A última noite de Luigi Cozzi no Fantaspoa, como já era de se esperar, foi outro momento memorável do festival, fechando de maneira merecida o ciclo dedicado ao veterano cineasta italiano. A sessão novamente teve lotação total da sala, desta vez com congestionamento até nos degraus, afinal o filme selecionado foi um giallo clássico dirigido por Dario Argento, o raríssimo Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, de 1971, que tem roteiro co-escrito por Cozzi. O filme em si é considerado o mais fraco da chamada ‘trilogia dos bichos’ de Argento (completada por O Pássaro das Plumas de Cristal e O Gato de Nove Caudas), mas ele me pareceu bem melhor na tela grande do que quando o vi pela primeira vez, num tosco DVD caseiro com uma cópia péssima que circulou entre colecionadores durante muitos anos.
Também foi emocionante acompanhar a entrega, por parte da direção do Fantaspoa, de um merecido ‘prêmio pela carreira’ a Luigi Cozzi, que levou para casa uma placa em homenagem aos anos dedicados ao cinema fantástico, abraçando os gêneros da ficção científica, fantasia, suspense e horror. Após a sessão, Cozzi respondeu a mais uma bateria de perguntas da platéia, desta vez concentrando-se mais em sua parceria com Dario Argento. O convidado de honra contou inúmeras anedotas dos bastidores do filme e não fugiu sequer da pergunta sobre o que acha das produções recentes do colega Argento. Felipe M. Guerra, curador da mostra e cicerone de Cozzi, foi preciso ao traduzir a resposta: “Como todo mundo, Luigi prefere os filmes mais antigos do Argento”.
Perguntado sobre se prefere escrever ou dirigir, Cozzi tampouco teve dúvidas: “O roteirista é um solitário e tem o mundo inteiro ao seu dispor. O diretor tem que lidar com dezenas de pessoas e precisa convencê-las a fazer exatamente o que ele quer. Prefiro muito mais ficar sozinho com minha máquina de escrever ou meu computador”. Falando especificamente sobre a construção do roteiro, Cozzi revelou que primeiro ele e Dario bolaram as cenas de morte e só depois criaram os personagens e a trama em si. Questionado sobre possíveis referências hitchcockianas na obra, o roteirista reconheceu que Alfred Hitchcock é uma influência constante nesse gênero, mas que a inspiração de fato veio do livro Black Alibi, de Cornell Woolrich.
Também foi emocionante acompanhar a entrega, por parte da direção do Fantaspoa, de um merecido ‘prêmio pela carreira’ a Luigi Cozzi, que levou para casa uma placa em homenagem aos anos dedicados ao cinema fantástico, abraçando os gêneros da ficção científica, fantasia, suspense e horror. Após a sessão, Cozzi respondeu a mais uma bateria de perguntas da platéia, desta vez concentrando-se mais em sua parceria com Dario Argento. O convidado de honra contou inúmeras anedotas dos bastidores do filme e não fugiu sequer da pergunta sobre o que acha das produções recentes do colega Argento. Felipe M. Guerra, curador da mostra e cicerone de Cozzi, foi preciso ao traduzir a resposta: “Como todo mundo, Luigi prefere os filmes mais antigos do Argento”.
Perguntado sobre se prefere escrever ou dirigir, Cozzi tampouco teve dúvidas: “O roteirista é um solitário e tem o mundo inteiro ao seu dispor. O diretor tem que lidar com dezenas de pessoas e precisa convencê-las a fazer exatamente o que ele quer. Prefiro muito mais ficar sozinho com minha máquina de escrever ou meu computador”. Falando especificamente sobre a construção do roteiro, Cozzi revelou que primeiro ele e Dario bolaram as cenas de morte e só depois criaram os personagens e a trama em si. Questionado sobre possíveis referências hitchcockianas na obra, o roteirista reconheceu que Alfred Hitchcock é uma influência constante nesse gênero, mas que a inspiração de fato veio do livro Black Alibi, de Cornell Woolrich.
Cozzi também falou sobre o processo criativo da trilha sonora, do qual participou ativamente, e os problemas que ele e Argento tiveram com o compositor Ennio Morricone, o qual discordava do rumo escolhido e acabou brigando seriamente com o diretor. Os dois só voltariam a se falar 25 anos depois. Foi idéia de Cozzi contratar uma banda de rock progressivo para gravar o tema de abertura e o grupo escolhido foi o Deep Purple, que na época estava no início de sua fase mais celebrada. A banda chegou a gravar a música tocada nos créditos, mas os integrantes não puderam aparecer no filme em si devido a restrições burocráticas da lei italiana, que exige que a maioria dos técnicos e artistas que participam de um filme sejam italianos. O vídeo postado aqui mostra a abertura do filme, com a banda tocando no estúdio, e se meus ouvidos não me traem, acredito que a gravação original do Deep Purple foi pelo menos parcialmente utilizada: o teclado principal não soa muito parecido com o de Jon Lord, mas acredito que há uma base com outro teclado. A guitarra não parece a de Ritchie Blackmore (cadê a alavanca?), mas os gritos parecem coisa do Ian Gillan. No final das contas, é uma bela trívia roqueira para enriquecer este giallo clássico. Quem quiser conferir o restante do filme sem levantar da cadeira, aqui estão as partes 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Um papo familiar
A sessão foi tão concorrida - e se espalhou até altas horas, com o pessoal do cinema literalmente nos colocando para fora - que não pude fazer as perguntas que tinha em mente, apesar de estar sempre de dedo levantado, pedindo a vez. Mas Cozzi foi simpático como sempre e, ao me ver na saída da sala, veio em minha direção e brincou: “Não teve perguntas dessa vez?”. Disse então que ia perguntar sobre o projeto do Frankenstein nazista que ele e Argento tentaram desenvolver na década de 70, e se é verdade que Argento costuma distorcer o roteiro escrito ao ponto de tornar algo que no papel é plausível e verossímil em algo completamente incompreendível nas telas, como Dardano Sacchetti certa vez comentou. Cozzi discordou veementemente e afirmou que tudo que ele escreveu foi seguido à risca por Argento, o que me deixou surpreso.
Conversamos também sobre a suposta misoginia de Dario Argento e se ele tem idéia do porque de os assassinos na maioria de seus filmes serem mulheres. Cozzi rebateu quando comentei que Asia Argento, filha de Dario, certa vez disse que o pai dela tem “algum problema” com a mãe dele; segundo Cozzi, Dario ama a mãe, nunca teve problemas com ela. “É uma família problemática, estão sempre brigando, é melhor manter distância”, recomendou; “o problema da Asia é que ela fala demais”.
Não acho exagero dizer que Luigi Cozzi talvez tenha sido a personalidade mais agradável já trazida a qualquer das edições do Fantaspoa. Inteligente, articulado, simpático e acessível, Cozzi certamente não é um autor celebrado por ter realizado grandes obras no cinema fantástico (apesar de nenhum dos seus filmes sofrer do mal de serem chatos; muito pelo contrário, todos são divertidíssimos), mas isso é plenamente compensado por ele ser um grande aficionado pelo gênero - em especial a ficção científica clássica - e possuir um vasto conhecimento sobre o tema. Cozzi também escreve sobre cinema de gênero, o que faz com que conversar com ele sobre cinema seja muito mais do que ter que apelar para a bajulação sem propósito.
Realmente, dá muita vontade de ter ido, nem que fosse só pra ver essas pérolas do horror mundial na tela grande. Vou procurar os filmes do Cozzi, que vergonhosamente tenho que admitir que não conhecia antes de visitar este blog tão legal.
ResponderExcluirGustavo, não é vergonha alguma não conhecer o Luigi Cozzi; ele é um cara importante, mas o cinema italiano de gênero tem muitos outros nomes essenciais que certamente estão à frente dele, como Bava, Agento, Fulci, Soavi e D'Amato. Cozzi fica no segundo escalão dessa gante toda, brigando com Umberto Lenzi e Ruggero Deodato, mas com alguma vantagem sobre Claudio Fragasso, Bruno Mattei e outros. Mais ou menos isso; certamente estou esquecendo de nomes importantes, mas o básico é isso.
ResponderExcluirFiz esta série de postagens para trazer o clima do Fantaspoa aqui para o blog, pois acho a existência desse festival algo indispensável para a manutenção da discussão sobre cinema fantástico no Brasil. Fico contente demais que tenha gente gostando desses textos!
Poxa! Não foi desta vez que pude conferir o Fantaspoa, nem o SP Terror, mas fiquei com água na boca! :/
ResponderExcluirEstou com este filme pra ver, talvez hoje. Sempre me falaram tão bem mas nunca tive a oportunidade de conhecer. Vamos ver o que acho e volto aqui pra comentar.
E como foram os cursos Primati?
Parabéns pelo trabalho!
Eu já tinha ouvido falar de Luigi Cozzi. E concordo com o comentário do Carlos, quando cita que ele pertence a um segundo escalão devido a essência do gênero no cinema italiano ser tão bem representada ontem, hoje e, porque que não dizer, sempre, por Mario bava, Margheritti, Dario Argento, Michelle Soavi, Fulci e etc. E quanto aos textos, se não fosse "Il Signore Primati", não estariamos a par das "acontecências" do festival, não é mesmo? Eu, pelo menos, é primeira vez que tenho um leque de notícias sobre um festival desse tipo, com cobertura detalhada. Melhor que isso, nem a "grobo"...
ResponderExcluir