CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

sábado, 31 de julho de 2010

Fantaspoa 2010: premiação

   Tentei, eu juro. Queria mesmo fazer uma postagem com impressões finais sobre o VI Fantaspoa, mas ando tão sem tempo que não consigo sequer escrever de maneira coerente uma notinha breve. Resumindo a aventura: saí de Porto Alegre com a impressão de que o festival foi praticamente perfeito, dinâmico, diversificado e repleto de pontos altos. Eu é que tenho que me organizar melhor para aproveitar melhor o tempo na próxima edição.
   Listo abaixo os premiados deste ano (se é que alguém ainda não viu isso em algum lugar...). Na condição de representar metade do júri, obviamente só posso concordar com os escolhidos (meu parceiro de crime foi o crítico André Kleinert, do blog Anti-Dicas de Cinema). Porém, quero fazer algumas considerações. Meu único arrependimento é não ter insistido mais para que A Casa do Demônio ficasse com algum prêmio. Gosto demais do filme e de todo o seu clima oitentista e queria recompensá-lo com um prêmio de direção para Ti West, que conduz a obra com maestria, ou de atriz para a protagonista Jocelin Donahue. O amigo Leandro Caraça não perdoou a decisão final e considerou “um disparate” o filme sair do festival sem ser premiado... Tenho que discordar do termo ‘disparate’, pois acho que todos os prêmios foram merecidos, mas o filme de fato merecia algo mais.
   Também quero justificar a menção honrosa para Amargo, sugerida pelo André e com a qual prontamente concordei. O filme estava na minha lista prévia para a categoria de direção, mas francamente não sei precisar o quanto do seu deslumbrante resultado final deve ser creditado ao casal de diretores Hélène Cattet e Bruno Forzani e o quanto é resultado da brilhante montagem, da fotografia onírica e o clima surreal com referências a Buñuel e a inúmeros gialli clássicos. O importante, na minha opinião, foi não deixar o filme passar despercebido.

Júri Oficial

Filme: Vida e Morte de uma Gangue Pornô, de Mladen Djordjevic
Direção: Eli Craig, de Tucker & Dale Enfrentam o Mal
Ator: Peter Marshall, de O Cavaleiro
Atriz: Olga Fedori, de Mamãe & Papai
Roteiro: Konstantin Lopushansky e Vyacheslav Rybakov, de Os Cisnes Feios
Efeitos Especiais: Reyes Abades, de O Legado Valdemar
 
Menções Honrosas:
   Produção de Baixo Orçamento: Recortadas, de Sebastián De Caro
   Banho de Sangue: Massacre Esta Noite, de Ramiro García Bogliano e Adrián García Bogliano
   Rainha do Grito: Julie Estelle, de Macabro
   Contribuição Artística: Amargo, de Hélène Cattet e Bruno Forzani

Longa Animação: Uma Noite na Cidade, de Jan Balej

Curta-Metragem Nacional Ação: Mapa-Múndi, de Pedro Zimmermann
Curta-Metragem Nacional Animação: O Jumento Santo, de Léo D. e William Paiva
Curta-Metragem Internacional Ação: El Nunca lo Haría, de Anartz Zuazua
Curta-Metragem Internacional Animação: Alma, de Rodrigo Blaas

Prêmio pela Carreira: Luigi Cozzi

Júri Popular

Filme: Eu Vendo os Mortos, de Glenn McQuaid
Curta-Metragem Nacional Ação: Animal Menor, de Paulo Harres e Marcos Contreras
Curta-Metragem Nacional Animação: Anjos no Meio da Praça, de Alê Camargo e Camila Carrossine
Curta-Metragem Internacional Ação: Cabuleros, de Damian Slipoi
Curta-Metragem Internacional Animação: Le Petit Dragon, de Bruno Collet

   Por último, para compensar minha indisponibilidade de tempo para escrever melhor sobre o evento, recomendo a todos que confiram o que escreveram alguns participantes e espectadores do Fantaspoa. Felipe M. Guerra deixou suas impressões sobre os filmes que viu no festival em seu blog Filmes para Doidos. Blob fez o mesmo em seu blog e Leandro Caraça postou suas notas aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Foi também no blog do Leandro que fiquei sabendo das lamentáveis mortes de Harvey Pekar e Vonetta McGee; o primeiro, um autêntico gênio outsider dos quadrinhos; a segunda, uma musa inesquecível.

sábado, 24 de julho de 2010

La Soufrière (1977)


   Minha formação como cinéfilo, depois de passar pelos obrigatórios clássicos hollywoodianos das madrugadas da Globo, aconteceu fuçando as prateleiras de ‘cinema de arte’ das poucas locadoras decentes de minha cidade, em Jundiaí, no interior de São Paulo. Durante um par de anos, convivi diariamente com nomes como Bergman, Saura, Szabó, Wajda, Fellini, Godard, Fassbinder, Reggio, Stelling, Schroeder, Almodóvar, Kurosawa. Foi um aprendizado intenso, valioso e solitário; sem ter com quem discutir tais descobertas, eu tentava extrair o melhor de cada cineasta sem procurar uma identificação mais pessoal com suas obras. Somente muitos anos depois, reavaliando essa minha fase ‘cinema de arte’, percebi que, com raras exceções, tenho pouquíssima, às vezes nenhuma, identificação com muitos desses cineastas, ainda que eu os reconheça como nomes inestimáveis da sétima arte. A exceção à regra é Werner Herzog.
   Descobri Herzog, se não me engano, por meio de Aguirre, a Cólera dos Deuses, um filme que muito provavelmente assisti achando que era uma espécie de Indiana Jones peruano. A experiência foi, para dizer o mínimo, um daqueles episódios que moldam nosso caráter de maneira permanente. Passei a ser outro depois de Aguirre; passei a acreditar no cinema como algo relevante e pertinente. Algo que não se divide entre Spielberg, Lucas, Zemeckis e ‘os outros’. Descobri cinema como ‘arte’, e - mais importante - como uma arte viva e capaz de se comunicar comigo. E vice-versa.
   Nos meses seguintes, assisti a todos os filmes de Herzog nos quais fui capaz de meter a mão: O Enigma de Kaspar Hauser, Coração de Cristal, Stroszek, Nosferatu, o Vampiro da Noite, Woyzeck, Fitzcarraldo, culminando com os dois que considero os mais fracos de sua filmografia até então, Onde Sonham as Formigas Verdes e Cobra Verde (esse eu tive que convencer o dono da locadora a comprar a fita para eu poder ver!). Até hoje, meu parâmetro de avaliação do caráter de uma pessoa é a maneira como ela reage diante de Kaspar Hauser.
   Entretanto, somente depois de velho descobri o que me fascina tanto em Herzog: sua capacidade poética de retratar a vida dos excluídos, os malditos, os fracassados. Todos os seus filmes são narrativas amarguradas sobre desgraçados que sequer conseguem justificar a própria existência. Não existe a esperança de elevação espiritual ou adequação social aos personagens de Herzog. Incompreensão, vergonha, humilhação, angústia e desespero são sentimentos compartilhados por Kaspar Hauser, Stroszek, Woyzeck e outros ‘herzoguianos’; mesmo seu Nosferatu é o retrato patético de um maldito, de um infeliz condenado à vida eterna, à negação do amor e ao infortúnio de semear a morte por onde passa.
   O meu ‘período herzoguiano’ se completou quando eu e um amigo fomos a algumas sessões gratuitas de uma retrospectiva do cineasta no Instituto Goethe, em São Paulo, lá por volta de 1990. Foi quando pude ver seus primeiros longas-metragens, os impactantes e abilolados Também os Anões Começaram Pequenos (1970) e Fata Morgana (1971), este último uma espécie de documentário. Mais experiências de retorcer o cérebro. Eu tinha uns 20 anos. Então veio o documentário de curta-metragem La Soufrière: Warten auf eine unausweichliche Katastrophe (1977), sobre uma iminente tragédia na ilha caribenha de Guadeloupe, prestes a ser devastada por uma erupção vulcânica. A situação apresentada é que a atividade sísmica do vulcâo La Soufrière indica que ele explodirá em breve. Herzog e seus operadores de câmera chegam à ilha para registrar a catástrofe e encontram a cidade completamente deserta, exceto por alguns animais famintos e um ou outro morador que não quis fugir do local. A narração explica que se o vulcão entrar em erupção, toda a ilha será coberta pela lava e todos morrerão. O documentário somente existe porque o desastre não ocorreu.
   Hoje enxergo La Soufrière como uma reflexão do significado do cinema e da própria atividade fílmica, sobre o poder caótico da criação e o sacrifício pela arte. Sobre o quanto não somos donos de nossos destinos, por mais que queiramos acreditar na capacidade de decidir qual rumo tomar. No final das contas, este ‘documentário sobre nada’ é quase que um Cannibal Holocaust às avessas; sua força comunicativa reside justamente naquilo que não acontece, no que não é forjado como ‘documental’, em algo que possibilita a vida pela recusa de se mostrar. Poesia tipicamente ‘herzoguiana’, é também o retrato de um fracasso, de uma frustração íntima e coletiva, da antecipação de um clímax que jamais se concretiza.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Turist Ömer Uzay Yolunda (1973)


   Dando continuidade à postagem anterior, temos aqui mais uma bizarrice trekker para fazer a alegria dos caçadores de raridades, um dos mais celebrados filmes ruins de todos os tempos. Trata-se de Turist Ömer Uzay Yolunda, mais conhecido como simplesmente Turkish Star Trek, ou a versão turca de Jornadas nas Estrelas. Realizado em 1973, o filme faz parte de uma série de comédias protagonizadas pelo turista Ömer, interpretado por Sadri Alisik, que sempre se mete nas mais absurdas aventuras. O personagem apareceu em pelo menos oito filmes entre 1964 e 73, sempre vivido por Alisik. O que torna o filme ainda mais interessante aos aficionados por Star Trek é o fato de o filme descaradamente reaproveitar cenas da própria série de televisão. Trekkers e curiosos em geral, assistam por sua própria conta a risco. O filme tem legendas em inglês.

Star Wreck: In the Pirkinning (2005)


   As sessões-surpresa já se tornaram tradição no Fantaspoa e quase sempre atraem um grande número de curiosos e cinéfilos em geral que não querem correr o risco de perder alguma preciosidade fílmica que dificilmente terão outra oportunidade de ver na tela grande. Claro que nem sempre os filmes são tão preciosos assim, mas a brincadeira é uma espécie de equivalente cinéfilo do Kinder Ovo: mesmo que o brinquedo não seja grande coisa, pelo menos é divertido de alguma maneira.
   A sessão-surpresa das 19 horas do último domingo, dia 11, touxe a exótica produção amadora Star Wreck: In the Pirkinning, uma paródia finlandesa de Star Trek. O filme entrou para a história do cinema finlandês por ser o recordista de downloads na internet, com cerca de meio milhão de usuários baixando o longa-metragem. Confesso que achei pouquíssima graça nas piadas do filme. É um estilo de comédia abestalhada demais para o meu gosto. Ao final da sessão, ouvi comentários comparando o tipo de humor de Star Wreck com Zorra Total e Hermes e Renato. Isso basicamente encerra a discussão, na minha opinião. Mesmo assim, os efeitos digitais das naves são notáveis, melhor do que muita coisa que a gente vê em filmes profissionais hoje em dia.
   Para a satisfação de trekkers em geral, esta postagem traz o filme na íntegra, com legendas em inglês, para que possam conferir mais um extravagante apócrifo do universo de Star Trek.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Luigi Cozzi apresenta Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza no Fantaspoa


   A última noite de Luigi Cozzi no Fantaspoa, como já era de se esperar, foi outro momento memorável do festival, fechando de maneira merecida o ciclo dedicado ao veterano cineasta italiano. A sessão novamente teve lotação total da sala, desta vez com congestionamento até nos degraus, afinal o filme selecionado foi um giallo clássico dirigido por Dario Argento, o raríssimo Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, de 1971, que tem roteiro co-escrito por Cozzi. O filme em si é considerado o mais fraco da chamada ‘trilogia dos bichos’ de Argento (completada por O Pássaro das Plumas de Cristal e O Gato de Nove Caudas), mas ele me pareceu bem melhor na tela grande do que quando o vi pela primeira vez, num tosco DVD caseiro com uma cópia péssima que circulou entre colecionadores durante muitos anos.
   Também foi emocionante acompanhar a entrega, por parte da direção do Fantaspoa, de um merecido ‘prêmio pela carreira’ a Luigi Cozzi, que levou para casa uma placa em homenagem aos anos dedicados ao cinema fantástico, abraçando os gêneros da ficção científica, fantasia, suspense e horror. Após a sessão, Cozzi respondeu a mais uma bateria de perguntas da platéia, desta vez concentrando-se mais em sua parceria com Dario Argento. O convidado de honra contou inúmeras anedotas dos bastidores do filme e não fugiu sequer da pergunta sobre o que acha das produções recentes do colega Argento. Felipe M. Guerra, curador da mostra e cicerone de Cozzi, foi preciso ao traduzir a resposta: “Como todo mundo, Luigi prefere os filmes mais antigos do Argento”.
   Perguntado sobre se prefere escrever ou dirigir, Cozzi tampouco teve dúvidas: “O roteirista é um solitário e tem o mundo inteiro ao seu dispor. O diretor tem que lidar com dezenas de pessoas e precisa convencê-las a fazer exatamente o que ele quer. Prefiro muito mais ficar sozinho com minha máquina de escrever ou meu computador”. Falando especificamente sobre a construção do roteiro, Cozzi revelou que primeiro ele e Dario bolaram as cenas de morte e só depois criaram os personagens e a trama em si. Questionado sobre possíveis referências hitchcockianas na obra, o roteirista reconheceu que Alfred Hitchcock é uma influência constante nesse gênero, mas que a inspiração de fato veio do livro Black Alibi, de Cornell Woolrich.


   Cozzi também falou sobre o processo criativo da trilha sonora, do qual participou ativamente, e os problemas que ele e Argento tiveram com o compositor Ennio Morricone, o qual discordava do rumo escolhido e acabou brigando seriamente com o diretor. Os dois só voltariam a se falar 25 anos depois. Foi idéia de Cozzi contratar uma banda de rock progressivo para gravar o tema de abertura e o grupo escolhido foi o Deep Purple, que na época estava no início de sua fase mais celebrada. A banda chegou a gravar a música tocada nos créditos, mas os integrantes não puderam aparecer no filme em si devido a restrições burocráticas da lei italiana, que exige que a maioria dos técnicos e artistas que participam de um filme sejam italianos. O vídeo postado aqui mostra a abertura do filme, com a banda tocando no estúdio, e se meus ouvidos não me traem, acredito que a gravação original do Deep Purple foi pelo menos parcialmente utilizada: o teclado principal não soa muito parecido com o de Jon Lord, mas acredito que há uma base com outro teclado. A guitarra não parece a de Ritchie Blackmore (cadê a alavanca?), mas os gritos parecem coisa do Ian Gillan. No final das contas, é uma bela trívia roqueira para enriquecer este giallo clássico. Quem quiser conferir o restante do filme sem levantar da cadeira, aqui estão as partes 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
 
Um papo familiar

   A sessão foi tão concorrida - e se espalhou até altas horas, com o pessoal do cinema literalmente nos colocando para fora - que não pude fazer as perguntas que tinha em mente, apesar de estar sempre de dedo levantado, pedindo a vez. Mas Cozzi foi simpático como sempre e, ao me ver na saída da sala, veio em minha direção e brincou: “Não teve perguntas dessa vez?”. Disse então que ia perguntar sobre o projeto do Frankenstein nazista que ele e Argento tentaram desenvolver na década de 70, e se é verdade que Argento costuma distorcer o roteiro escrito ao ponto de tornar algo que no papel é plausível e verossímil em algo completamente incompreendível nas telas, como Dardano Sacchetti certa vez comentou. Cozzi discordou veementemente e afirmou que tudo que ele escreveu foi seguido à risca por Argento, o que me deixou surpreso.
   Conversamos também sobre a suposta misoginia de Dario Argento e se ele tem idéia do porque de os assassinos na maioria de seus filmes serem mulheres. Cozzi rebateu quando comentei que Asia Argento, filha de Dario, certa vez disse que o pai dela tem “algum problema” com a mãe dele; segundo Cozzi, Dario ama a mãe, nunca teve problemas com ela. “É uma família problemática, estão sempre brigando, é melhor manter distância”, recomendou; “o problema da Asia é que ela fala demais”.
   Não acho exagero dizer que Luigi Cozzi talvez tenha sido a personalidade mais agradável já trazida a qualquer das edições do Fantaspoa. Inteligente, articulado, simpático e acessível, Cozzi certamente não é um autor celebrado por ter realizado grandes obras no cinema fantástico (apesar de nenhum dos seus filmes sofrer do mal de serem chatos; muito pelo contrário, todos são divertidíssimos), mas isso é plenamente compensado por ele ser um grande aficionado pelo gênero - em especial a ficção científica clássica - e possuir um vasto conhecimento sobre o tema. Cozzi também escreve sobre cinema de gênero, o que faz com que conversar com ele sobre cinema seja muito mais do que ter que apelar para a bajulação sem propósito.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Zombiemania (2008)


   Um dos melhores documentários do Fantaspoa deste ano, Zombiemania analisa a cada vez mais crescente onda de filmes, livros, HQs e jogos de zumbi, desde a origem do mito até suas recriações no cinema, incluindo o pioneiro White Zombie e sua transformação a partir de Night of the Living Dead. O documentário traz depoimentos de gente como George A. Romero, o pai do zumbi moderno, o escritor Max Brooks, autor do best-seller Zombie Survival Guide, a jornalista Jovanka Vuckovich, editora da revista Rue Morgue, do escritor e pesquisador Wade Davis, autor de The Serpent and the Rainbow, a cineasta Eliza Kephart, diretora do filme independente Graveyard Alive, e ainda os mestres dos efeitos especiais e de maquiagem Tom Savini e Greg Nicotero.
   A versão do documentário disponibilizada aqui é bastante diferente da exibida no Fantaspoa: esta é a versão para a TV, com cerca de 47 minutos, enquanto que a versão do festival tem quase uma hora de duração, com montagem completamente diferente. Porém, não se trata apenas de uma versão com cenas adicionais: alguns depoimentos nesta edição curta aparecem de maneira diferente ou reduzida na cópia estendida; outros são exclusivos desta versão. Seja como for, é diversão e informação garantida para zumbimaníacos em geral, especialmente quem  não teve a oportunidade de ver o documentário na tela grande.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Luigi Cozzi apresenta Black Cat e Paganini Horror no Fantaspoa


   O horror tomou conta do Cine Bancários na terceira noite da mostra Luigi Cozzi no Fantaspoa. O programa duplo desta quinta-feira foi formado pelo raríssimo The Black Cat (O Gato Negro no programa oficial do festival, mas exibido a partir de uma cópia em VHS intitulada Filmagem Macabra) e o divertido Paganini Horror. Foram os dois últimos filmes dirigidos por Luigi Cozzi e ainda que não sejam o epitáfio digno de uma carreira que durou duas décadas, são obras das quais o veterano cineasta italiano pode se orgulhar tranquilamente.
   The Black Cat merece lugar de destaque na filmografia de Cozzi por ser uma espécie de conclusão não-oficial da trilogia das ‘Três Mães’ de Dario Argento, precedida por Suspiria (1977) e Inferno (1980), e só concluída em 2007 com o desastroso La Terza Madre (lançado no Brasil sob o insuspeito título de O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas). Na conversa com a platéia ao final da sessão, Luigi Cozzi explicou que o filme surgiu de uma idéia de Daria Nicolodi, na época esposa de Argento e roteirista de Suspiria, que estava interessada em finalmente realizar a parte final da trilogia. Nicolodi a princípio seria a protagonista do filme, que deveria se chamar De Profundis (em inglês, From the Depths), mas Cozzi mexeu tanto no roteiro que ela acabou se desinteressando pelo filme.


   O que a princípio era uma sequência convencional da saga das três bruxas se tornou um filme sobre os próprios bastidores dessa produção, contando a história de um diretor e um roteirista que convencem um produtor a investir no filme, enquanto suas respectivas esposas brigam pelo papel principal, o da maligna bruxa Levana. Cozzi disse que não se sentia à vontade mexendo no material de Dario Argento (“e ele provavelmente me mataria”, brincou).
   E onde entra o gato preto nessa história toda? Pois é, a princípio nem deveria entrar, mas Cozzi teve que enfiar um maldito felino na trama, num arremedo muito pouco convincente, para contentar um distribuidor norte-americano que havia anunciado o título The Black Cat, baseado no conto de Edgar Allan Poe, e precisava de um filme que correspondesse ao prometido. Desta maneira, De Profundis se transformou em Edgar Allan Poe’s The Black Cat, com a desculpa de que “todo gato preto é uma bruxa disfarçada”.


   O filme é uma bagunça como a maioria dos filmes oitentistas de Cozzi, com um roteiro que abusa do surrealismo (o diretor defende a idéia de que os dois filmes da noite são uma mistura de horror e ficção científica), mas não deixa de ter momentos interessantes; além de esbanjar estilo, numa tentativa de emular a atmosfera tanto de Argento quanto de Bava, evocados na fotografia com o uso de filtros azuis e luzes com tons intensos de vermelho e verde.
   Cozzi atribui o rico conteúdo histórico do roteiro ao vasto conhecimento de Daria Nicolodi em literatura sobrenatural, citando De Profundis (1857), do poeta francês Charles Baudelaire (transformado em ‘Boldlair’ ou coisa parecida na legenda do VHS nacional) e indo além, referindo-se ao livro Suspiria de Profundis (1845), de Thomas De Quincey, como a origem de tudo.


   O filme acaba deixando de lado essa trama toda acerca da bruxa Levana e se concentra nos percalços que envolvem uma produção do gênero, um mesquinho jogo de vaidades no qual todo mundo tem que ceder um pouco em benefício do filme. A obra é imperfeita e longe de estar livre de defeitos, mas não deixa de ser interessante a maneira como Cozzi trata a rivalidade entre as atrizes e o que elas são capazes de fazer para ficar com o papel. O final, com moral de conto-de-fadas, pode ser interpretado como o processo de preparação de um artista que se deixa ser engolido pela obra, criando ao seu redor uma espécie de blindagem emocional que cria uma ilusão de vida ideal, fazendo com que sua grande rival se torne sua melhor amiga e o marido (que estava prestes a se divorciar dela) seja o alicerce da família feliz.


   A seguir, novamente com sala lotada e gente sentada nos degraus, foi exibido Paganini Horror, que pelo menos cumpriu bem sua função de divertir a platéia, que não se intimidou em rir nas partes mais absurdas (a cena do fungo mortal oriundo da madeira usada na fabricação dos violinos Stradivarius é do tipo ‘ver pra crer’). O filme é sobre uma banda de pop rock formada por três garotas e um baterista que, em busca do sucesso garantido, adquire a partitura de uma composição inédita de Niccolò Paganini, o violinista italiano que dizem ter vendido a alma ao Diabo.
   A esperta produtora da banda, ao saber da novidade, tem a idéia de gravar um videoclipe numa mansão sinistra para promover a canção, afinal nunca ninguém fez nada parecido antes (“exceto Michael Jackson com a música ‘Thriller’ e seu sensacional videoclipe!”, fazem questão da salientar, num dos diálogos mais impagáveis do filme).
   Quando chegam à tal mansão, cuja dona é ninguém menos do que Daria Nicolodi, não demora para que o fantasma do violinista maldito comece a despachar os intrusos com requintes cruéis do melhor estilo slasher (muitas cenas nessa mesma linha tiveram que ser eliminadas quando o orçamento foi drasticamente reduzido durante a produção).


   Entre as atrações de Paganini Horror estão as canções interpretadas pela banda de garotas, as quais Luigi Cozzi admite não serem de seu agrado, “mas foi o que pudemos fazer com o curto orçamento”, defende o diretor. O detalhe problemático é que as duas principais canções são plágios escandalosos de músicas de sucesso: uma é “You Give Love A Bad Name”, do Bon Jovi, cuspida e escarrada; a outra é a cara e o focinho de “Twilight”, do Electric Light Orchestra (as duas podem ser devidamente conferidas nos vídeos acima).
   No bate-papo ao final da sessão, Cozzi falou sobre o prazer de ter trabalhado com Donald Pleasence neste filme (no qual ele interpreta o próprio Diabo) e citou como exemplo contrário as extravagâncias que teve que aturar de Klaus Kinski durante as filmagens do desastroso Nosferatu em Veneza, no qual fez pouco mais do que filmar o ator caminhando a esmo sob a bela luz do amanhecer, simplesmente porque era tudo que Kinski tinha vontade de fazer.
   Cozzi ainda falou sobre sua paixão pelo cinema, que surgiu quando ele viu o clássico Vinte Mil Léguas Submarinas (1954), da Disney, ainda quando criança, o fim do cinema italiano, engolido pela televisão e sua política que visa exclusivamente o lucro, e o prazer de trabalhar nos Estados Unidos em Dois Olhos Satânicos, onde teve o apoio de uma equipe técnica jovem e empolgada, em contraste aos velhotes desinteressados que normalmente encontrava na Itália.
   Ao final da sessão, finalmente decidi pegar um autógrafo com Luigi Cozzi. Soletrei meu nome a ele dizendo que era “igual Carlo Ponti, mas com ‘s’ no final”. Ao ver a Bia ao meu lado, também a postos para pegar um suvenir, Cozzi comentou, com um largo sorriso: “Então ela só pode ser a Sophia Loren!”. Tem como alguém ser mais simpático?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Luigi Cozzi apresenta Contamination e Starcrash no Fantaspoa

   O segundo dia da mostra Luigi Cozzi começou mais cedo, com entrevistas marcadas para a TVE para uma reportagem sobre o Fantaspoa que vai ao ar, se não me engano, na próxima terça-feira. Eu planejava ver então os dois episódios da série de TV La Porta sul Buio, programados para às 17 horas, mas acabei trocando a sessão de cinema pelo convite de Luigi Cozzi e comitiva - ou seja, Felipe M. Guerra - para ver os últimos minutos do jogo entre Alemanha e Espanha num restaurante próximo. Cozzi comemorou o gol espanhol e festejou a “final inédita” da Copa, com Espanha enfrentando a Holanda no domingo. Aproveitei a deixa e contei a Cozzi que em 2002, durante a produção da coleção de DVDs do Zé do Caixão, o Mojica sempre chegava atrasado às gravações das trilhas de comentário em áudio porque ficava em casa vendo os jogos da Copa do Mundo.
   Também tive que explicar a barra-pesada do caso do goleiro Bruno, do Flamengo, que naquele momento estava sendo preso acusado de assassinato, pois a TV estava ligada na Band, com aquela baixaria toda do Datena no Brasil Urgente. Pobre Luigi, não merecia isso...


   A sessão seguinte foi Alien, o Monstro Assassino (1980), praticamente lotada e com a companhia do recém-chegado Leandro Caraça, e ainda Laura Cánepa, Carlos Thomaz Albornoz, Blob e toda a galera mais legal dessas bandas, como o Cristian Verardi e o Marcelo Severo. O principal filme da noite, Starcrash, exibido às 21 horas, lotou de vez o Cine Bancários e teve muita gente sentando pelas escadas.
   Foi ótimo rever Alien, o Monstro Assassino, do qual eu só me lembrava de algumas cenas - basicamente, os ovos explodindo e o sangue jorrando. Também lembrava que tinha alguma coisa relacionada com café colombiano, mas fiquei surpreso ao constatar o quanto o filme bebe na fonte da fase áurea da ficção científica, paixão confessa de Luigi Cozzi. A estrutura do roteiro me lembrou demais o clássico The Beast from 20,000 Fathoms (O Monstro do Mar), de 1953, o primeiro grande filme com efeitos visuais em stop-motion de Ray Harryhausen. Cozzi explicou que seu trabalho, basicamente, era convencer os produtores que seu filme era na toada de Alien, o 8º Passageiro e que, portanto, ia render uma nota preta nas bilheterias. Depois disso, ele ficava à vontade para fazer o filme que queria. Deliciosamente antiquado, sobram na obra de Cozzi citações explícitas a filmes como O Mundo em Perigo (1954), Usina de Monstros (1957) e a produção japonesa The H-Man (1958).
   O bate-papo com a platéia após a exibição de Starcrash durou mais de uma hora e foi recheada de anedotas sobre como funcionavam os bastidores do cinema comercial italiano na época. Cozzi contou, por exemplo, que o projeto que resultou em Alien, o Monstro Assassino começou como uma imitação de Síndrome da China e teve influência do êxito de bilheteria do Zombi 2, de Lucio Fulci, que estava rendendo muita grana aos produtores naquele momento.


   O cineasta detalhou o cronograma de produção de Starcrash, segundo ele próprio, a primeira imitação de Star Wars a ser produzida, com as filmagens iniciando em meados de setembro de 1977. O filme chegou às telas no início de 1979. Falando sobre o clima infanto-juvenil de Starcrash, Cozzi comentou que quis fazer um filme caricatural, inspirado nas histórias em quadrinhos do Mickey, especialmente suas aventuras detetivescas. As aparições do Conde Zarth Arn, o vilão interpretado por Joe Spinell, com suas gargalhadas malignas, arrancou risos da platéia, que entrou na brincadeira e parece ter curtido bastante a ingênua saga espacial de Cozzi.
   O diretor também contou que o robô Elle foi interpretado pelo então marido da estrela Caroline Munro, que encheu o saco dos produtores até conseguir um papel no filme. Durante as filmagens, o sujeito continuou atormentando o diretor com detalhes irrelevantes e, enciumado com o clima entre sua esposa e o co-astro David Hasselhoff, acabou convencendo Cozzi a encerrar o filme sem o esperado beijo entre os heróis, que apenas se abraçam amigavelmente ao fim da aventura.
   Falastrão e acessível, Cozzi comentou que seu filme também é uma homenagem a Ray Harryhausen (os robôs malignos que são chamados de Golems no filme são óbvias referências aos esqueletos espadachins dos filmes de fantasia de Harryhausen), citou os diretores John Ford, Stanley Kubrick e Jack Arnold como suas grandes influências e comentou a amizade com outros grandes nomes do cinema fantástico italiano, como Riccardo Freda, Mario Bava, Antonio Margheriti e, claro, Dario Argento.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Luigi Cozzi apresenta Hércules no Fantaspoa


   O veterano cineasta italiano Luigi Cozzi, o principal convidado da sexta edição do Fantaspoa, apresentou na noite de ontem seus épicos de fantasia Hércules e As Aventuras de Hércules no Cine Bancários, no centro de Porto Alegre. Carismático e sempre disposto a conversar com a platéia, Cozzi entra para a galeria das figuras mais simpáticas a participar do festival mais importante deste gênero realizado no Brasil.
   Os filmes são um pout-pourri de diversas produções de aventura da época, como Superman, o Filme, Conan, o Bárbaro e Fúria de Titãs, do qual pega emprestado a idéia dos mesquinhos deuses mitológicos manipulando o destino dos personagens. No segundo filme, a citação a Fúria de Titãs fica ainda mais explícita na cena da Medusa que vê a própria imagem refletida no escudo do herói e se transforma em pedra. Cozzi reconheceu a influência da megaprodução Superman de 1978 no estilo do seu filme e revelou que convenceu os produtores israelenses Menahem Golam e Yoram Globus a investir no projeto depois que o definiu como “um Superman do passado”.
   Aos espectadores menos preparados, Hércules (1983) é simplesmente incompreensível. Eu mesmo não entendi nada. Sua atmosfera de fantasia misturado a ficção científica – não muito diferente dos exemplares infanto-juvenis de Godzilla, por exemplo, outra paixão confessa de Cozzi – é encantadora, repleta de cenas com efeitos especiais charmosos e artesanais, com o indefectível sabor oitentista. O enredo, porém, é complicado demais, com os caprichos dos deuses, cada um querendo passar a perna no outro, tornando tudo muito confuso; não dá para saber quem está contra e quem está a favor de Hércules, pobre coitado.
   O herói interpretado por Lou Ferrigno, famoso pelo papel do Incrível Hulk na TV, é anunciado no início como o homem mais forte e inteligente do mundo. Forte ele até que pode ser, foi capaz inclusive de separar a Europa da África, dividindo os continentes. Mas chamá-lo de inteligente é exagerar na dose: Hércules é enganado por praticamente todo mundo que cruza seu caminho, e sempre surge alguém para lhe dar a idéia do que fazer a seguir. Outro contrasenso da trama é que todo mundo na história parece ter mais poderes do que Hércules: todos soltam raios, criam seres do nada e interferem na trama, enquanto que Hércules pode contar somente com seus músculos superdesenvolvidos e sua inesgotável ingenuidade.


   As Aventuras de Hércules (1985) dá continuidade à saga num estilo mais convencional, inspirado diretamente na mitologia grega (“tinha pouco tempo para escrever o roteiro, então fui a uma livraria e comprei um livro dessa grossura sobre os mitos gregos”, contou Cozzi), sem os elementos de ficção científica que tornaram tão peculiar o exemplar anterior. Ao beber diretamente na fonte, Cozzi realizou um filme mais sombrio e pessimista, porém também muito mais fácil de se compreender. Novamente temos deuses e semi-deuses caprichosos eternamente envolvidos em disputas de ego e vaidade, mas desta vez Hércules é mais útil e decisivo no desenrolar da trama. Seu objetivo também é mais claro: o musculoso herói deve recuperar os sete raios de Zeus, seu pai celestial, que foram roubados por um oponente e escondidos na barriga de sete monstros espalhados pela Terra.
   A conversa com Luigi Cozzi ao final da sessão, apesar da aparente timidez da platéia, encerrou em grande estilo a primeira noite com a retrospectiva da obra do cineasta italiano. Cozzi, ao lado de João Pedro Fleck e Felipe M. Guerra, curador da mostra, divertiu os presentes ao explicar em detalhes a origem do projeto, quando os homens poderosos da Cannon o chamaram às pressas para escrever um roteiro sobre Hércules em substituição ao ‘piece of shit’ proposto por Claudio Fragasso e Bruno Mattei. Cozzi então lhes ofereceu uma abordagem infanto-juvenil com elementos de ficção científica, com monstros mecânicos e máquinas metálicas, para a satisfação de Golam-Globus. O filme foi lançado diretamente no mercado estadunidense (“os italianos não viam sentido em fazer um Hércules vinte anos depois de esse tipo de filme ter saído de moda”, explicou Cozzi), onde faturou cerca de U$ 40 milhões, para a felicidade dos investidores.
   Outro momento divertido foi quando Cozzi revelou que As Aventuras de Hércules surgiu meio que casualmente, quando os produtores desistiram da produção Os Sete Gladiadores, que estava nas mãos de Bruno Mattei, e decidiram fazer um segundo filme com o herói grego. O detalhe é que Lou Ferrigno, o protagonista, não podia saber que estava filmando cenas de um segundo Hércules, e não do filme combinado sobre gladiadores. Por isso as cenas finais de As Aventuras de Hércules apresentam versões animadas do ator, feitas em rotoscopia e transformadas por meio de efeitos visuais. À certa altura, a versão animada de Hércules se transforma em King Kong e ele luta com um Godzilla feito só de luz.
   Luigi Cozzi admitiu também que copiou o ‘Monstro do Id’ do clássico de ficção científica Planeta Proibido (1956) por meio do processo de rotoscopia: “eu tinha uma cópia desse filme, que é um dos meus preferidos, e mandei o desenhista copiar toda a animação, cena a cena, pois o filme foi feito às pressas, não tínhamos tempo para nada”, revelou o cineasta. Luigi Cozzi e seus Hércules fora de moda são a essência do cinema de exploração italiano, onde pouco se cria, tudo se transforma e a criatividade surge de onde menos se espera. Certa vez o ator David Warbeck definiu assim o talento de Lucio Fulci: “é a capacidade de transformar nada em alguma coisa”. E isso vale para a maioria dos cineastas do gênero fantástico italiano.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Jovem Tataravô (1936)


   A sessão de hoje do Fantaspoa promete ser um momento especial no festival, ao menos àqueles que compartilham do entusiasmo e interesse em tudo que cerca nosso tão pouco conhecido cinema de gênero. A exibição do filme O Jovem Tataravô, uma comédia musical produzida pela Cinédia em 1936, resgata um item raro de nossa filmografia, naquele que é considerado o primeiro longa-metragem brasileiro com elementos fantásticos. O filme será exibido às 19 horas no Cine Bancários, em Porto Alegre, na única atração do dia, e ao final eu e a Laura Cánepa iremos debatê-lo com os espectadores. A exibição é também uma espécie de trailer do curso O Horror no Cinema Brasileiro, que acontece nos dias 10 e 11 deste mês e apresentará um vasto panorama do gênero em nosso país, agora sem a concorrência dos horrores da seleção do Dunga, pois as aulas acontecem no final de semana das finais da Copa do Mundo (porém, terminam antes do início dos jogos, então ninguém vai ficar sem futebol!).


   Para ilustrar esta postagem, capturei a apresentação do filme realizada pela Zezé Motta no Canal Brasil. Também compilei alguns textos antigos sobre o filme, amostras de como a obra foi recebida na época, em críticas pitorescas e peculiares. Artigos recentes fazem abordagens mais históricas do filme, como o texto assinado por Ricardo Calil, disponível no site da Programadora Brasil, e principalmente o excelente e completíssimo ensaio da Laura publicado na revista eletrônica Carcasse, datado de setembro de 2006.

   “Num leilão, com uma caixa, Menezes arremata certo papel com certa oração poderosa (fazia voltar ao mundo o mais enterrado dos mortos). Organiza-se uma sessão, estabelecendo-se a corrente, invoca-se e zás: surge o tataravô de Menezes, o que logo mais, barbeado, penteado e metido em fatiotas bem lançadas, se mete a conquistas, cai numa farrinha e até a aviação se entrega! A audácia do jovem tataravô, que chegou ao cúmulo de enredar no amar sua própria bitataraneta, leva seu ‘inventor’ a recorrer à macumba para devolvê-lo ao nada. Consegue-o, para o alívio de todos, principalmente do noivo.” (Cine-Repórter, nº 125, 1936)
   “(...) bem conduzido e com diálogos, versos e ‘bolas’ muito felizes. Música: encantadora! Sem exceção de um só número de sua música, a partitura do filme é maravilhosa, destacando-se entre os números a canção final do cabaré. Gravação, sonora! A melhor que já se fez no Brasil e, diga-se (mas para dizer pouco), poderia ter ido aos Estados Unidos para voltar de lá com a classificação de perfeita. Impressões da platéia; muito boa. Desde o primeiro dia, até hoje, o público deu sempre gostosas gargalhadas e sempre nas mesmas ‘bolas’. Presencamos, realmente, em várias sessões, o público rindo a valer. O filme agradou inteiramente. Este agrado se justifica - boa música, bom som, bom enredo, artistas discretos, fotografia boa em geral.” (W.S., Imparcial, 1 de setembro de 1936)
   “O Jovem Tataravô, tal como está, na tela do Odeon, com os seus defeitos e virtures, é um filme nacional que se impõe. E, estando muito acima da mediocridade, é um trabalho que enche de justificado orgulho e patriotismo a qualquer fã brasileiro, que encontra, neste celulóide, o testemunho insofismável, indiscutível, de que o nosso cinema evoluiu com uma rapidez extraordinária. (...) Em matéria de fotografia e som, O Jovem Tataravô representa a ‘Autêntica Vitória da Cinédia’, pois ‘Ainda Não Vimos Nada Melhor’. A fotografia, principalmente, é de uma nitidez que surpreende. (...) Em primeiro plano coloco, pela naturalidade cinematográfica com que atuam, Darcy Cazarré, Lygia Sarmento e Carlos Frias, este o verdadeiro primeiro galã que o cinema brasileiro encontrou. (...) A direção de Luiz de Barros é bem apreciável. O argumento de Gilberto de Andrade é magnífico e esplêndido de comicidade. É fator seguro de êxito.” (Alfredo Sade, A Batalha, 16 de setembro de 1936)   “Um novo filme brasileiro e, tomado de um modo geral, na minha opinião, o melhor de quantos têm sido apresentados até agora. É, já, um trabalho que não envergonha, que pode ser visto, porque não desagrada. Há a distinguir nele três ‘motivos’: o que diz respeito à sua técnica material; o da sua interpretação e direção e o enredo. Quanto a sua feitura material, teçamos loas à Cinédia, pelo trabalho de seus estúdios. O filme é cem por cento bom em sua fotografia e gravação. O ambiente bem decorado, se bem com pouca variedade.” (Paulo Lavrador, A Nação, 17 de setembro de 1936)
   “(...) Mesmo sendo um filme de linha, despretensioso, embora de assunto fantástico, pode-se considerar O Jovem Tataravô um dos melhores filmes brasileiros que já vimos.  (...) A história é interessantíssima e sua adaptação agrada bastante. A direção de Luiz de Barros é também agradável. (...) É mais cinematográfico e agrada muito mais. Na interpretação gostosa de Cazarré (na tela, o mesmo artista sincero do palco e uma magnífica aquisição do cinema), Marcel Klass, Dulce Weytingh, Lygia Sarmento, Manoelino Teixeira e Manoel Rocha. (...) O Jovem Tataravô surpreende a muita gente.” (P.R., Correio da Noite, 17 de setembro de 1936)

sábado, 3 de julho de 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fantaspoa 2010


   Começa amanhã, dia 2, e segue até dia 18 de julho o VI Fantaspoa, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o maior e mais tradicional festival do gênero no Brasil. Repetindo a experiência do ano passado, participarei ativamente do evento, integrando o júri da mostra competitiva internacional - que este ano traz 34 longas de várias partes do mundo - e ministrando dois mini-cursos de cinema, os quais já comentei por aqui (mas nunca é demais fazer propaganda!). O curso O Horror no Cinema Brasileiro acontece dias 10 e 11, e na semana seguinte, nos dias 17 e 18, falarei sobre a Ficção Científica da Década de 1950: temor da bomba atômica e horrores da era nuclear, com a participação de Marcelo Severo, um grande conhecedor e entusiasta do tema.
   Tenho certeza que serão semanas bem divertidas, respirando filmes de horror 24 horas por dia, e estou ansioso para reencontrar a dupla João Pedro Fleck e Nicolas Tonsho, os responsáveis por esta empreitada, além de grandes amigos como Carlos Thomaz Albornoz, Cristian Verardi e o próprio Marcelo Severo, além de gente que não pude conhecer bem na edição passada, como o Blob. Ah, também tem a galeria de ‘celebridades’ internacionais, não é? Confiram no vídeo anexado nesta postagem quem são os convidados desta edição.


   O site oficial do Fantaspoa traz toda a programação do evento e informações sobre as atividades paralelas, incluindo sinopses de todos os filmes, endereços, horários e preços, além dos dois mini-cursos de cinema que apresentarei. Durante todo o período do festival este blog estará voltado principalmente ao que acontece no Fantaspoa, incluindo a programação em tempo real das sessões em andamento na coluna à direita. Mas este espaço não estará abandonado: farei o possível para trazer algumas surpresas e novidades bem bacanas e tentar fazer com que todos se sintam participantes do festival.
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