CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

terça-feira, 29 de março de 2011

Barbe-Bleue (1901)


   O cinema, como nós o conhecemos, não foi inventado pelos Irmãos Lumière, mas sim por um mágico francês de nome Georges Méliès. Foi ele quem, literalmente, mostrou que cinema era magia, que fotografias em movimento poderiam - ou mesmo deveriam - ser um meio para se registrar a ficção, o faz-de-conta, o impossível, e não apenas flagrar momentos do nosso cotidiano. Méliès ganha ainda mais importância quando falamos particularmente do cinema fantástico: ele praticamente inaugurou o gênero horror com Le Manoir du Diable (1896), fez a primeira obra-prima de ficção científica com Le Voyage dans la Lune (1902), e adaptou alguns contos de fadas tradicionais, como Cendrillon e Barbe-Bleue, nos quais pôde abusar de cenários espetaculares, com perspectiva e profundidade, e elaboradas tomadas com vários figurantes.
   Barbe-Bleue, ainda que não seja dos filmes mais comentados de Méliès, é o curta-metragem que costumo exibir na abertura do curso A História do Cinema de Horror, para mostrar aos participantes um dos primeiros exemplares desse gênero; ou, caso seja ousadia demais rotulá-lo de ‘horror’, pelo menos representa o que podemos considerar como embrião do horror cinematográfico e do filme fantástico como um todo. A idéia é surpreender a platéia com um trabalho que pode ser considerado visionário, sem qualquer exagero, e desta maneira derrubar logo de cara quaisquer preconceitos (ou, mais especificamente, ‘pré-conceitos’) ou resistências em relação àquilo que pode ser o cinema de horror.
   O curta é uma adaptação da tradicional história do assassino Barba Azul, imortalizada na versão do francês Charles Perrault, sobre um homem que se casa pela oitava vez, depois que suas sete esposas anteriores faleceram (aparentemente, de causas desconhecidas ou inexplicadas). Quando se muda para a mansão do marido, a oitava esposa recebe as chaves de todos os aposentos da propriedade, mas é instruída pelo marido a jamais entrar num dos quartos. Quando ele se ausenta, obviamente, a primeira coisa que ela faz é visitar o tal aposento proibido, dominada pela invencível curiosidade feminina.
   Visualmente, o curta tem todo o charme encantador e irresistível das produções de Méliès, com cenários suntuosos criados de maneira simples, figurinos espalhafatosos e objetos com dimensões exageradas para exprimir de maneira enfática sua função narrativa (destaque para a imensa garrafa de champanhe na festa de casamento e a chave desproporcional que Barba Azul entrega à esposa).
   É no terço final de seus breves nove minutos de duração que o filme ganha força e mostra a arte inimitável de Méliès: ao descobrir o segredo sinistro que o quarto proibido esconde, a nova esposa enfim percebe o perigo que está correndo. A partir desse momento, o turbilhão emocional enfrentado internamente pela heroína é representado visualmente por meio de imagens surrealistas que externam os pensamentos macabros da mulher, como quando ela enxerga as sete vítimas anteriores do Barba Azul como chaves gigantes - um recurso narrativo brilhante que imediatamente nos comunica que todas elas tiveram o mesmo fim trágico e sofreram a mesma punição. Desta maneira, o curta praticamente inventa o ‘horror psicológico’, estilo narrativo que os historiadores costumam afirmar ter surgido somente na década de 40, com as produções de Val Lewton, ou mesmo com o lançamento de Psicose, em 1960. Na pior das hipóteses, Barbe-Bleue antecipou em quase quinze anos The Avenging Conscience (1914), de D.W. Griffith, e em duas décadas a fantasia e o imaginário surreal do Expressionismo Alemão.
   O diabrete que aparece saltitante em cena, uma imagem recorrente nos filmes de Méliès, simboliza a mente envenenada pela curiosidade destrutiva e pela ação inconsequente, um ousado recurso narrativo que pontua o curta com momentos de puro surrealismo e fantasia. Um homem décadas à frente do seu tempo, George Méliès sofreu como tantos outros gênios da arte - incompreendido em sua época, desprezado e condenado ao ostracismo no fim da vida, mas posteriormente celebrado e reconhecido por suas criações revolucionárias que serviriam de inspiração para impulsionar definitivamente o cinema de fantasia, ficção científica e horror.

terça-feira, 22 de março de 2011

O Ogro, de Márcio Júnior e Márcia Deretti


   Enquanto o cinema brasileiro de horror ainda aguarda uma improvável (re)descoberta por parte do grande público, uma visão que vá além de Zé do Caixão e Ivan Cardoso, as histórias em quadrinhos nacionais desse mesmo gênero já são devidamente consagradas e reconhecidas por sua importância e pioneirismo. Nomes como Nico Rosso, Flavio Colin, Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Jayme Cortez, Gedeone Malagola, Julio Shimamoto e outros há décadas são respeitados e cultuados por aficionados por HQs de horror, celebrados como verdadeiros ‘mestres’ dessa arte que desafia o preconceito de alguns e nunca deixa de ser apreciada.
   Uma parte desse capítulo importante na história dos quadrinhos nacionais está ganhando uma nova dimensão e um novo formato, por meio da realização de um curta-metragem de animação que dá movimento e som a um clássico das HQs. O projeto é capitaneado por Márcio Júnior, um apaixonado incondicional por quadrinhos de horror, com a colaboração de Márcia Deretti na produção e de Wesley Rodrigues na direção de animação. O curta, que deve ser o primeiro de uma série, resgata a história O Ogro, desenhada por Julio Shimamoto e escrita por Antônio Rodrigues, publicada originalmente na edição nº 27 da revista Calafrio, em 1984. A HQ é considerado um marco na carreira de Shima, um artista conhecido por sua inquietude criativa, que desenhou a história usando tinta branca sobre cartolina preta.




   As etapas de criação do projeto, realizado pela Marte Produções, podem ser acompanhadas em detalhes no blog oficial do curta, que traz trechos da HQ original e todo o processo de adaptação para a animação, com participação efetiva de Julio Shimamoto, atualmente com 72 anos e em plena atividade quadrinística. Shima ampliou o quadro das cenas mais fechadas, oferecendo aos animadores um universo mais definido, desenhou cenários e esboçou model sheets dos três personagens da HQ. O curta, com cerca de oito minutos, deve estrear ainda no primeiro semestre deste ano, e certamente marcará presença em vários festivais de cinema. Para conhecer melhor o projeto, vale a pena ler a entrevista com Márcio Júnior publicada no site Bigorna, especializado em histórias em quadrinhos.



   A idéia é inovadora e merece a torcida de todos pelo sucesso da empreitada, que deve prosseguir com a adaptação de outro clássico das HQs brasileiras de horror, desta vez uma obra-prima de Jayme Cortez.

domingo, 20 de março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mostra Spaghetti Zombies


   Zumbis, todos nós sabemos, não têm pátria, esses pobres coitados. São livres, descompromissados, irresponsáveis, incompreendidos, caçados impiedosamente, são tratados com uma intolerância desmedida pelas pessoas que se julgam normais, que têm nojo e repugnância desses seres desgraçados. Deu para sacar por que amamos tanto esses cadáveres putrefatos, por que eles são tão universais e queridos? Justamente por isso, não importa se você vem da Itália ou, só para citar uma cidade aleatoriamente... digamos, Recife, em Pernambuco; você certamente tem motivos de sobra para se encantar com um bom (ou não tão bom assim) filme de zumbi.
   Disso tudo, a única brincadeira é que a referência a Recife é aleatória: não é não, é para divulgar a mostra Spaghetti Zombies, que acontece a partir deste sábado, e segue ao longo de toda a semana, na capital pernambucana. O recorte da mostra, organizada por Osvaldo Neto, do blog Vá e Veja, com colaboração de Ronald Perrone, do blog Dementia 13, é a safra clássica italiana de filmes de zumbi, inspirados pela repercussão que Zombie: Despertar dos Mortos (1978), de George A. Romero, teve no país da pizza.
   A mostra reúne meia dúzia desses pequenos grandes clássicos, começando com aquela que talvez seja a última obra-prima de horror oriunda da Itália: Dellamorte Dellamore (Pelo Amor e Pela Morte, 1994), de Michele Soavi. O filme será exibido no dia 19, sábado, e a mostra prossegue, de segunda a sexta, com Zombi 3 (1988), de Lucio Fulci, Bruno Mattei e Claudio Fragasso; Quella Villa Accanto al Cimitero (A Casa do Cemitério, 1981), de Lucio Fulci; Non Si Deve Profanare il Sonno dei Morti (Zumbi 3, 1974), de Jorge Grau; E Tu Vivrai nel Terrore: L’Aldilà (Terror nas Trevas, 1981), de Lucio Fulci; Le Notti del Terrore (A Noite do Terror, 1981), de Andrea Bianchi. Todos são inéditos em DVD no Brasil, mas - à exceção de Zombi 3, foram lançados em VHS por aqui - e fiquei com vontade de explorar minha prateleira de zumbis, pois tenho todos esses filmes em DVDs importados (alguns quase foram lançados por aqui, mas essa é outra história...)!
   A mostra, com apoio do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e do Cineclube Dissenso, tem entrada franca e todos os filmes serão exibidos com legendas em português. O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco fica na Rua Henrique Dias, 609, Derby, Recife, Pernambuco. Quem estiver interessado pode escrever para o e-mail de Osvaldo Neto ou se informar pelos fones (81) 9426 9180, 3073 6688 e 3073 6689. Para quem está distante, como eu, resta apenas a torcida para que esta primeira edição seja um grande sucesso, que mostras como essa se repitam em muitas outras cidades brasileiras e que, com o tempo, ganhem um caráter mais oficial e regular. Vivos ou mortos, todos agradecem.

quarta-feira, 16 de março de 2011

CURSO: A História do Cinema de Horror


   O que é um filme de horror? Por que as pessoas têm fascínio por esse gênero, que fica cada vez mais forte, apesar do preconceito que ainda enfrenta? Como transformou ao longo das décadas, associando-se a diferentes tendências, e como acontecimentos históricos influenciaram em sua mutação constante? Estas são apenas algumas das questões que serão abordadas no curso A História do Cinema de Horror, que irei ministrar em Porto Alegre entre os dias 29 de março e 1º de abril.
   A proposta do curso é traçar um amplo e abrangente painel de toda a história do horror no cinema, desde os primeiros experimentos realizados por Georges Méliès e Thomas A. Edison, a encantadora fase do Expressionismo alemão, o surgimento do cinema sonoro com os primeiros clássicos hollywoodianos (Drácula com Bela Lugosi, Frankenstein com Boris Karloff), passando por todas as décadas, da ficção científica com monstros mutantes e o horror gótico britânico, que revelou Peter Cushing e Christopher Lee, até os assassinos psicopatas dos anos 70 e 80, chegando, enfim, à safra atual, com os violentos filmes de tortura e a nova escola francesa de filmes extremos.
   O caráter universal do gênero é enfatizado destacando a produção de filmes de horror em todos os continentes; tópicos específicos analisam as características do que se produz em países como Itália, Espanha, França, Alemanha, Japão, China, Hong Kong, Filipinas, México, Brasil e Argentina. E a conclusão que se chega é que o horror é o mais universal de todos os gêneros, pois se vale dos nossos medos instintivos, irracionais, que não enfrentam barreiras culturais, sociais ou políticas.
   O curso também discutirá várias particularidades do gênero, incluindo sua popularização por meio de festivais e publicações especializadas, além dos limites do horror, envolvendo a polêmica em torno dos míticos snuff movies e a controvérsia que envolve o cult maldito Cannibal Holocaust. No caso deste último item, sempre gosto de pedir aos participantes para darem suas próprias opiniões, em busca de novas visões sobre até onde deve ir o horror, os limites da criação artística, da censura, da moral e da ética.
   Convido todos os amigos portoalegrenses e das redondezas gaúchas a participar do curso, garanto que será bem bacana e divertido. As informações necessárias estão logo abaixo, com a programação do curso e tudo mais. Vamos horrorizar Porto Alegre mais uma vez!


Programa do curso


AULA 1 (29 de março)
   • O que diabos é um filme de horror?
   • Origens do horror na literatura, no teatro e no cinema
   • Sombras ameaçadoras: o horror expressionista alemão
   • A estrutura tradicional do filme de horror
   • Universal (I): a casa de todos os monstros
   • Bela Lugosi e Boris Karloff, os primeiros ídolos do horror
   • Universal (II): apogeu e declínio dos monstros
   • Escuridão mortal: o horror psicológico de Val Lewton
   • Veio do espaço: a ficção científica da era nuclear
   • O cinema de exploração e o mercado de drive-in

AULA 2 (30 de março)
   • Hammer (I): o ousado e violento horror inglês
   • Peter Cushing e Christopher Lee, os monstros britânicos
   • Os truques de William Castle, o ‘mestre do choque’
   • Psicose (1960): o horror atinge a maturidade absoluta
   • O filme de horror se torna internacional
   • EUA: o ciclo de adaptações de Edgar Allan Poe
   • Vincent Price, carisma e requinte no horror estadunidense
   • Canadá: o corpo transformado de David Cronenberg

AULA 3 (31 de março)
   • Horror europeu: Itália, Espanha, França e Alemanha
   • Horror asiático: Japão, China, Hong Kong e Filipinas
   • Horror latino-americano: México, Brasil e Argentina
   • Hammer (II): sexo, satanismo e fim de ciclo
   • Amicus: a casa das antologias de horror
   • Fim do mundo: o cinema pessimista e apocalíptico
   • Canibal Holocausto (1980) e os limites éticos do horror

AULA 4 (1º de abril)
   • Máscaras: a ameaça sem rosto e o monstro interior
   • A proliferação de festivais e publicações de horror
   • Para todos: o cinema arrasa-quarteirão adere ao horror
   • O uso de novas mídias para a difusão do horror
   • O caráter contestador do filme de horror
   • Morte lenta: o horror extremo nos filmes de tortura
   • O mito snuff: o último tabu do cinema de horror
   • O futuro do horror e as novas tendências


A HISTÓRIA DO CINEMA DE HORROR
Por Carlos Primati

Datas: 29, 30 e 31 de março e 1º de abril
Horário: das 19h às 21h30
Local: Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (Rua Andradas, 959, Porto Alegre / RS)
Investimento: R$ 100,00
Material: DVD exclusivo com curtas e trailers, apostila e certificado de participação
Informações: cenaum@cenaum.net ou (51) 9101 9377

sábado, 12 de março de 2011

Almanaque: Zé do Caixão


   José Mojica Marins completa 75 anos de idade neste dia 13 de março, ainda recebendo todas as homenagens que merece em vida e mostrando ser uma figura extremamente popular e relevante para a nossa cultura. Poucos cineastas podem se orgulhar disso, vivos ou mortos (o que, até certo ponto, explica o ciúme que ele desperta em alguns colegas).
   A homenagem desta vez fica por conta do programa especial que será exibido na madrugada se sábado para domingo, às 0h05, no Almanaque, da Globo News. O programa anuncia uma entrevista exclusiva com o Mojica, na qual mais uma vez ele revela a origem de seu personagem mais famoso, o agente funerário Zé do Caixão, surgido num pesadelo, e confessa que é um medroso na vida real.
   Para deixar meus parabéns ao mestre, selecionei treze caricaturas bem interessantes do Mojica como Zé do Caixão (repetindo o tema de galeria de arte que fiz nesta postagem em homenagem ao Vincent Price), que evidenciam a figura querida e conhecida que ele é.
 












quinta-feira, 10 de março de 2011

Rock Horror Show (1975)



 
   Quem não gosta de Rocky Horror Show só pode ser ruim da cabeça e doente do pé. Um dos maiores fenômenos pop de todos os tempos, a peça musical escrita por Richard O’Brien sintetiza toda uma era, o casamento perfeito entre a fase nostálgica do rock’n’roll e as antigas sessões duplas de filmes de horror e ficção científica, tudo embalado com uma sensualidade sem limites no auge da androginia e do amor livre. Obviamente, era material perfeito para o cinema, e não demorou para surgir Rocky Horror Picture Show, provavelmente o maior clássico das sessões malditas e o derradeiro cult movie.
   O que nem todo mundo sabe é que o impacto do sucesso da peça ecoou no Brasil imediatamente, com a adaptação de Rock Horror Show (escrito assim mesmo) para os nossos palcos, encenada inicialmente no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro. Os bastidores dessa produção podem ser acompanhados no blog de Edy Star, nosso maior representante do glam rock, nas partes um, dois e três. Está tudo contado por quem participou da coisa, portanto não vou reproduzir tudo aqui. Só quero contar que Edy relata como substituiu Eduardo Conde no papel de Frank Father [sic], e que quando chegou ao teatro, o roqueiro Serguei estava de prontidão para se candidatar ao posto. O elenco original contava ainda com Lucélia Santos, Zé Rodrix, Wolf Maia e Diana Strella nos principais papéis. A peça posteriormente foi montada nos palcos paulistanos, com Paulo Villaça, Antonio Biasi e Lúcia Turnbull substituindo alguns dos atores da versão carioca.
   A trilha sonora da montagem carioca foi lançada em LP em 1975, pela Som Livre, mas infelizmente não está disponível em CD. A produção do disco ficou por conta de Guilherme Araújo e Zé Rodrix, responsável também por algumas adaptações. O repertório do LP inclui as três faixas anexadas nos vídeos acima - “Science Fiction” (Lucélia Santos), “Nostalgia Rock’n’Roll” (Zé Rodrix) e “Me Toque, Me Toque, Toque, Toque” (Diana Strella) - e traz ainda “O Anel de Noivado” (Wolf Maia e Diana Strella), “Luz na Casa de Frankstein” (Diana Strella, Wolf Maia e Kao Rossman), “A Espada da Morte” (Acácio Gonçalves e Nildo Parente), “Eu Te Faço Ser Homem” (Eduardo Conde), “É Só Me Chamar, Tudo Bem” (Wolf Maia e Diana Strella), “Eu Vou Partir” (Eduardo Conde) e “Só o Amor Interessa” (Wolf Maia, Diana Strella e Nildo Parente). Quem conhece bem o repertório original certamente notou a falta de algumas canções, especialmente a clássica “Time Warp”, mas suponho que só colocaram no disco o que cabia em 45 minutos.

terça-feira, 8 de março de 2011

Apocalipse de São João (1470)


   A Biblioteca Digital Mundial vem construindo aos poucos um precioso acervo com alguns dos documentos mais raros, influentes e apreciados da Humanidade, entre mapas, fotografias, filmes, manuscritos e livros. Tudo com acesso livre ao público e com opção para se baixar os arquivos.
   Um dos inúmeros itens preciosos disponíveis no catálogo é uma edição de 1470 do Apocalipse de São João, o incendiário, catastrófico e sangrento clímax da Bíblia cristã, com toda aquela história da chegada da Besta e a derradeira guerra entre o Bem e o Mal que vai arrasar o planeta.
   Também conhecido como Livro da Revelação na tradução em português, ou Apocalypsis Sancti Johannis, no original em latim, o livro traz as visões e premonições de São João e, escrito de maneira enigmática, é fonte inesgotável de interpretações teológicas para quem o leva totalmente a sério - e inspiração permanente para filmes de horror, como A Profecia (1976), de Richard Donner, álbuns de rock, como The Number of the Beast (1982), do Iron Maiden, e tantas outras obras de ficção da cultura pop.
   A edição, impressa na Alemanha usando uma técnica de entalhe em placas de madeira, é rica em ilustrações, no característico estilo medieval, tão fascinante quanto perturbador, todas reproduzidas abaixo para quem tiver preguiça para baixar o arquivo no site. No verso dessas páginas está o texto apocalíptico.
   O acervo da biblioteca digital oferece também aquele que provavelmente é o livro mais famoso de todos os tempos: a edição da Bíblia criada em 1455 por Johannes Gutenberg, o inventor da imprensa, com 654 páginas em alta resolução, pronta para serem impressas e criar uma réplica caseira desse tesouro da Humanidade.

















domingo, 6 de março de 2011

Unidos da Tijuca: Esta Noite Levarei Sua Alma (2011)


Tá com medo de quê?
O filme já vai começar
Você foi convidado
Caronte no barco não pode esperar
Apague a luz, a guerra começou
Sob o capuz, delira o diretor
No filme que passa piada em cartaz
Pavor me abraça, isso não se faz
No espaço se vai, é a força que vem
Meu medo não teme ninguém

É o boom! Quem não viu? A casa caiu
Com a bomba na mão o vilão explodiu
O plano de fuga é jogo de cena
“Um Deus nos acuda”… Agita o cinema

Ele volta, revolta mistério no ar
Dos milharais uma estranha visão
Mais uma vez olha a encenação
Morrer de amar faz o povo gargalhar
Pare! Eu pego vocês, grita o mau condutor
Mas deu tudo errado, não há outro lado
Esse povo me enganou
Eu sou brasileiro, amor tijucano
Roteiro sem ponto final
Coitado o barqueiro entrou pelo cano
E brinca no meu carnaval

Eu sou Tijuca, estou em cartaz
Sucesso na tela meu povo é quem faz
Sou do Borel, da gente guerreira
A pura cadência levanta poeira



sábado, 5 de março de 2011

Bellini e o Demônio (2010)


   O decadente detetive particular Remo Bellini é contratado por um cliente desconhecido para encontrar O Livro da Lei. Desorientado e em estado de constante delírio devido ao vício em remédios de tarja preta, o investigador recebe um volumoso adiantamento pelo trabalho e inicia sua missão de encontrar o tal livro, aparentemente sem método algum. Bellini mergulha num submundo de crimes violentos, rituais satânicos e conspiração. Depois de consultar um demonólogo, fica sabendo que O Livro da Lei é um dos tomos escritos por Aleister Crowley, o maior bruxo da Nova Era e anunciador do Anticristo. Ao mesmo tempo que busca desesperadamente o livro, assassinatos violentos perturbam a rotina de policiais da cidade. Bellini é avisado pelo demonólogo que quando quatro pessoas forem sacrificadas na fase cheia da lua, a Besta subirá em sua nova forma - e os cadáveres vão se acumulando.
   Bellini e o Demônio é o segundo filme adaptado dos livros policiais de Tony Bellotto, talvez mais conhecido como um dos integrantes da banda de rock Titãs. O anterior foi Bellini e a Esfinge, dirigido por Roberto Santucci em 2001. Nos dois, o detetive do título é interpretado por Fábio Assunção, fisicamente adequado ao papel, mas sua atuação não está acima do nível das telenovelas, com todos os cacoetes e exageros típicos de uma mídia que não tolera sutilezas.


   A referência inicial que se tem diante da sinopse do filme é um cruzamento entre Coração Satânico, de Alan Parker, e O Último Portal, de Roman Polanski, e essa impressão paira durante todo o filme, indo e vindo. Porém, a bagunça é tamanha que em vários momentos fica duvidoso que caminho o filme pretende seguir. Alguma soluções narrativas são mais do que discutíveis, como colocar personagens dentro da própria cena que estão narrando num flashback. Tenta mostrar estilo, mas é apenas bobo, risível. A câmera treme, chacoalha e trepida em toda cena tensa - e o filme é todo tenso e dramático. Há um abuso de tomadas subjetivas, do tipo ‘alguém espreitando’, sem que nunca fique claro se é de fato o ponto de vista de algum personagem, um anseio de colocar o espectador numa posição desconfortável ou pura baderna. Num dos momentos mais absurdos, a câmera está dentro de um envelope de papel, olhando para a cara de Fábio Assunção, que olha para dentro do envelope! Por que? Impossível saber.
   Fazia tempo que eu não via um filme (brasileiro) tão problemático. Certamente há algo de errado num filme que passou pelas mãos de quatro montadores e que tem três créditos distintos de roteiro (eu nunca tinha visto, num mesmo filme, créditos de ‘roteiro original’ e ‘roteiro adaptado’!). A trama tem buracos escandalosos; certamente passagens importantes foram eliminadas na montagem final, enquanto somos bombardeados por cenas repetitivas - Bellini às voltas com seus comprimidos e os policiais batendo cabeças durante as investigações. O diretor Marcelo Galvão andou dando entrevistas renegando o corte imposto pelo produtor. Enquanto que algumas fontes apontam que o filme tem 120 minutos de duração, a versão em DVD é substancialmente mais curta, com 85 minutos.


   Porém, só podemos avaliar o filme lançado, não a versão ‘original’ que habita o limbo. Em comparação a Os Famosos e os Duendes da Morte e A Erva do Rato, dois filmes brasileiros recentes que possuem tênues - porém ricas e relevantes - relações com o horror, e são acusados de ‘pretensiosos’ devido às ambições artísticas, Bellini e o Demônio perde feio. Tenta ser artístico e estiloso onde não deveria; conta uma história relativamente simples, mas teima em complicá-la a troco de nada. Numa época em que Cisne Negro vira uma mania mundial, a proposta narrativa de Bellini e o Demônio poderia ser melhor aceita pelo grande público, mas as soluções são lastimáveis.
   O próprio lançamento do filme é um drama à parte. Finalizado em 2008, foi exibido em maio do mesmo ano no festival de Los Angeles, nos Estados Unidos, de onde trouxe um prêmio de atuação para Fábio Assunção. Em setembro participou de um festival de cinema do Rio de Janeiro. Sua estréia comercial aconteceu quase dois anos depois, em agosto de 2010, passando praticamente despercebido. Co-produzido pelo TeleCine, nunca teve apoio decente do canal; nunca vi comercial na televisão ou qualquer coisa do tipo. Foi parar no DVD, também sem muita gente dar atenção, lançado alguns dias atrás. Desconfio, por mera desconfiança mesmo, que o fracasso nas bilheterias de Encarnação do Demônio, lançado em 8 de agosto de 2008, tenha influenciado na carreira abortada de Bellini e o Demônio, que chegou a ter sua data de lançamento marcada para 24 de outubro de 2008. Será que temeram que a temática ‘demoníaca’ pudesse afastar o público, numa época em que só se investe em filmes espíritas e com mensagens positivas?


   É uma pena, pois tinha tudo para ser um pequeno grande filme de horror brasileiro. Enquanto não temos caminhos originais a percorrer, pelo menos poderíamos manter o gênero vivo com filmes mais convencionais, porém feitos com correção e sinceridade. Há cenas boas no filme, ou pelo menos com potencial latente, como a do demonólogo interpretado por Jack Militello. Porém, a superficialidade de conteúdo é denunciada pelo fato de levar tão a sério um sujeito como Aleister Crowley, o mais pop dos ocultistas, e a quem os que se dizem verdadeiros satanistas dão às costas e chamam de charlatão. Para encerrar, o anticlimático final surpresa - revelado no trailer, talvez pela ganância de achar que o nome de Marília Gabriela pudesse ser um chamariz de público - mostra em que pé estamos em termos de horror brasileiro.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Folha da Manhã: Vampiros da Meia-Noite (9 a 29 de agosto de 1928)


   A estréia em São Paulo do mítico London After Midnight (Vampiros da Meia-Noite), um dos filmes mais famosos da carreira de Lon Chaney, mereceu cobertura praticamente diária no jornal Folha da Manhã, durante todo o mês de agosto de 1928. Chaney era o maior astro da Metro-Goldwyn-Mayer na época, como fazem questão de frisar todas as notas publicadas acerca de sua mais recente investida nas telas. O filme é considerado perdido e encabeça a lista dos clássicos mudos mais procurados do mundo.













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