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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Luigi Cozzi apresenta Hércules no Fantaspoa


   O veterano cineasta italiano Luigi Cozzi, o principal convidado da sexta edição do Fantaspoa, apresentou na noite de ontem seus épicos de fantasia Hércules e As Aventuras de Hércules no Cine Bancários, no centro de Porto Alegre. Carismático e sempre disposto a conversar com a platéia, Cozzi entra para a galeria das figuras mais simpáticas a participar do festival mais importante deste gênero realizado no Brasil.
   Os filmes são um pout-pourri de diversas produções de aventura da época, como Superman, o Filme, Conan, o Bárbaro e Fúria de Titãs, do qual pega emprestado a idéia dos mesquinhos deuses mitológicos manipulando o destino dos personagens. No segundo filme, a citação a Fúria de Titãs fica ainda mais explícita na cena da Medusa que vê a própria imagem refletida no escudo do herói e se transforma em pedra. Cozzi reconheceu a influência da megaprodução Superman de 1978 no estilo do seu filme e revelou que convenceu os produtores israelenses Menahem Golam e Yoram Globus a investir no projeto depois que o definiu como “um Superman do passado”.
   Aos espectadores menos preparados, Hércules (1983) é simplesmente incompreensível. Eu mesmo não entendi nada. Sua atmosfera de fantasia misturado a ficção científica – não muito diferente dos exemplares infanto-juvenis de Godzilla, por exemplo, outra paixão confessa de Cozzi – é encantadora, repleta de cenas com efeitos especiais charmosos e artesanais, com o indefectível sabor oitentista. O enredo, porém, é complicado demais, com os caprichos dos deuses, cada um querendo passar a perna no outro, tornando tudo muito confuso; não dá para saber quem está contra e quem está a favor de Hércules, pobre coitado.
   O herói interpretado por Lou Ferrigno, famoso pelo papel do Incrível Hulk na TV, é anunciado no início como o homem mais forte e inteligente do mundo. Forte ele até que pode ser, foi capaz inclusive de separar a Europa da África, dividindo os continentes. Mas chamá-lo de inteligente é exagerar na dose: Hércules é enganado por praticamente todo mundo que cruza seu caminho, e sempre surge alguém para lhe dar a idéia do que fazer a seguir. Outro contrasenso da trama é que todo mundo na história parece ter mais poderes do que Hércules: todos soltam raios, criam seres do nada e interferem na trama, enquanto que Hércules pode contar somente com seus músculos superdesenvolvidos e sua inesgotável ingenuidade.


   As Aventuras de Hércules (1985) dá continuidade à saga num estilo mais convencional, inspirado diretamente na mitologia grega (“tinha pouco tempo para escrever o roteiro, então fui a uma livraria e comprei um livro dessa grossura sobre os mitos gregos”, contou Cozzi), sem os elementos de ficção científica que tornaram tão peculiar o exemplar anterior. Ao beber diretamente na fonte, Cozzi realizou um filme mais sombrio e pessimista, porém também muito mais fácil de se compreender. Novamente temos deuses e semi-deuses caprichosos eternamente envolvidos em disputas de ego e vaidade, mas desta vez Hércules é mais útil e decisivo no desenrolar da trama. Seu objetivo também é mais claro: o musculoso herói deve recuperar os sete raios de Zeus, seu pai celestial, que foram roubados por um oponente e escondidos na barriga de sete monstros espalhados pela Terra.
   A conversa com Luigi Cozzi ao final da sessão, apesar da aparente timidez da platéia, encerrou em grande estilo a primeira noite com a retrospectiva da obra do cineasta italiano. Cozzi, ao lado de João Pedro Fleck e Felipe M. Guerra, curador da mostra, divertiu os presentes ao explicar em detalhes a origem do projeto, quando os homens poderosos da Cannon o chamaram às pressas para escrever um roteiro sobre Hércules em substituição ao ‘piece of shit’ proposto por Claudio Fragasso e Bruno Mattei. Cozzi então lhes ofereceu uma abordagem infanto-juvenil com elementos de ficção científica, com monstros mecânicos e máquinas metálicas, para a satisfação de Golam-Globus. O filme foi lançado diretamente no mercado estadunidense (“os italianos não viam sentido em fazer um Hércules vinte anos depois de esse tipo de filme ter saído de moda”, explicou Cozzi), onde faturou cerca de U$ 40 milhões, para a felicidade dos investidores.
   Outro momento divertido foi quando Cozzi revelou que As Aventuras de Hércules surgiu meio que casualmente, quando os produtores desistiram da produção Os Sete Gladiadores, que estava nas mãos de Bruno Mattei, e decidiram fazer um segundo filme com o herói grego. O detalhe é que Lou Ferrigno, o protagonista, não podia saber que estava filmando cenas de um segundo Hércules, e não do filme combinado sobre gladiadores. Por isso as cenas finais de As Aventuras de Hércules apresentam versões animadas do ator, feitas em rotoscopia e transformadas por meio de efeitos visuais. À certa altura, a versão animada de Hércules se transforma em King Kong e ele luta com um Godzilla feito só de luz.
   Luigi Cozzi admitiu também que copiou o ‘Monstro do Id’ do clássico de ficção científica Planeta Proibido (1956) por meio do processo de rotoscopia: “eu tinha uma cópia desse filme, que é um dos meus preferidos, e mandei o desenhista copiar toda a animação, cena a cena, pois o filme foi feito às pressas, não tínhamos tempo para nada”, revelou o cineasta. Luigi Cozzi e seus Hércules fora de moda são a essência do cinema de exploração italiano, onde pouco se cria, tudo se transforma e a criatividade surge de onde menos se espera. Certa vez o ator David Warbeck definiu assim o talento de Lucio Fulci: “é a capacidade de transformar nada em alguma coisa”. E isso vale para a maioria dos cineastas do gênero fantástico italiano.

10 comentários:

  1. Opa, legal que você gostou, Osvaldo! Vou tentar acompanhar todos os dias do Cozzi no Fantaspoa! O único problema é que sábado e domingo de manhã acontece o meu curso, então não sei como estarei em termos de sono, hehehe... Abração e obrigado.

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  2. Já estou instalado aqui em Porto Alegre, e apesar do maldito resfriado, estarei nas sessões de "Starcrash" e "Alien - O Monstro Assassino".

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  3. Opa, maravilha, Leandro, vamos nos encontrar lá.

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  4. E não dá pra imaginar o Lou Ferrigno como um sujeito super-inteligente, depois de ter interpretado o Hulk, né? hehehe

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  5. Por isso que o cinema é chamado de "fábrica de ilusões", hehehe...

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  6. esse é o livro que o 'maestro' usou como fonte:
    http://www2.ediouro.com.br/ograndelivrodosmitos/olivro.asp

    abraço

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  7. Opa, legal demais o tenente ter identificado o livro! É mesmo um calhamaço. Espero que mais pessoas que estiveram presentes nas sessões comentadas apareçam por aqui para contar mais experiências com Cozzi por Porto Alegre. Abração e até a próxima aventura!

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  8. O Lou Ferrigno até ficou legal de Hércules, mas só pela força... Acho que eu já vi esse filme na "Sessão da Tarde" da TV Globo. Tem uns efeitos que lembram muito as séries "Buck Rogers" e "Gallactica" da Universal. O texto está ótimo e divertido. Logan

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  9. Muito legal os textos sobre o Fantaspoa, Primatti. Uma cobertura dessas alivia um pouco a culpa de quem, como eu, não pôde ir. Ri muito com os "causos" da filmagem, como o Ferrigno pensar que estava em outro filme. Impagável!

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