Homenagem a José Saramago (1922-2010).
Na minha opinião, este é uma espécie de filme de zumbi disfarçado, mais cerebral do que visceral, mas ainda assim um exemplo das possibilidades do horror no cinema. Não que muita gente concorde comigo, mas isso é outra história. O português José Saramago escreveu o livro em 1995 e foi premiado com o Nobel de Literatura em 1998. A adaptação de Fernando Meirelles leva às telas a história de uma inexplicável epidemia de cegueira, altamente contagiosa, que atinge inúmeras pessoas de uma metrópole indefinida. Os infectados são recolhidos a abrigos, onde são precariamente alimentados e cuidados, e para onde mais vítimas são enviadas a cada dia. Uma mulher imune ao contágio diz estar cega para ficar em quarentena com o marido infectado, sendo a única pessoa no local capaz de enxergar. É dramático e apocalíptico, às vezes assustador e cruel, mas também esperançoso, uma parábola sobre o desmoronamento da sociedade a partir de uma fraqueza humana.
Não sei se concordo com a ideia de que o filme de Meirelles e o livro de Saramago (por tabela) são um exempmlo "positivo" das amplas possibilidades da narrativa terrorífica. Embora escritor de inegável talento, a ficção de Saramago era contaminada, de um lado, pelo apelo fácil da alegoria política (em geral, de leitura em mão única) e, por outro, pela insuportável tendência política moralizadora (no caso, a "moral" era comunista). Esses problemas estão presentes em "Ensaio da Cegueira" (livro) e passam, por contágio, ao "Ensaio da Cegueira" filme. Nesse caso, um romance mais modesto (até hoje, inacreditavelmente, sem uma adaptação mais ambiciosa, embora citado em "28 days later" de Danny Boyle) e ponderado tendo a cegueira por dispositivo central da trama, como "The Day of Triffids" de John Wyndham, surge como leitura (quem sabe, um dia, filme...) muito mais profunda e complexa que a cegueira branca de Saramago...
ResponderExcluirPois é, Alcebiades, tive o cuidado de não emitir nenhum juízo sobre o livro do Saramago porque não o li, e acho que mesmo que o fizesse, acredito que teria dificuldades para interpretar todas essas sutilezas, pois meu forte não é a literatura.
ResponderExcluirSó quero esclarecer que quando falo que o filme representa uma das possibilidades de se fazer "horror", não estou dizendo que isso é o melhor exemplo do gênero, nem mesmo que isso legitima uma forma de expressão normalmente considerada "menor". Muito pelo contrário; quero dizer apenas que amplia o leque. Você mesmo compara o conteúdo (as possibilidades) dessa trama com 28 DAYS LATER e DAY OF THE TRIFFIDS, duas obras reconhecidamente de horror.
Repetindo o que escrevi na postagem, não acho que muita gente vá concordar comigo, mas tampouco entendam como uma celebração ao filme como um exemplo do que se pode fazer de melhor no horror! Eu até gostei do filme, pois esperava algo muito mais pretensioso e metido à besta; achei, de fato, um tanto ingênuo e simplório, e justamente por isso me sinto à vontade para rotulá-lo de horror, pois tem muita coisa nesse gênero que oferece mais conteúdo do que a obra do Meirelles (aliás, como você mesmo afirma).
É pretencioso e ingênuo (duas características dos dos diretores brasileiros). Se o texto aponta (de fato) para novas possibilidades, o Meirelles ´coloca tudo a perder.
ResponderExcluirPois é, Leandro, justamente porque o Meirelles reduz tudo ao mínimo denominador comum é que eu me sinto à vontade pra chamar de "filme de horror". Não esperem que eu chame o filme (ou o diretor) de 'genial' ou coisa parecida.
ResponderExcluirAcho mais interessantes as investidas do Larry Fassenden e do Shyamalan. Embora eles nem sempre acertem, dão um banho no Meirelles e no Danny Boyle.
ResponderExcluirQuando chegar o dia que dependerei de gente como Shyamalan para ver algo "interessante" dentro do horror, será quando desistirei do gênero definitivamente.
ResponderExcluirEu gosto de "Fim dos Tempos" e "O Sexto Sentido". Não posso ficar indiferente ao talento dele. Mas o indiano é tão presunçoso e arrogante que "A Vila" e "Sinais" conseguem ser constrangedores.
ResponderExcluirconstrangedor é A DAMA NA ÁGUA. SINAIS é legal!
ResponderExcluireu li o romance do Saramago e achei o mais fraco dele, justamente por não disfarçar o tom moralizante.
já sobre o filme, eu não acho tão ruim, a não ser pela péssima direção dos atores... e concordo que pode ser visto como um filme de horror. aliás, dependendo de quem fosse o diretor, e não sendo baseado em Saramago, acho que isso nem seria questionado...
Poxa! Shalayamalamanalanlan é um ótimo diretor. Mas devia parar de escrever. Seus últimos filmes são constrangedores mas gosto do A Vila e de Corpo-Fechado (do qual nem o próprio diretor gosta e talvez por isso).
ResponderExcluirQuanto a este da postagem, faz tempo que quero ver.