CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Allison Hayes: The Undead (1957)

   Em março de 2010, quando este blog estava a todo vapor (infelizmente - ou felizmente - não estou com tempo para mantê-lo atualizado!), publiquei uma montagem (que não foi feita por mim) da atriz Allison Hayes numa cena do filme The Undead. Pois há alguns dias recebi un regalo de um leitor espanhol, que me enviou a imagem refeita - desta vez com os encaixes perfeitos, para que possamos apreciar sem interrupções todas as curvas da musa - acompanhada da simpática mensagem abaixo:

   Hi Carlos, from the Spain a present for you.
   Me gustó el montaje y quise mejorarlo. Creo que el resultado no ha quedado nada mal.
   Espero verlo en tu blog.
   Un saludo, bye.
   Raúl


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Excitação Diabólica (1982)

Horror no Cinema Brasileiro - 13 e 18 de abril

   O horror volta a atacar em dose tripla na Cinemateca de São Paulo, escolhendo justamente uma sexta-feira 13 para levar ao público aficionado pelo gênero obras raras desse gênero em nosso cinema. Repetindo o que aconteceu na primeira sessão da mostra, que destacou um filme pouco conhecido do brilhante cineasta John Doo, esta terceira edição traz como principal atração mais um longa do cultuado diretor da Boca do Lixo, recentemente falecido: a atração desta noite é Excitação Diabólica, de 1982. O filme traz a saudosa Wanda Kosmo no papel de uma velha prostituta - na verdade, uma bruxa asquerosa - que assume a aparência das beldades Aldine Muller e Zaira Bueno.
   A maratona horrorífica segue madrugada adentro com o clássico melodrama Meu Destino É Pecar (1952), dirigido por Manuel Peluffo e produzido pela Maristela, com roteiro baseado no folhetim assinado por Suzana Flag, na verdade um pseudônimo do escritor Nelson Rodrigues. Uma história de mistério e horror barroco, com clara inspiração em Rebeca, a Mulher Inesquecível (1940), de Alfred Hitchcock, um dos filmes preferidos de Rodrigues, a trama deliciosamente estapafúrdia inclui um suposto fantasma e um detalhado ritual de macumba.
   Fechando a trinca, o erótico e satânico O Castelo das Taras (1982), de Julius Belvedere, busca inspiração na figura malévola do Marquês de Sade para contar uma história de decadência, depravação e corrupção. O destaque fica para Esmeralda Barros, num dos papéis mais ultrajantes de sua carreira, reservando uma explosiva surpresa para os minutos finais. Um filme que nem sempre merece a devida atenção, mas inquestionavelmente um dos mais enfáticos exemplares do cinema de horror brasileiro.
   Confira o material do evento no site da Cinemateca, com serviço completo, incluindo endereço, fichas técnicas e sinopses.

A Noite do Chupacabras em DVD

   Finalmente chega ao DVD o segundo longa-metragem de Rodrigo Aragão, A Noite do Chupacabras. E a data não poderia ser mais simbólica: uma sexta-feira 13. Para consagrar esse dia de mística cinefilia, o filme Mangue Negro, o longa anterior de Aragão, será exibido no Canal Brasil às 00h30, na madrugada de sexta para sábado, prestigiando o cinema de horror brasileiro. Para adquirir os filmes do cineasta capixaba em DVD, basta acessar o site da produtora Fábulas Negras.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Horror no Cinema Brasileiro - 10 a 16 de fevereiro


   Não está morto o que não está enterrado. Ou melhor, mesmo o que jaz sete palmos abaixo da terra pode voltar para nos aterrorizar quando menos esperamos... Claro, estou falando deste blog morto-vivo, abandonado há meses como a mais tenebrosa casa mal-assombrada... Não era a minha intenção, é penoso largar um filho quando ele começa a criar personalidade, mas se é que existe um consolo nisso tudo, pelo menos o motivo foi justificável: não foi falta de assunto, interesse ou repercussão, mas absoluta falta de tempo! No último semestre fiquei ocupado com uma série de compromissos profissionais que me propiciaram participar de eventos como o Fantaspoa, RioFan e CineFantasy, os maiores festivais de cinema fantástico do Brasil, além dos cursos de cinema que regularmente levo a Porto Alegre pela produtora Cena Um. Também tive o privilégio de fazer parte da espetacular Mostra Hitchcock realizada no CCBB de São Paulo, com uma aula magna para uma plateia de altíssimo nível que lotou o cinema (e, ainda por cima, cercado de obras do genial E.C. Escher por todos os lados!). Igualmente memorável foi o agosto passado em Fortaleza, onde ministrei na Vila das Artes um curso de um mês de duração que passeou pelo cinema de horror desde os filmes mudos até as obras inigualáveis de José Mojica Marins, tema de uma mini-retrospectiva no evento. Depois, de volta para casa, ainda pude falar um pouco sobre a carreira de Vincent Price num rápido evento realizado no SESC Osasco.
   Feita a justificativa de tão absurdo abandono, vamos ao motivo desse glorioso retorno: começa na Cinemateca de São Paulo, na madrugada de sexta-feira, dia 10 de fevereiro, o ciclo Horror no Cinema Brasileiro, dedicado à exibição de longas-metragens nacionais desse gênero. O projeto, com curadoria de Eugênio Puppo, é um desdobramento da pioneira mostra idealizada por mim e por Laura Cánepa e produzida pela Heco, em 2009, que exibiu 25 dos mais importantes filmes brasileiros de horror no CCBB de Brasília e do Rio de Janeiro. Foi o primeiro passo de um audacioso projeto que pretende registrar toda a história do horror nas telas brasileiras.
   A ideia da mostra cresceu e a reencarnação paulista do evento ganhou um espaço fixo com sessões regulares: todo mês, três filmes diferentes serão exibidos numa maratona noite adentro, e depois reprisados ao longo da semana seguinte. Os títulos escolhidos para essa sessão inaugural não poderiam ser mais representativos: começa à meia-noite com O Despertar da Besta (1969), a obra-prima delirante de José Mojica Marins, seguido de Ninfas Diabólicas (1978), uma das obras mais importantes de John Doo - infelizmente falecido há poucos dias - e que não fez parte da mostra original de Brasília e do Rio de Janeiro, e, fechando a noite, O Maníaco do Parque (2002), de Alex Prado, filme que foi concluído somente em 2009 graças a esforços da Heco e da equipe organizadora do evento.
   Desta maneira, inicia-se um monumental resgate do cinema de horror brasileiro - algo sequer pensado até este momento - e que trará ainda muitas surpresas e filmes que são cultuados ainda por poucos, mas que despertam a curiosidade de muitos cinéfilos que até o momento só ouviram falar de tais pérolas, mas nunca puderam conferi-las. Entre os cineastas que serão contemplados com exibições nas próximas sessões provavelmente estarão nomes como Walter Hugo Khouri, Carlos Hugo Christensen, Júlio Bressane e Elyseu Visconti Cavalleiro. O êxito dessas sessões, com presença maciça dos amantes do cinema nacional e de filmes de horror em geral, será determinante para que o espaço continue sendo ocupado por esse evento. O Brasil tem pelo menos duzentos filmes de horror que merecem ser vistos e descobertos pelos aficionados pelo tema e que, até agora, sequer desconfiam de sua existência.
   Confira o material de apresentação do evento no site da Cinemateca, com serviço completo, incluindo endereço, fichas técnicas e sinopses.

domingo, 3 de julho de 2011

Cine Monstro: Felipe M. Guerra


   O VII Fantaspoa, Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, começou na sexta-feira, dia 1º, e por enquanto o foco principal tem sido totalmente na produção nacional, com as estréias do divertidíssimo A Noite do Chupacabras, de Rodrigo Aragão, e do surpreendente Pólvora Negra, de Kapel Furman, produções há muito aguardadas pelos aficionados por cinema de gênero nacional.
   A noite de domingo foi reservada para a primeira exibição de Entrei em Pânico ao Saber o Que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado 2: A Hora da Volta da Vingança dos Jogos Mortais de Halloween, de Felipe M. Guerra. Infelizmente, vencido pelo cansaço de duas manhãs de frio glacial ministrando o curso Expressionismo Alemão e os Primórdios do Horror, não pude ir à sessão do filme do Guerra (eu e a Bia ficamos dormindo no hotel, em outras palavras).
   Irei conferir o filme na exibição desta segunda-feira, e prometo postar impressões dos três filmes o mais breve possível, mas por enquanto deixo aqui o registro de uma matéria da Cine Monstro que nunca foi publicada. Trata-se do perfil que fiz do Felipe M. Guerra para o quarto número da revista, que chegou às bancas em janeiro de 2004. O texto estava finalizado e diagramado, mas as duas páginas acabaram caindo no último minuto para dar lugar ao obituário de David Hemmings, morto em dezembro de 2003. Desgraçadamente, aquela seria a última edição da Cine Monstro e as páginas, que seriam aproveitadas no número seguinte, ficaram guardadas inutilmente.
   O texto reflete a primeira impressão que tive dos filmes do Felipe, sete anos e meio atrás, e provavelmente não seria a mesma coisa que eu escreveria hoje. Será curioso - pelo menos para mim - conferir qual será minha reação diante da segunda parte da saga cômica de Felipe parodiando a safra mais comercial do cinema de horror.
 

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cinema da Boca: Fauzi Mansur

   A segunda edição do ciclo Cinema da Boca, que promete ser um espaço permanente de exibição da prolífica produção da Boca do Lixo paulistana, é dedicada a Fauzi Mansur, um dos mais ativos cineastas desse eixo. Seu próprio pseudônimo “Vitor Triunfo”, usado nas fitas de sexo explícito, é uma referência ao cruzamento das ruas Vitória e Triunfo, onde localiza-se o coração da Boca.
   A mostra do Cine Olido, que começa hoje, dia 21, e vai até o último dia de junho, apresentará quinze longas do diretor, que passou naturalmente da pornochanchada cômica para o filme de horror satânico, do drama romântico para a aventura indígena. O recorte da mostra representa apenas uma parcela da rica obra de Fauzi Mansur (não será exibido nenhum de seus muitos pornôs explícitos, por exemplo), mas aos entusiastas do cinema de horror recomenda-se não perder suas incursões no gênero: Atração Satânica e Ritual da Morte são dois dos mais extremos filmes nacionais do gênero. Realizados de olho no mercado estadunidense, com diálogos em inglês, os filmes mergulham no mais puro terror, exagerando no banho de sangue, mutilações, esquartejamento e tudo que o gênero sugere. Viraram cult em alguns círculos de colecionadores estrangeiros, mas ainda são virtualmente desconhecidos no Brasil.
   Igualmente imperdível é o raro A Insaciável (Tormentos da Carne), que será exibido no dia 28, com direção de W.A. Kopezky, sócio de Fauzi na produtora Virgínia Filmes. O roteiro, assinado por ambos, fala sobre reencarnação, maldição e vingança, com direito a pomba-gira e manifestações sobrenaturais. Fauzi, ao longo de mais de quatro décadas de carreira, realizou outros filmes interessantes flertando com o mistério, o suspense e o horror, como Ensaio Geral: A Noite das Fêmeas (1976), Belas & Corrompidas: Sexta-Feira as Bruxas Ficam Nuas (1978), Sadismo: Aberrações Sexuais (1983), o inacreditável pornô pós-apocalíptico As Ninfetas do Sexo Selvagem (1984), no qual assina sob o pseudônimo “Hizat Surman”, e o pesado Karma: Enigma do Medo (1988), creditado a “F. Faez”. Enquanto esses permanecem raridades que circulam apenas entre colecionadores, ao menos podemos conhecer uma parcela de sua obra na tela grande. Confira abaixo a programação completa da mostra do Cine Olido. As sinopses são da programação oficial do evento (que aparentemente confundiu Belas & Corrompidas com Atração Satânica na sinopse!).

Sedução: Qualquer Coisa a Respeito do Amor (1974)


Até encontrar um genro que possa lhe dar netos, pois a filha tem um tipo raro de sangue, um fazendeiro elimina todos os pretendentes à mão da moça. Quando ela se apaixona por um rapaz, elabora um plano para enganar o pai. Dia 21, 15h. Dia 28, 19h30.

A Noite do Desejo (Data Marcada para o Sexo) (1973)


Dois jovens operários saem em busca de uma noite de prazer pela cidade. Por serem menosprezados por onde passam, eles acabam se divertindo em um bordel barato. Dia 21, 17h. Dia 29, 19h30.

O Inseto do Amor: Anophelis Sexualis (1980)


Pessoas são picadas por insetos que escaparam de um laboratório. Elas poderão morrer se não mantiverem relações sexuais em até duas horas após o contágio. Dia 21, 19h30. Dia 29, 15h.

O Mulherengo (1976)


Após ser morto pelo pai de uma de suas vítimas, integrante de uma banda musical encontra um anjo que só permitirá que ele entre no paraíso se reparar o mal causado durante sua vida. Dia 22, 15h.

A Ilha dos Paqueras (1970)


Para conquistar quatro modelos que chegam a um luxuoso navio, dois tripulantes simulam um naufrágio e salvam as garotas, o showman e o comandante. A bordo de uma balsa, eles se dirigem a uma ilha, mas lá encontram um grupo de contrabandistas. Dia 22, 17h. Dia 30, 15h.

Cio... Uma Verdadeira História de Amor (1971)


Engenheiro é atingido por uma paixão sem limites por um garoto. Nem os prazeres da boemia, nem a dedicação de uma jovem conseguem fazê-lo esquecer o rapaz. Dia 22, 19h30. Dia 29, 17h.

Mulheres Eróticas (1984)
Ao saírem para uma orgia, três casais se deparam com um caseiro local que assume o papel de julgador e os prende, passando a matá-los um a um. Dia 23, 17h.

Atração Satânica (1989)


Inspirada em um serial killer francês, mulher começa a cometer assassinatos com sadismo e erotismo. Dia 23, 19h30. Dia 30, 17h.

Ritual da Morte (1990)
Livro contendo informações sobre antigos rituais indígenas é roubado por um grupo de teatro. Eles planejam encenar uma peça baseada nos textos, mas durante os ensaios um dos atores é possuído e começa a matar os demais. Dia 24, 17h. Dia 30, 19h30.

Orgia das Taras (1980)


Ao chegar a uma cidade do interior, homem se envolve em uma briga entre prostitutas e é salvo por um traficante. Ao descobrir as atividades ilícitas do novo amigo, o visitante passa a correr perigo. Dia 24, 19h30.

Sexo às Avessas (1982)


Casal inverte seus papéis na vida conjugal: ele se dedica às tarefas domésticas e ela se torna uma executiva conquistadora. A vida de ambos é abalada pelo flagrante de adultério entre a mulher e um amigo do marido que se tornou prostituto. Dia 25, 17h.

O Guarani (1979)


Adaptação do clássico de José de Alencar, o filme mostra a filha de um fidalgo da corte portuguesa que se apaixona por um índio. Dia 25, 19h30.

A Gaiola da Morte (1992)
Lutadores de artes marciais são sequestrados e obrigados a se enfrentar até a morte em um torneio. Dia 26, 17h.

A Insaciável (Tormentos da Carne) (1980)


Depois de ter problemas com a polícia, rapaz vai à fazenda de um casal de amigos para se recuperar. Estranhos acontecimentos que envolvem a morte de garotas o obrigam a fazer terapia. Dia 28, 15h.

Sexo Profundo (1981)


Para se vingar do marido adúltero, mulher o convida para um passeio à casa de veraneio da família. Depois de castrá-lo, ela o mantém preso em um sótão onde pode vê-la praticando sexo com homens e mulheres. Dia 28, 17h.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mostra Retrospectiva Troma

   Atenção, cinéfilos apaixonados por filmes podreira e cinema independente em geral: a cidade de São Paulo vai virar Tromaville... pelo menos durante uma semana! Entre os dias 31 de maio e 5 de junho, acontece no Cine Olido, na Avenida São João, a Mostra Retrospectiva Troma, dedicada à mais antiga produtora independente em atividade no mundo. O evento foi idealizado e organizado pela Black Vomit, produtora de Fernando Rick (Rubão o Canibal, Feto Morto, Coleção de Humanos Mortos), em parceria com a Galeria Olido, que recentemente nos ofereceu a mostra dedicada a Francisco Cavalcanti, em homenagem à produção da Boca do Lixo.
   O festival apresentará oito dos melhores filmes da Troma, começando pelas quatro partes da saga O Vingador Tóxico (1984-1999), e ainda Poultrygeist, a Noite dos Frangos Mortos (2006), Canibal! O Musical (1993), Um Terror de Equipe (1999) e Tromeu e Julieta (1996), além de três documentários sobre a Troma. Todos os filmes serão exibidos com legendas em português, em sessões gratuitas às 15h, 17h e 19h30.
   A azeitona na empada acontecerá no dia 4, quando o cineasta Lloyd Kaufman, fundador e presidente da Troma e uma verdadeira lenda viva do cinema independente, apresentará sua “master class” Make Your Own Damn Movie, das 13h às 19h. O evento contará com coffee break e tradução simultânea - e também é tudo de graça! As vagas são limitadas (no momento desta postagem restavam apenas algumas poucas das 150 cadeiras oferecidas), portanto os interessados devem se inscrever o quanto antes no site da Black Vomit. As inscrições vão até o dia 23 de maio.
 







segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cinema da Boca: Francisco Cavalcanti

   O cinema da Boca do Lixo paulistana, que durante tanto tempo só mereceu o mais absoluto desprezo por parte da crítica e contou, quando muito, apenas com o apoio das classes mais populares e a tolerância de profissionais da sétima arte que não conseguiriam trabalhar em nenhum outro tipo de filme, finalmente ganha um mais do que merecido espaço de exibição. O interesse por parte de historiadores e amantes do cinema nacional pelo prolífico legado dos cineastas da Boca só tem crescido nos últimos anos; não é exagero afirmar que a pornochanchada hoje atrai mais atenção de estudos sérios sobre nossa peculiar filmografia do que qualquer manifestação artisticamente mais “legítima”, como o Cinema Novo ou o Cinema da Retomada.
   O diretor Francisco Cavalcanti, um dos nomes mais conhecidos do eixo de produção que se concentrava no cruzamendo da Rua do Triunfo com a Rua Vitória, na metrópole paulistana, foi o escolhido para inaugurar um espaço permanente de exibição no Cine Olido, dedicado aos cineastas da Boca do Lixo. A mostra dedicada ao diretor apresentará treze filmes dirigidos por Cavalcanti, entre os dias 10 e 19 de maio, incluindo o inédito Amor Imortal, realizado em 2001 mas nunca lançado. Antes do longa será exibido o média-metragem Nobuko: Uma História de Amor, de 2009, e ao final da sessão dupla do dia 10, o diretor debaterá os filmes e toda sua carreira com a platéia.
   Quem não puder prestigiar a mostra no Cine Olido terá a oportunidade de acompanhar o ciclo de filmes de Francisco Cavalcanti que está sendo exibido no Canal Brasil: este mês já passou Ivone, a Rainha do Pecado e ainda será exibido o inacreditável Padre Pedro e a Revolta das Crianças (dias 15 e 17), que reúne num só pacote Gugu Liberato, Pedro de Lara e José Mojica Marins. Confira abaixo a programação completa da mostra do Cine Olido. As sinopses são da programação oficial do evento.

Padre Pedro e a Revolta das Crianças (1984)



Padre Pedro, acompanhado de um carneiro e de um bode, viaja por várias cidades para salvar igrejas ameaçadas por malfeitores, até encontrar seu grande desafio: um local dominado pelo diabólico milionário Rodrigo Napu. Dia 10, 15h. Dia 14, 17h.

O Porão das Condenadas (1979)



Para levar de volta a irmã que fugiu de casa para se casar, os irmãos matam seu marido e ferem seu filho. Ao crescer, o jovem volta para vingar a morte do pai. Dia 10, 17h. Dia 14, 15h.

Nobuko: Uma História de Amor (2009)
Após um casamento de sucesso, casal é surpreendido pelo diagnóstico de um câncer que pode causar a morte da esposa.

Amor Imortal (2001)
Garoto é preso após realizar um assalto com uma gangue. Ao sair da cadeia, vai em busca de sua parte no dinheiro roubado, sofre uma emboscada por parte dos companheiros e é salvo por uma mulher misteriosa que mudará sua vida. Exibições seguidas. Dia 10, 19h. Dia 15, 15h. Dia 19, 17h.

Homem sem Terra (1997)
Jovem precisa fugir da cidade após seus pais serem ameaçados de morte por conta de seu namoro com a filha do patrão. Anos depois, descobre que eles foram assassinados a mando do coronel, e volta para se vingar. Dia 11, 15h.

Os Indigentes (1996)
Após ser abandonado pelo pai desempregado e expulso da casa do tio, jovem se une a outros menores para formar uma gangue de trombadinhas. Dia 11, 17h. Dia 17, 15h. Dia 19, 19h30.

A Hora do Medo (1986)


Após ver o pai torturando a mãe durante o sexo, garoto rico cresce traumatizado e passa a assassinar todas as mulheres que a mãe traz para casa, enterrando-as nos fundos da mansão. Dia 12, 15h. Dia 15, 17h.

Instrumento da Máfia em Gosto de Pistola (O Cafetão) (1988)


Após pedir a um engraxate que tome conta de sua mala, bandido é morto por duas quadrilhas rivais. Dia 12, 17h.

Horas Fatais (Cabeças Trocadas) (1986)


Dois garotos ricos invadem a casa de um pacato cidadão, e violentam sua mulher e sua cunhada. Desiludido com o sistema judicial, ele quer vingança a qualquer custo. Dia 12, 19h30. Dia 17, 17h.

Ivone, a Rainha do Pecado (Uma Mulher Provocante) (1983)


Depois de ser levado para o Juizado de Menores porque sua mãe era prostituta, adolescente foge da instituição na companhia de dois colegas. Ao saber do ocorrido, a mãe parte em sua busca. Dia 13, 15h. Dia 17, 19h30.

Mudança de Identidade (Os Tarados) (1983)
Garoto presencia o estupro e a morte de sua mãe. Já adulto, sai em busca de vingança, tendo como única pista o relógio que o criminoso esqueceu no local. Dia 13, 17h. Dia 18, 15h.

Glória dos Canalhas (Violentadores de Meninas Virgens) (1983)


Ex-cafetão lidera uma quadrilha de raptores de garotas para servirem velhos milionários, e depois serem assassinadas. A polícia não tem nenhuma pista e a notícia se espalha, mobilizando a opinião pública. Dia 13, 19h30. Dia 18, 17h. Dia 19, 15h.

Almas Marginais (Sexo, Sexo e Sexo) (1984)


Dois amigos trabalham em uma oficina, mas ficam desempregados após um deles, viciado em drogas, matar o patrão. Eles começam a assaltar pessoas na rua e enfrentam um verdadeiro desafio durante um roubo ousado. Dia 14, 15h. Dia 18, 19h30

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cinema de Bordas (3ª Edição)

   Agora acho que dá para cravar: o Cinema de Bordas chegou para ficar. O evento chega à sua terceira edição consecutiva, cada vez mais prestigiado e ganhando maior destaque na mídia, abrindo espaço para a produção amadora e semi-amadora de nosso cinema de gênero. E tampouco seria exagero afirmar que é esse o cinema que “dá certo” no Brasil quando falamos de horror, ficção cientifica, fantasia e outros gêneros específicos que fogem da mesmice do nosso cinema “oficial”.
   O Cinema de Bordas é organizado por Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa, que realizam um trabalho pioneiro de garimpagem e seleção de curtas, médias e longas-metragens que, de outra maneira, dificilmente escapariam do completo anonimato. Nomes como Manoel Loreno (Seu Manoelzinho) hoje convivem lado a lado com realizadores da nova geração, como Rodrigo Aragão, Joel Caetano e Rubens Mello, além de outros que já estão na batalha há mais de uma década, como Petter Baiestorf, Coffin Souza e Felipe M. Guerra. Indo dos menos abastados e isolados social e geograficamente até os cinéfilos mais antenados e cultos, inclusive com formação acadêmica dentro do estudo de cinema, os ‘bordistas’ atualmente formam uma geração que possivelmente carregará a responsabilidade de manter vivo o cinema de gênero no Brasil.
   Segue abaixo o comunicado oficial do evento publicado no site do Itaú Cultural.

   O Itaú Cultural apresenta a terceira edição da mostra Cinema de Bordas, que reúne filmes produzidos de forma independente, com baixo orçamento e alguns de estética “trash”. São trabalhos que se concentram em narrativas de ficção e fazem proveito de histórias e imagens de outros produtos culturais, como filmes antigos, HQs e seriados. Também é característica dessas produções a adaptação do conteúdo segundo o modo de vida e o imaginário popular das comunidades envolvidas no processo criativo.
   Com curadoria de Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa, a seleção de filmes foi pautada em três momentos em que a produção foi descentralizada, permitindo a realização dessas obras: nos 1970, com o advento das câmeras VHS; durante os anos 1980, na época de ouro dos fanzines; e atualmente, com a popularização da internet, que permite maior contato entre os produtores e destes com o público interessado.
   As exibições, que acontecem de 19 a 24 de abril, são seguidas de bate-papos com alguns realizadores.

sábado, 2 de abril de 2011

Folha de S.Paulo: O roubo do cadáver de Charlie Chaplin (março a dezembro de 1978)

   Charlie Chaplin - imortalizado pela figura do vagabundo, que para os brasileiros ficou conhecida como Carlitos - morreu tranquilamente na noite de Natal de 1977, aos 88 anos, mas só pôde descansar em paz quase cinco meses depois. Essa série de reportagens publicadas no jornal Folha de S.Paulo entre março e dezembro de 1978 acompanham os bizarros acontecimentos envolvendo um caso de “atentado à paz dos mortos”, incluindo a descoberta dos criminosos, a mirabolante recuperação do defunto, um bocado de boatos estranhos e, finalmente, um evento comemorativo para celebrar o funeral definitivo do ídolo do cinema mudo e o julgamento dos ousados violadores de túmulo.









terça-feira, 29 de março de 2011

Barbe-Bleue (1901)


   O cinema, como nós o conhecemos, não foi inventado pelos Irmãos Lumière, mas sim por um mágico francês de nome Georges Méliès. Foi ele quem, literalmente, mostrou que cinema era magia, que fotografias em movimento poderiam - ou mesmo deveriam - ser um meio para se registrar a ficção, o faz-de-conta, o impossível, e não apenas flagrar momentos do nosso cotidiano. Méliès ganha ainda mais importância quando falamos particularmente do cinema fantástico: ele praticamente inaugurou o gênero horror com Le Manoir du Diable (1896), fez a primeira obra-prima de ficção científica com Le Voyage dans la Lune (1902), e adaptou alguns contos de fadas tradicionais, como Cendrillon e Barbe-Bleue, nos quais pôde abusar de cenários espetaculares, com perspectiva e profundidade, e elaboradas tomadas com vários figurantes.
   Barbe-Bleue, ainda que não seja dos filmes mais comentados de Méliès, é o curta-metragem que costumo exibir na abertura do curso A História do Cinema de Horror, para mostrar aos participantes um dos primeiros exemplares desse gênero; ou, caso seja ousadia demais rotulá-lo de ‘horror’, pelo menos representa o que podemos considerar como embrião do horror cinematográfico e do filme fantástico como um todo. A idéia é surpreender a platéia com um trabalho que pode ser considerado visionário, sem qualquer exagero, e desta maneira derrubar logo de cara quaisquer preconceitos (ou, mais especificamente, ‘pré-conceitos’) ou resistências em relação àquilo que pode ser o cinema de horror.
   O curta é uma adaptação da tradicional história do assassino Barba Azul, imortalizada na versão do francês Charles Perrault, sobre um homem que se casa pela oitava vez, depois que suas sete esposas anteriores faleceram (aparentemente, de causas desconhecidas ou inexplicadas). Quando se muda para a mansão do marido, a oitava esposa recebe as chaves de todos os aposentos da propriedade, mas é instruída pelo marido a jamais entrar num dos quartos. Quando ele se ausenta, obviamente, a primeira coisa que ela faz é visitar o tal aposento proibido, dominada pela invencível curiosidade feminina.
   Visualmente, o curta tem todo o charme encantador e irresistível das produções de Méliès, com cenários suntuosos criados de maneira simples, figurinos espalhafatosos e objetos com dimensões exageradas para exprimir de maneira enfática sua função narrativa (destaque para a imensa garrafa de champanhe na festa de casamento e a chave desproporcional que Barba Azul entrega à esposa).
   É no terço final de seus breves nove minutos de duração que o filme ganha força e mostra a arte inimitável de Méliès: ao descobrir o segredo sinistro que o quarto proibido esconde, a nova esposa enfim percebe o perigo que está correndo. A partir desse momento, o turbilhão emocional enfrentado internamente pela heroína é representado visualmente por meio de imagens surrealistas que externam os pensamentos macabros da mulher, como quando ela enxerga as sete vítimas anteriores do Barba Azul como chaves gigantes - um recurso narrativo brilhante que imediatamente nos comunica que todas elas tiveram o mesmo fim trágico e sofreram a mesma punição. Desta maneira, o curta praticamente inventa o ‘horror psicológico’, estilo narrativo que os historiadores costumam afirmar ter surgido somente na década de 40, com as produções de Val Lewton, ou mesmo com o lançamento de Psicose, em 1960. Na pior das hipóteses, Barbe-Bleue antecipou em quase quinze anos The Avenging Conscience (1914), de D.W. Griffith, e em duas décadas a fantasia e o imaginário surreal do Expressionismo Alemão.
   O diabrete que aparece saltitante em cena, uma imagem recorrente nos filmes de Méliès, simboliza a mente envenenada pela curiosidade destrutiva e pela ação inconsequente, um ousado recurso narrativo que pontua o curta com momentos de puro surrealismo e fantasia. Um homem décadas à frente do seu tempo, George Méliès sofreu como tantos outros gênios da arte - incompreendido em sua época, desprezado e condenado ao ostracismo no fim da vida, mas posteriormente celebrado e reconhecido por suas criações revolucionárias que serviriam de inspiração para impulsionar definitivamente o cinema de fantasia, ficção científica e horror.

terça-feira, 22 de março de 2011

O Ogro, de Márcio Júnior e Márcia Deretti


   Enquanto o cinema brasileiro de horror ainda aguarda uma improvável (re)descoberta por parte do grande público, uma visão que vá além de Zé do Caixão e Ivan Cardoso, as histórias em quadrinhos nacionais desse mesmo gênero já são devidamente consagradas e reconhecidas por sua importância e pioneirismo. Nomes como Nico Rosso, Flavio Colin, Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Jayme Cortez, Gedeone Malagola, Julio Shimamoto e outros há décadas são respeitados e cultuados por aficionados por HQs de horror, celebrados como verdadeiros ‘mestres’ dessa arte que desafia o preconceito de alguns e nunca deixa de ser apreciada.
   Uma parte desse capítulo importante na história dos quadrinhos nacionais está ganhando uma nova dimensão e um novo formato, por meio da realização de um curta-metragem de animação que dá movimento e som a um clássico das HQs. O projeto é capitaneado por Márcio Júnior, um apaixonado incondicional por quadrinhos de horror, com a colaboração de Márcia Deretti na produção e de Wesley Rodrigues na direção de animação. O curta, que deve ser o primeiro de uma série, resgata a história O Ogro, desenhada por Julio Shimamoto e escrita por Antônio Rodrigues, publicada originalmente na edição nº 27 da revista Calafrio, em 1984. A HQ é considerado um marco na carreira de Shima, um artista conhecido por sua inquietude criativa, que desenhou a história usando tinta branca sobre cartolina preta.




   As etapas de criação do projeto, realizado pela Marte Produções, podem ser acompanhadas em detalhes no blog oficial do curta, que traz trechos da HQ original e todo o processo de adaptação para a animação, com participação efetiva de Julio Shimamoto, atualmente com 72 anos e em plena atividade quadrinística. Shima ampliou o quadro das cenas mais fechadas, oferecendo aos animadores um universo mais definido, desenhou cenários e esboçou model sheets dos três personagens da HQ. O curta, com cerca de oito minutos, deve estrear ainda no primeiro semestre deste ano, e certamente marcará presença em vários festivais de cinema. Para conhecer melhor o projeto, vale a pena ler a entrevista com Márcio Júnior publicada no site Bigorna, especializado em histórias em quadrinhos.



   A idéia é inovadora e merece a torcida de todos pelo sucesso da empreitada, que deve prosseguir com a adaptação de outro clássico das HQs brasileiras de horror, desta vez uma obra-prima de Jayme Cortez.
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