenes e as observações pertinentes do Jaime. É sempre bom quando surgem discussões para acabar com desinformações ou desconhecimento.

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  6. Mas Jaime, se no final o cara se surpreende, ele imaginava que era um garoto. Não? A idéia então é o que o Diogenes disse.

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  7. Que bom o nosso Cine Monstro voltou às suas "exibições",rsrsrsrsrs... Carlos, adorei a postagem das revistas da Hammer. Você sabe que eu já havia dito que havia baixado todas e o quanto havia adorado o trabalho da maioria dos artistas de lá e das adaptações dos filmes. Porém, concordo com suas palavras a respeito da falta de informação e erros de grafia nos textos que você citou. Afinal, nem todos se dão ao luxo de fazer o que você faz: pesquisar e estudar o assunto antes de torná-lo público.

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  8. Rodrigo, Diógenes, Jaime e demais... Quando comentei o filme citado com minha mulher, ela respondeu: "Mas se o cara acha que é um menino o tempo todo, não muda nada, continua sendo um romance homossexual". Pois é, também acho que esse final não muda nada, apenas oferece uma desculpa (esfarrapada) para se driblar a censura. Imagino (e isso é um chute, admito, pois não vi o filme) que o cara passe por algum tipo de conflito por sentir atração pelo tal engraxate, e essa situação só deve se amenizar no final. O que penso é que se o cineasta queria fazer um filme sobre romance homossexual e só não o fez porque a censura não permitiria, sinceramente, acho que não deveria fazer filme algum; seria melhor desistir do projeto do que comprometer a integridde ao decidir contar OUTRA história.

    Recentemente descobri num blog um filme (se não me engano, inglês ou francês), bem antigo, talvez até mesmo da década de 30 (espero não estar exagerando), que descrevia o romance entre um homem adulto e um rapaz adolescente. Sem meias palavras. Infelizmente, não guardei as informações, até porque o tema não me interessa, mas isso sim me pareceu um filme ousado e sem dissimulação.

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  9. Bem, já que o assunto é esse vou dar meu pitaco: também achei por aí na net um blog (que só não vou citar, pois não me lembro e minha memória vive me pregando peças)que tinha um download de um filme alemão homossexual dos anos 30. E no texto dizia que naquela época tinha uma ativa filmografia gay por aquelas bandas! Não é preciso ser gênio para deduzir que a coisa toda foi efêmera depois que um cara de bigodinho tomou o poder por lá e tudo foi varrido para baixo do tapete. Bem, infelizmente no momento não tenho mais informações quanto a isso, mas se eu achar (e alguém se interessar) coloco o endereço por aqui...

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  10. Oi, Blob! Sim, realmente, eu esbarrei nessas informações sobre o cinema homossexual alemão enquanto pesquisava os filmes do período mudo, em especial o "Anders als die Andern", de 1919, dirigido pelo Richard Oswald e estrelado pelo Conrad Veidt.

    Em resumo, não tem como ser pioneiro quando os alemães doidos dos primórdios do cinema já inventavam tudo que podia ser inventado!

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  11. E aí Primati, agora tu me surpreendeu com essa, não sabia que até o Conrad Veidt tinha se metido nisso!!

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