CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO
Bela homenagem ao "homem que não ri" e que mereceria, ao meu ver, maior consideração hoje em dia. Agora outro que era foda era o Ben Turpin com seu estrabismo...
Estúdio (ou melhor, Rodrigo), aqui não é o espaço ideal para isso, mas quero falar um pouco de Chaplin. Confesso minha quase total ignorância em Buster Keaton (vi só A GENERAL e mais alguns poucos filmes), mas assisti absolutamente tudo de Chaplin e escrevi uma "filmografia comentada" dele. Eu não discutiria que Keaton é maior que Chaplin, mas quero falar deste último.
O fato é que não acho o Chaplin o "gênio" que todos se apressam em rotular, provavelmente sem sequer pensar no significado dessa palavra (que eu uso para pouquíssimas pessoas, e apenas alguns poucos artistas). Como cineasta, não acho o Chaplin nada genial; ele era um diretor apenas medíocre, e limitadíssimo - um homem que parou no tempo e se recusava a fazer filmes sonoros; quando finalmente reconheceu que estava errado e partiu para o cinema sonoro, provou que seu cinema já era irrelevante àquela altura. Talvez sua única real contribuição à arte de filmar tenha sido a câmera em movimento, recurso que ele inventou (se não me engano) no curta EASY STREET.
Por outro lado, considero o Chaplin um espetacular performer (ator e comediante), e acima de tudo um criador de gags insuperável. Seu timing para a comédia era algo brilhante, nisso ele tinha poucos rivais.
PORÉM... para aqueles que (como eu) imaginavam Chaplin como um artista espontâneo e que criava improvisos geniais na hora de filmar, ele não era nada disso. Recomendo o DVD THE UNKNOWN CHAPLIN, formado por verdadeiros tesouros fílmicos, com horas e horas de gravações de ensaios e outtakes da fase mais criativa e prolífica de Chaplin. O documentário explica que Chaplin sempre evitou falar sobre seu método de filmagem, e que nenhum dos livros que escreveu falava sobre os bastidores. Durante décadas, a maneira de Chaplin filmar simplesmente era desconhecida de teóricos de cinema. Somente quando esse material foi descoberto (após a morte do Chaplin, se não me engano por volta de 1979) foi que se descobriu como ele filmava.
Tudo se resumia a muita, muita, muita repetição, e às vezes por horas, dias, semanas esperando a "inspiração" chegar. Uma das anedotas, se não me engano contada pela atriz que fez a florista cega em LUZES DA CIDADE, conta que a equipe de filmagem ficou dias de plantão na esquina em que estavam filmando, esperando que Chaplin encontrasse a maneira correta de fazer a cena.
Isso em nada anula o talento do Chaplin, que é imenso, porém não maior do que tantos gigantes do mesmo estilo, comediantes mudos e pioneiros do cinema. Na minha opinião, apenas mostra que ele era um cineasta humano, com talentos e fraquezas. Um 'clown' inimitável, um comediante dos maiores. Mas não um cineasta 'genial'.
Mas esse final do Luzes da Cidade é, pra mim, um dos finais mais perfeitos e fodões da história do cinema. Acho normal que tenha levado muitos dias para ser feito. Agora não há dúvidas de que Buster Keaton é insuperável em se tratando de humor físico. Ídolo total pra mim.
Pode ser, Herax, mas ainda é pouco para se chamar Chaplin de "gênio".
Aliás, boa parte das pessoas que o chamam de genial provavelmente só conhecem Chaplin daqueles pôsteres cafonas dele com o cachorro ou com o discurso edificante de TEMPOS MODERNOS (ou seria O GRANDE DITADOR?). Pensam em Chaplin no eterno comediante dos finais melancólicos, do vagabundo que SEMPRE fica sozinho no final. Nada pode ser mais equivocado! A maior obra-prima dele (na minha opinião,pelo menos), EM BUSCA DO OURO, termina com o vagabundo ficando rico e casando com a mocinha. Quem assistir aos primeiros curtas de Chaplin poderá vê-lo em brigas com tijolos, aplicando golpes e até batendo em criança!
Como falei anteriormente, vi todos os filmes dele, em ordem cronológica, e demora MUITO até que ele comece a apelar para esse sentimentalismo barato. Na maior parte do tempo, ele fazia papéis até cruéis. Ou seja, para se discutir Chaplin, seria ótimo que as pessoas conhecessem os filmes dele!
Então, Primati: UNKNOWN CHAPLIN foi o filme que me fez pensar, qdo vi em VHS sei lá quanto: afinal, Chaplin era um cineasta genial? Genial, para mim, é o cineasta que chega com o filme na cabeça. E o Chaplin ficava lá tentanto, tentando, tentando. O resultado final é bom, claro. Mas rola uma confusão aí entra o poder do personagem que ele criou (meio sem querer, quase) e a qualidade de seus filmes. Eu acho que Laurel & Hardy criaram dois personagens geniais: a interação entre eles, as brigas, as diferenças, etc. Mas quem se atrevaria a dizer que eles eram grandes "cineastas". Pois aposto que se o Laurel fosse creditado como diretor de todos os filmes da dupla, muito crítico metido a besta iria dizer que era um gênio. A gente que estuda cinema de genero sabe muito bem que muitas vezes o afeto por um filme independe de suas qualidades cinematográficas. E acredito que as pessoas confundem o afeto por um personagem com a qualidade de seus filmes. Botar Orson Welles para dirigir Os Irmãos Marx mudaria pouco a qualidade dos filmes, porque a grande atração ali não era o cinema, mas a performance dos Marx - e os tipos que eles criaram. O que me encanta no Keaton é menos o seu talento acrobático e o fato de não usar dublês e mais, muito mais, o fato de que seus filmes só são possiveis no cinema. Ele pensava os filmes para a tela de cinema. O Chaplin transpunha o vaudeville para as telas. Por isso é tao comum ver gente o imitando em gincanas, pecas infantis... Até Didi o imitiva nos Trapalhões. É fácil, porque vc nao precisa imitar o CINEMA de Chaplin, apenas o PERSONAGEM de Chaplin. Por isso ninguém imita o Buster Keaton. Como é que vc vai botar um trem em movimento, um furacão fazendo uma casa despencar, uma cama sendo levada pelo vento, um personagem saindo da tela de cinema? Parece que o Chaplin chega perto disso justamente em EM BUSCA DO OURO. O Keaton quase sempre pensou nas possibilidades da camera. Falei demais, né? Mas é isso.
Hahaha, eu já tinha percebido que era você, Rodrigo! Mas foi legal a Mari aparecer aqui. ;)
Bem, o que posso dizer, além de dizer qe concordo com tudo que você escreveu?! E que sintonia a nossa, ambos usando o UNKNOWN CHAPLIN como ponto de partida para "pensar" Chaplin! Você deve ter visto por volta de 1989 ou 1990, que foi quando a VTI lançou isso em VHS, em duas fitas. Fiz questão de comprar o DVD importado há alguns anos, para completar a coleção do Chaplin, e foi bom demais rever - e reavaliar. É um belíssimo trabalho de restauração, e um ponto de partida essencial para estudar a obra do Chaplin.
Gostei demais de tudo que você escreveu, achei belíssimo, nunca escrever é demais, não se preocupe! E agradeço que comentários assim transformem nessa discussão de altíssimo nível uma postagem que era meramente um quebra-galho (com todo o RESPEITO, CARINHO e ADMIRAÇÃO que tenho por Buster Keaton, mas é que estou completamente sem tempo para escrever textos para as postagens, infelizmente!).
Grande abraço e tomara que você retorne em breve ao blog!
Jornalista, crítico, historiador e pesquisador dedicado a tudo que se refere ao cinema de horror mundial. Publicou artigos em livros sobre a obra do cineasta José Mojica Marins e sobre o Horror no Cinema Brasileiro, firmando parceria com a Heco Produções em mostras dedicadas à produção nacional no gênero. Colaborou no livro Maldito, de André Barcinski e Ivan Finotti, e co-produziu, juntamente de Paulo Duarte, a Coleção Zé do Caixão em DVD, vencedor do 1º Prêmio DVD Brasil como melhor coleção do ano. Publicou textos nas edições especiais O Livro do Horror (Herói), O Super Livro dos Filmes de Ficção Científica (Superinteressante) e A História do Rock (Bizz). Criou e editou a revista Cine Monstro, ministrou os cursos A História do Cinema de Horror e O Cinema de Alfred Hitchcock e trabalha na organização de uma monumental enciclopédia sobre filmes de horror. Colaborador de publicações como O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Jornal da Tarde, Bizz, Set, General, Herói, Conecta, Dark Side, DVD Total, Showtime, Mundo Estranho, Flashback, Monet etc. Editou o livro Voivode: Estudos Sobre os Vampiros e escreveu o volume sobre Séries de TV da Coleção 100 Respostas (Mundo Estranho).
Das primeiras experiências ao fenômeno Zé do Caixão: Um estudo sobre o modo de produção e a recepção dos filmes de José Mojica Marins entre 1953 e 1967 (2008) Daniela Pinto Senador
Filmes de suspense/terror: Uma análise do gênero com ênfase no cinema nacional (2008) Udiele Ramos Ferreira
Medo de quê? Uma história do horror nos filmes brasileiros (2008) Laura Loguercio Cánepa
Quero ser José Mojica: O circuito de produção trash independente (2009) Mayka Castellano
Maravilhoso!!!Buster Keaton é meu heroi.
ResponderExcluirChris, então fique atento à postagem de amanhã: é um curta tão adorável e divertido quanto este, e sempre lembro de você quando vejo o protagonista!
ResponderExcluirBuster Keaton foi o maior comediante do cinema mudo, seguido por Chaplin e Harold Lloyd. E os puristas que me perdoem.
ResponderExcluirBela homenagem ao "homem que não ri" e que mereceria, ao meu ver, maior consideração hoje em dia. Agora outro que era foda era o Ben Turpin com seu estrabismo...
ResponderExcluirEstúdio (ou melhor, Rodrigo), aqui não é o espaço ideal para isso, mas quero falar um pouco de Chaplin. Confesso minha quase total ignorância em Buster Keaton (vi só A GENERAL e mais alguns poucos filmes), mas assisti absolutamente tudo de Chaplin e escrevi uma "filmografia comentada" dele. Eu não discutiria que Keaton é maior que Chaplin, mas quero falar deste último.
ResponderExcluirO fato é que não acho o Chaplin o "gênio" que todos se apressam em rotular, provavelmente sem sequer pensar no significado dessa palavra (que eu uso para pouquíssimas pessoas, e apenas alguns poucos artistas). Como cineasta, não acho o Chaplin nada genial; ele era um diretor apenas medíocre, e limitadíssimo - um homem que parou no tempo e se recusava a fazer filmes sonoros; quando finalmente reconheceu que estava errado e partiu para o cinema sonoro, provou que seu cinema já era irrelevante àquela altura. Talvez sua única real contribuição à arte de filmar tenha sido a câmera em movimento, recurso que ele inventou (se não me engano) no curta EASY STREET.
Por outro lado, considero o Chaplin um espetacular performer (ator e comediante), e acima de tudo um criador de gags insuperável. Seu timing para a comédia era algo brilhante, nisso ele tinha poucos rivais.
PORÉM... para aqueles que (como eu) imaginavam Chaplin como um artista espontâneo e que criava improvisos geniais na hora de filmar, ele não era nada disso. Recomendo o DVD THE UNKNOWN CHAPLIN, formado por verdadeiros tesouros fílmicos, com horas e horas de gravações de ensaios e outtakes da fase mais criativa e prolífica de Chaplin. O documentário explica que Chaplin sempre evitou falar sobre seu método de filmagem, e que nenhum dos livros que escreveu falava sobre os bastidores. Durante décadas, a maneira de Chaplin filmar simplesmente era desconhecida de teóricos de cinema. Somente quando esse material foi descoberto (após a morte do Chaplin, se não me engano por volta de 1979) foi que se descobriu como ele filmava.
Tudo se resumia a muita, muita, muita repetição, e às vezes por horas, dias, semanas esperando a "inspiração" chegar. Uma das anedotas, se não me engano contada pela atriz que fez a florista cega em LUZES DA CIDADE, conta que a equipe de filmagem ficou dias de plantão na esquina em que estavam filmando, esperando que Chaplin encontrasse a maneira correta de fazer a cena.
Isso em nada anula o talento do Chaplin, que é imenso, porém não maior do que tantos gigantes do mesmo estilo, comediantes mudos e pioneiros do cinema. Na minha opinião, apenas mostra que ele era um cineasta humano, com talentos e fraquezas. Um 'clown' inimitável, um comediante dos maiores. Mas não um cineasta 'genial'.
Mas esse final do Luzes da Cidade é, pra mim, um dos finais mais perfeitos e fodões da história do cinema. Acho normal que tenha levado muitos dias para ser feito. Agora não há dúvidas de que Buster Keaton é insuperável em se tratando de humor físico. Ídolo total pra mim.
ResponderExcluirO humor físico do Keaton é realmente insuperável. E pensar que faziam aquelas coisas todas sem os dublês de hoje...
ResponderExcluirPode ser, Herax, mas ainda é pouco para se chamar Chaplin de "gênio".
ResponderExcluirAliás, boa parte das pessoas que o chamam de genial provavelmente só conhecem Chaplin daqueles pôsteres cafonas dele com o cachorro ou com o discurso edificante de TEMPOS MODERNOS (ou seria O GRANDE DITADOR?). Pensam em Chaplin no eterno comediante dos finais melancólicos, do vagabundo que SEMPRE fica sozinho no final. Nada pode ser mais equivocado! A maior obra-prima dele (na minha opinião,pelo menos), EM BUSCA DO OURO, termina com o vagabundo ficando rico e casando com a mocinha. Quem assistir aos primeiros curtas de Chaplin poderá vê-lo em brigas com tijolos, aplicando golpes e até batendo em criança!
Como falei anteriormente, vi todos os filmes dele, em ordem cronológica, e demora MUITO até que ele comece a apelar para esse sentimentalismo barato. Na maior parte do tempo, ele fazia papéis até cruéis. Ou seja, para se discutir Chaplin, seria ótimo que as pessoas conhecessem os filmes dele!
Então, Primati: UNKNOWN CHAPLIN foi o filme que me fez pensar, qdo vi em VHS sei lá quanto: afinal, Chaplin era um cineasta genial? Genial, para mim, é o cineasta que chega com o filme na cabeça. E o Chaplin ficava lá tentanto, tentando, tentando. O resultado final é bom, claro. Mas rola uma confusão aí entra o poder do personagem que ele criou (meio sem querer, quase) e a qualidade de seus filmes. Eu acho que Laurel & Hardy criaram dois personagens geniais: a interação entre eles, as brigas, as diferenças, etc. Mas quem se atrevaria a dizer que eles eram grandes "cineastas". Pois aposto que se o Laurel fosse creditado como diretor de todos os filmes da dupla, muito crítico metido a besta iria dizer que era um gênio. A gente que estuda cinema de genero sabe muito bem que muitas vezes o afeto por um filme independe de suas qualidades cinematográficas. E acredito que as pessoas confundem o afeto por um personagem com a qualidade de seus filmes. Botar Orson Welles para dirigir Os Irmãos Marx mudaria pouco a qualidade dos filmes, porque a grande atração ali não era o cinema, mas a performance dos Marx - e os tipos que eles criaram. O que me encanta no Keaton é menos o seu talento acrobático e o fato de não usar dublês e mais, muito mais, o fato de que seus filmes só são possiveis no cinema. Ele pensava os filmes para a tela de cinema. O Chaplin transpunha o vaudeville para as telas. Por isso é tao comum ver gente o imitando em gincanas, pecas infantis... Até Didi o imitiva nos Trapalhões. É fácil, porque vc nao precisa imitar o CINEMA de Chaplin, apenas o PERSONAGEM de Chaplin. Por isso ninguém imita o Buster Keaton. Como é que vc vai botar um trem em movimento, um furacão fazendo uma casa despencar, uma cama sendo levada pelo vento, um personagem saindo da tela de cinema? Parece que o Chaplin chega perto disso justamente em EM BUSCA DO OURO. O Keaton quase sempre pensou nas possibilidades da camera. Falei demais, né? Mas é isso.
ResponderExcluirEm tempo: Mari Mello acima quer dizer Rodrigo Pereira, ok?
ResponderExcluirHahaha, eu já tinha percebido que era você, Rodrigo! Mas foi legal a Mari aparecer aqui. ;)
ResponderExcluirBem, o que posso dizer, além de dizer qe concordo com tudo que você escreveu?! E que sintonia a nossa, ambos usando o UNKNOWN CHAPLIN como ponto de partida para "pensar" Chaplin! Você deve ter visto por volta de 1989 ou 1990, que foi quando a VTI lançou isso em VHS, em duas fitas. Fiz questão de comprar o DVD importado há alguns anos, para completar a coleção do Chaplin, e foi bom demais rever - e reavaliar. É um belíssimo trabalho de restauração, e um ponto de partida essencial para estudar a obra do Chaplin.
Gostei demais de tudo que você escreveu, achei belíssimo, nunca escrever é demais, não se preocupe! E agradeço que comentários assim transformem nessa discussão de altíssimo nível uma postagem que era meramente um quebra-galho (com todo o RESPEITO, CARINHO e ADMIRAÇÃO que tenho por Buster Keaton, mas é que estou completamente sem tempo para escrever textos para as postagens, infelizmente!).
Grande abraço e tomara que você retorne em breve ao blog!