CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Filme Cultura 53


   A edição mais recente da revista Filme Cultura apresenta uma lista denominada “os 10 filmes brasileiros do coração”. A enquete, que escolheu os filmes nacionais mais queridos, mas não necessariamente os melhores ou mais relevantes, foi feita a partir de votos de 102 pessoas ligadas ao cinema de alguma maneira. Tive a honra de estar entre esses votantes, ao lado de realizadores renomados como Alfredo Sternheim, Carlos Reichenbach, Daniel Filho, Ivan Cardoso, Paulo Sacramento e Silvio de Abreu, e também de críticos e pesquisadores como Bernadette Lyra, Daniel Caetano, Fernando Veríssimo, Gelson Santana, Inácio Araújo, Laura Cánepa e Rubens Ewald Filho.
   A lista dos mais votados é bem curiosa e reveladora, mas não foi surpresa o grande vencedor ter sido O Bandido da Luz Vermelha (1969), de Rogério Sganzerla, um marco do cinema nacional. O que muitos acharão bizarro, de fato, são alguns títulos que entraram na minha própria listagem, formada por dez favoritos obrigatórios e mais dez filmes menos óbvios. Como não posso me considerar um especialista em cinema brasileiro, meu objetivo foi dar alguma visibilidade a obras mais obscuras que, dentro da minha pesquisa do gênero horror no cinema nacional, merecem ser conhecidas.
   Entre esses quase absolutamente esquecidos estão Tormenta (1982), de Uberto Mollo, O Sósia da Morte (1975), de Luís Miranda Correia e João Ramiro Mello, Mistéryos (2008), de Beto Carminatti e Pedro Merege, Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos (2009), de Paulo Biscaia Filho, Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão, e até mesmo o extravagante Os Sóis da Ilha de Páscoa (1972), um delírio ufólogo de Pierre Kast.
   Por outro lado, brigo por meus dez preferidos: O Ritual dos Sádicos (1970), de José Mojica Marins, A Força dos Sentidos (1978), de Jean Garrett, O Anjo da Noite (1974), de Walter Hugo Khouri, À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins, Baixio das Bestas (2006), de Cláudio Assis, Amadas e Violentadas (1975), de Jean Garrett, O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), de José Mojica Marins, Os Monstros de Babaloo (1971), de Elyseu Visconti Cavalleiro, Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), de Esmir Filho, e Encarnação do Demônio (2008), de José Mojica Marins. O único filme dos vinte da minha lista que foi classificado entre os 25 finalistas foi À Meia-Noite Levarei Sua Alma. Todas as listas individuais podem ser conferidas aqui.
   A fase clássica da Filme Cultura foi entre 1966 e 1988, mas a publicação voltou à ativa em abril de 2010 e já lançou quatro edições desde então, revigorando a pesquisa, crítica e divulgação da produção nacional. Todas as edições estão disponíveis no site em versão PDF. Você pode baixar o número 53 da revista em formato digital clicando aqui.
   Também pode entrar na brincadeira e fazer sua própria lista de prediletos ou contestar a minha ou outras listas deixando comentários para esta postagem!

14 comentários:

  1. Se eu fizesse uma lista, ficaria bem parecida com a sua. Ou seja, adorei sua lista! Hehehe. Gosto muito de ver listas assim, é curioso ver quem gosta do quê. :)

    Beijo!

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  2. Bem, sua lista está ótima mas eu tenho que ver AMADAS E VIOLENTADAS que não tive o prazer de conferir e tentar ver de novo "Os Famosos e os Duendes da Morte (2009)" que eu comecei e não consegui continuar. Desculpe, mas fiquei com medo... de parecer com Cinema Transcendental do Caetano Veloso. Vou tentar, isso prometo.

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  3. Cayman, o AMADAS E VIOLENTADAS é um baita filme, denso, inteligente, trágico, bem escrito e bem narrado, tem um protagonista poderoso e a direção sempre surpreendente do Jean Garrett, um pequeno gênio desprezado do nosso cinema.

    Quando ao OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, esse certamente divide muito claramente entre os que o odeiam e os que o adoram. Eu gostei demais do filme, pois ele apresenta algo muito raro no cinema moderno (e não falo apenas do cinema brasileiro): ele tem coragem de tentar mostrar algo diferente. Dentro da minha área de interesse, ele oferece o que chamo de "possibilidades" para o horror brasileiro, ao transformar uma ponte num personagem vivo, num vilão, num 'monstro' de história de horror. Isso, para mim, é precioso. É um filme imperfeito, como costumo dizer que quase todo filme brasileiro é. E isso, de certa maneira, é o charme do nosso cinema.

    Porém, o que me incomoda nessa discussão é que a principal acusação que o filme sofre é de ser "pretensioso" e "pseudo-intelectual". Primeiro, será que quem diz isso tem certeza de que o autor NÃO É um intelectual? Por que sempre que um sujeito mostra alguma erudição e cultura, imediatamente ele se torna "pseudo"? Isso é uma tremenda pobreza de argumentos, na minha opinião...

    Mais grave ainda é essa coisa de "pretensioso". Não sei como nem por que, mas parece que o adjetivo "despretensioso" se tornou um elogio supremo à arte cinematográfica. Não entendo por que um filme "despretensioso" é necessariamente melhor do que um "pretensioso". Arrisco dizer que o cinéfilo médio não gosta de ter suas convicções artísticas e/ou filosóficas desafiadas ou sequer seu cérebro provocado. Ele se sente mais seguro quando o artista está ao nível dele, fazendo algo... sem grandes pretensões.

    Pois eu me pergunto, então, o que seria das belas artes sem a pretensão de gente como Dante, Mozart, Michelangelo, Da Vinci, Shakespeare, Dali, Picasso ou Escher? Ou do cinema, sem os "pretensiosos" Welles, Hitchcock, Bava, Fellini ou mesmo o Argento. Ou Selznick, Lucas e Spielberg, para os fãs de blockbusters.

    Enfim, Cayman e todos os demais, não querer ver um filme ou mesmo detestá-lo é o direito mínimo de um sujeito. Eu mesmo me recuso a ver muito filme que neguinho acha que é "obrigação" eu ver. Só acho pobre quando um filme que TENTA oferecer algo diferente é descartado como... "pretensioso".

    Aliás, fica aqui a menção a outro filme "difícil" que vi depois de elaborar a minha lista e que gostei demais, e que certamente estaria destacado entre meus prediletos: A ERVA DO RATO. Pois então podem começar a me espinafrar, inimigos do cinema "pseudo-intelectual". :D

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  4. Nem me atreveria a começar a formular uma lista de filmes nacionais preferidos. Não possuo repertório o suficiente e esta lista ficaria restrita a filmes do Mojica e da Boca do Lixo. O que soaria tendencioso.

    Acho que o argumento "pretensioso" se torna válido quando o filme, ou o que quer que seja, tenta trazer ao espectador algo que esteja além de suas capacidades. O problema aí é o filme, as limitações do diretor, elenco, etc e não do espectador.

    É aí que vemos o termo ser usado de maneira errada. Muita gente confunde a capacidade do diretor de não conseguir transmitir algo com a sua própria capacidade de entender algo.

    Não vou ousar a citar exemplos para não ter chance de mostrar o quão limitada é minha capacidade de entender o cinema "pretencioso". :)

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  5. Argh! Digitei o último "pretensioso" com C!!!

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  6. Rodrigo, não teria nada de errado numa lista com Mojica e Boca do Lixo. O cinema nacional raramente fica melhor do que isso. :)

    Quero esclarecer que minha compreensão do termo "pretensão" é como "intenção, vontade, proposta". Não estou me referindo ao seu sentido de se acreditar, de maneira infundada, ter a capacidade de fazer algo mais complexo.

    Talvez eu é que seja tolerante demais com o sentido do termo. O que vale dizer é que meu comentário é genérico a esse tipo de "acusação": não foi nem o Cayman e nem mais ninguém aqui que chamou o filme de pretensioso. Simplesmente é o rótulo que quase sempre se cola em filmes que tentam dizer algo mais.

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  7. Sim sim... Este termo pipocou por aí aos montes na época do lançamento do "Duendes...".

    É que como o termo é usado, quase sempre, de maneira prejorativa, o que passa é a idéia de que o cara pretendia mas não conseguiu.

    De qualquer forma não vi o filme ainda.

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  8. Agora é que eu vou ver o filme mesmo, Carlos. Depois dessa sua explanação sobre o assunto, tenho que fazer isso. Ele já está aqui em casa há vários dias, uma cópia que uma amiga minha e da Bia me arrumou. E realmente, obrigado por deixar claro que eu não disse que era pretensioso. Eu nem pensei nisso. Apenas deixei de assistir depois de 35 minutos de filme. Acho que não estava com ânimo naquele instante, sei lá... deve ter ocorrido o mesmo com você com algum filme, não? E você foi ver de novo e deve ter dado certo. Pode ser que com mais empenho em assitir eu consiga entender melhor a mensagem dele.

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  9. Cayman, eu nem sugeri que visse o filme todo, e tampouco o recomendaria, hehehe...

    Só estava discutindo a questão de se diminuir um filme apenas porque ele busca algo além de entreter. Já tive que discutir com algumas pessoas que achavam que eu TINHA que assistir determinado filme (me vem à mente no momento o MILK), enquanto que eu simplesmente NÃO ME INTERESSAVA pelo tal filme. Para mim, não é bom nem ruim, não critico e nem elogio. Apenas não me atrai, não me interessa. Se eu visse, talvez achasse maravilhoso, ou não. Mas é uma opção minha descartar determinados filmes.

    Sobre a mensagem do filme, para mim ela é clara demais, e ninguém precisa viver numa pacata cidadezinha do interior para compreender: é um filme sobre a busca de um significado na vida, sobre a tentativa de se vencer os demônios interiores e ter a coragem de partir em busca de uma identidade. A ponte do filme representa a tentação da morte e a saída mais fácil de quem não se sente preparado para enfrentar os desafios do mundo. Atravessá-la significa vencer esses medos e se arriscar a ter uma vida plena.

    Gosto também do personagem do rapaz que retorna à cidadezinha, interpretado pelo próprio autor do livro, às vezes incorporando um Bob Dylan onírico, e o vejo como uma espécie de representação da corrupção da alma, da atração irresistível pela morte.

    Um desses sites metidos a engraçadinhos descreveu OS DUENDES DA MORTE como um filme para "miguxos e emos". Isso serve para mostrar o nível intelectual dos nossos 'críticos'.

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  10. "A Erva do Rato" é legal sim. Ainda não encontrei coragem para ver o filme do Esmir Filho. Primati, o que você acha de "O Fim da Picada" ? Apesar de toda (hã) pretensão e do filme ficar dando voltas em si mesmo, achei uma experiência válida, talvez até melhor do que o "Encarnação do Demônio".

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  11. Esse Leandro nunca deixa de me surpreender! Que legal que tenha gostado da ERVA. Um pequeno spoiler (não leia quem não quiser estragar a melhor coisa do filme): eu até acho que a mulher pode estar morta desde o início do filme, pois ele a pegou caída no chão dentro de um cemitério. Enfim, é esse tipo de idéia provocante que me interessa nos filmes brasileiros, e que às vezes parece incomodar as pessoas além da conta.

    Sobre o PICADA, eu não gostei na primeira vez que vi, fiquei frustrado quando a história mudou para os dias atuais, e eu já tinha um pé atrás com o Saghaard por causa do DEMÔNIOS, que tem uma estética udigrúdi meio forçada.

    Mas depois revi e comecei a achar a proposta bem bacana, essa idéia de recriar os personagens folclóricos num viés urbano e moderno. Gosto principalmente da Mula-Sem-Cabeça, a moça alienada com academia e essas coisas. Como você falou, é uma experiência válida, mas fico imaginando um horror oitocentista feito com aquela fotografia, aqueles cenários... seria demais!

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  12. Eu realmente não gostei de "Os famosos e os duendes da morte" justamente por reconhecer talento no Esmir Filho. Nas entrevistas que eu vi com ele, eu percebia um cineasta consciente e que poderia oferecer algo a mais pro espectador que não uma diversão rasteira ou um exercício pra socíólogos, tão comuns no nosso cinema. No entanto, eu vi um filme que se distanciou disso e me soou artificial demais, muito programado e com quase nada de espontaneidade, e pessoalmente fiquei decepcionado. Não li o livro que o inspirou e não posso comentar a respeito, mas o filme ficou devendo muito.

    Mas também pode variar muito de gosto, já que pra mim o filme "A Fonte da Vida" do Darren Aronofsky me encantou, talvez por ter me reconhecido na situação proposta (a perda de alguém querido e os devaneios que se criam em cima disso). Eu gostei muito desse filme e, no entanto geral desceu a lenha, ele foi até vaiado em Veneza...rs. Fazer o que?

    Mas é como eu disse pra Beatriz, eu prefiro filmes mais simples e menos intelectuais, o que não quer dizer que não ache que filmes assim não devam ser feitos, é só mera questão de preferência. Mas espero que o Esmir faça outros filmes, pois acredito que a experiência fará com que ele melhore bastante.

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  13. Valter, acho que é por aí mesmo: ou um filme tem algo a nos dizer, a nível pessoal, ou não tem. Eu mesmo já tive que enfrentar discussões boçais com pessoas que acham que eu tenho OBRIGAÇÃO de reconhecer que este ou aquele filme é bom, só porque ele significa algo para a pessoa. É mais ou menos eu, como roqueiro, ser pressionado a reconhecer que o Pavarotti era um grande cantor de ópera, que era um gênio etc. Isso é óbvio, mas se o cara não significa NADA para mim, que obrigação eu tenho de ficar elogiando? Esse tipo de discussão, para mim, é aborrecida e desestimulante.

    Quanto ao Esmir, se eu soubesse antes que ele era o cara que fez aquela idiotice chamada TAPA NA PANTERA, eu provavelmente ficaria muito em dúvida quanto a ver o filme, hehehe...

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  14. Geral desceu a lenha em A FONTE DA VIDA? Só se foi em Veneza, porque não conheço um filme recente mais cultuado que esse.

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