CRÍTICAS, ANÁLISES, IDÉIAS E FILOSOFIAS EM GERAL A RESPEITO DE FILMES DE HORROR DE TODAS AS ÉPOCAS, NACIONALIDADES E ESTILOS, E MUITAS OUTRAS COISAS RELACIONADAS AO GÊNERO

terça-feira, 1 de março de 2011

Cisne Negro (2010)

Uma análise hitchcockiana 


   “Todos os bons filmes já foram feitos”, disse certa vez Peter Bogdanovich, crítico brilhante e cineasta de luz intermitente. O que pode parecer uma resignada descrença no cinema moderno é, na verdade, uma declaração apaixonada pelos filmes clássicos, aqueles que nunca terminam de dizer o que têm a dizer. São cada vez mais raras as novas idéias no cinema contemporâneo; não é o tipo de mídia onde a invenção e a novidade sejam regras. O normal é a repetição e a aposta no que está dando certo. A enxurrada de remakes e continuações nas últimas temporadas de Hollywood é uma triste constatação disso.
   Novidade: talvez esteja aí o cerne da discussão que divide o público de Cisne Negro entre devotos incondicionais e detratores impiedosos. O primeiro grupo se encanta com a complexidade da narrativa e o uso de símbolos e metáforas para retratar perturbações mentais; o segundo se irrita por isso não ser novidade alguma. Acho exagero levar a questão a tais extremos; novidade, é bom que se diga, nunca foi pré-requisito para bom cinema. Falando mais especificamente dos filmes de gênero, Carpenter, DePalma, Argento e Tarantino não são necessariamente originais, porém tampouco são realizadores desprezíveis.
   É nesse patamar que pretendo encaixar Darren Aronofsky, especificamente pelo que fez em Cisne Negro. O filme virou uma verdadeira coqueluxe em rodinhas de conversa de cinema, indo do diletantismo à erudição, e provavelmente sou a última pessoa do mundo a escrever sobre ele. A desculpa é prestar uma homenagem à premiação de Natalie Portman com o Oscar, a única real barbada dessa festa (está bem, Toy Story 3 como melhor animação era ainda mais previsível!). Porém, o viés de meu artigo é uma análise hitchcockiana do filme, a partir de suas características mais marcantes. Não quero reivindicar nenhuma originalidade no texto, pois acho a análise bastante óbvia; só quero deixar claro que não li nenhuma resenha sobre o filme e nem consultei as seções de trivias e movie connections do IMDb, por exemplo. Não sou do tipo que lê todas as críticas disponíveis antes de formar a minha opinião. A diversão, quero acreditar, é justamente expor as próprias idéias e dar início a uma discussão que, quando é boa, nunca se encerra.

Sexo e morte

   O nome de Alfred Hitchcock costuma ser evocado, quase sempre em vão, sempre que é lançado algum filme razoável de suspense. Muitas vezes, o responsável pela comparação sequer cita quais circunstâncias promovem tal aproximação; provavelmente apenas acha “chique e elegante” comparar algo a Hitchcock. O fato é que o rotundo diretor inglês não era gênio apenas porque era dotado de uma técnica impecável e contava histórias de suspense como mais ninguém. O que o tornava único - e, paradoxalmente, faz com que muitos o imitem - era sua obsessão, basicamente, por dois temas intimamente relacionados que, em suma, justificam nossa existência: sexo e morte.
   Todos os grandes filmes de Hitch foram elaborados sob a égide desse duo: Chantagem e Confissão, Pacto Sinistro, Um Corpo Que Cai, Psicose, Marnie, Frenesi, entre outros. O único outro tema que parecia interessar a Hitchcock era viagem, o que curiosamente o associa a Jim Morrison, dos Doors, que certa vez declarou que todas as canções de sua banda eram sobre “amor, morte e viagem”. Darren Aronofsky certamente não estava pensando em viagem quando fez Cisne Negro; tampouco é um filme sobre balé ou sobre uma jovem em crise porque tem medo de fracassar na carreira, como alguns parecem acreditar. Cisne Negro é, pura e simplesmente, um filme sobre sexo e morte, como esses dois temas se relacionam e como um inevitavelmente conduz ao outro.

O mundo é um palco


   O estilo narrativo de Cisne Negro segue um ensinamento hitchcockiano que pode ser resumido por uma frase célebre de Shakespeare: “o mundo inteiro é um palco”. A atuação, a dissimulação, a falsidade, mentira ou transformação, inclusive física, tanto no palco quanto fora dele, está presente em muitos filmes de Hitchcock: Assassinato, Pavor nos Bastidores, Um Corpo Que Cai, Cortina Rasgada, Trama Macabra e tantos outros. O processo enfrentado por Nina (Natalie Portman) no filme de Aronofsky é o mesmo de muitas heroínas hitchcockianas: tentar ser outra pessoa, assumir uma identidade que não é a dela, voluntariamente ou por alguma necessidade circunstancial.
   Também podemos interpretar como uma metáfora do próprio processo da criação artística, da construção de uma personagem ou de uma trama. Hitchcock fez exatamente isso em Janela Indiscreta, Disque M para Matar e Um Corpo Que Cai, nos quais há em cena um “diretor” que conduz a trama e o rumo dos personagens.
   A obsessão trágica de Nina em se tornar o Cisne Negro é a mesma de Scotty, um ex-policial, ao decifar o mistério de Um Corpo Que Cai: ele é prisioneiro de sua profissão e, portanto, não é capaz de não cumprir sua missão, mesmo que isso custe seu grande amor. Existem outros personagens similares na galeria hitchcockiana, como Mr. Memory, de Os 39 Degraus, incapaz de não responder uma pergunta quando é questionado, ou Lila, uma balconista de uma loja de discos que não resiste à tentação de olhar o que rola na vitrola da Sra. Bates ao invadir a velha casa sinistra de Psicose.
   Natalie Portman foi merecidamente elogiada, e vem colecionando prêmios em toda festa que comparece, por seu desempenho num papel duplo, e isso nos leva a outra obsessão de Hitchcock: a personalidade dividida, a idéia de que temos dois lados em constante conflito, o bom e o mau, às vezes convivendo dentro de uma mesma pessoa (Psicose), em outras, cindido em dois personagens (Pacto Sinistro). Aronofsky inclusive recorre a um truque essencialmente hitchcokiano para enfatizar isso, abusando do uso de espelhos (vide Psicose). O doppelgänger existe no cinema pelo menos desde o expressionismo alemão (O Estudante de Praga), mas Hitchcock de alguma maneira se apoderou do tema e o tornou seu.

Voando alto

   O quebra-cabeças hitchcockiano de Cisne Negro se completa com outras peças que compõem um enredo de obsessão, paranóia e pesadelo: a sexualidade reprimida que aflora com consequências trágicas (A Tortura do Silêncio, Psicose, Marnie), a ambiguidade sexual (Assassinato, Festim Diabólico, Psicose) e a mãe dominadora (Interlúdio, Psicose, Os Pássaros), elementos que se combinam com naturalidade. A cena na qual Nina tenta estimular seu desejo sexual se masturbando na cama, até perceber, horrorizada, a presença da mãe, que dorme numa poltrona ao lado da cama, combina de maneira soberba tanto o horror quanto o humor negro hitchcockianos.
   E, obviamente, não podemos esquecer aquela que talvez seja a mais reconhecível assinatura de Hitchcock e que tem relação explícita com Cisne Negro: a presença de pássaros para representar perturbação mental, loucura e delírio. Desde Chantagem e Confissão até a obra-prima Os Pássaros, passando inevitavelmente por Psicose, o diretor recorreu ao simbolismo das aves para retratar almas atormentadas e emoções sufocadas. O clímax do filme de Aronofsky também segue a cartilha do Mestre do Suspense em seus desfechos clássicos: a queda fatal, o despencar no abismo, muitas vezes punindo culpados e pecadores. Sabotador, Um Corpo Que Cai e Intriga Internacional são alguns dos filmes de Hitchcock que terminam com pessoas caindo no abismo, como acontece com Nina em Cisne Negro.


O duplo do duplo

   Não tenho a intenção de argumentar que Cisne Negro é um bom filme por ser um apanhado de temas tipicamernte hitchcockianos; o que me interessa observar é que Aronofsky emprega esses símbolos de maneira que dialogam diretamente com o estilo de Hitch. Não são características que encontramos casualmente nos filmes do Mestre do Suspense; são, isso sim, os alicerces de sua maneira de contar histórias. Mesmo os filmes menores do diretor costumam ser discutidos com interesse por apresentarem as mesmas preocupações. Cisne Negro, mesmo com suas imperfeições, também merece suscitar o mesmo tipo de debate, pelo menos para quem acha que vale a pena discutir as muitas possibilidades do horror. (Às vezes tenho a impressão que apenas filmes imperfeitos me interessam, pois são eles que nos revelam o processo humano - portanto fadado a erro - da criação cinematográfica; são eles que nos convidam à discussão, aguçam os sentidos e inflamam opiniões.)
   O tema não é novo - a quem quiser conferir outros bons filmes sobre doppelgänger, recomendo As Irmãs Diabólicas, A Janela Secreta, A Metade Negra e até os brasileiros O Sósia da Morte e Gêmeas - mas o filme de Aronofsky tem brilho próprio por conseguir compor personagens tão cativantes e envolver o público em sua obsessão particular. Num nível mais pessoal, comemoro que um filme denso e sombrio como este se torne tão popular e um papel feminino desses seja tão premiado, pois pode ser a deixa para que o cinema industrial americano invista em mais produções deste estilo e contemple níveis de horror que fujam do óbvio.
   A lição final, inevitável, é que ainda há o que se aprender com o cinema de Hitchcock, algo que fica muito além da visão superficial de imitadores de pirotecnias, maneirismos e finais-surpresa.

37 comentários:

  1. Onde você aprendeu a escrever assim? Hehehe. O texto está incrível! Adorei as comparações. Fiquei até emocionada de lembrar dos elementos que citou dos filmes do Hitch. Parabéns!

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  2. Opa, que legal que gostou! Eu realmente acho que esse filme é quase uma cartilha de temas hitchcockianos. E o melhor é que o filme tem vida própria e não salta aos olhos como uma imitação de Hitchcock, basicamente porque seus imitadores costumam ser bem mais superficiais.

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  3. Eu também evitei de ficar lendo críticas antes e depois de assistir, quando soube que estavam acontecendo "briguinhas" entre quem gostou e quem não. Interessante é que nenhum desses briguentos citou Hitchcock, mas para minha surpresa (e indignação) compararam o filme a Suspiria, única coisa que discordei veemente e abertamente. Só porque ambos os filmes tem bailarinas como protagonistas? Aí achei exagero.Assisti Suspiria e em seguida Cisne Negro de novo, e não encontrei semelhança alguma. Mas teimaram que havia, e essa eu não engoli.Para mim é coisa de gente que não gostou nem de um nem de outro filme.

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  4. Vulnavia, essa comparação com SUSPIRIA é uma das coisas mais surreais que já ouvi! E pelo menos duas pessoas vieram conversar comigo fazendo essa comparação. E eu: "Como???". Pois é, só porque tem bailarinas no papel central não faz sentido comparar os dois filmes. A questão é COMO Argento e Aronofsky tratam suas personagens femininas. O Argento, basicamente, não liga a mínima para o destino de suas mulheres, e as acusações de misoginia, no caso dele, fazem sentido.

    SUSPIRIA é mais um conto-de-fadas (não que CISNE NEGRO não o seja, de alguma maneira), e a Suzy é meramente uma mocinha incauta que vai parar na casa da bruxa escondida numa floresta escura. Não existe o tema do despertar sexual ou do conflito de personalidade, elementos que formam a alma do filme do Aronofsky.

    Ah, e obrigado pela visita!!!

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  5. Se fosse fazer uma análise, faria em cima do cinema do Roman Polanski, cineasta tão querido para mim quanto o Hitch é para o Primati. Ambos estão presentes em "Cisne Negro", e não nele que valide uma comparação com "Suspiria", além do tema balé - pior que chegaram a exibir um comercial de TV com a música de "Suspiria" de fundo ! Para os que viajam muito, sempre aviso que o Aronofsky refez as neuroses da personagem principal de "Perfet Blue", um anime que ele já havia citado em "Réquiem para um Sonho". A únida dúvida que fica, é se o Aronofsky assistiu "Étoile" do Peter del Monte.

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  6. Leandro, seu comentário é preciso; só quero destacar que gosto demais do Polanski. Só não gosto dos filmes ruins dele, enquanto que me interesso até pelos piores filmes do Hitchcock, mas para você ter uma idéia, meu filme de horror preferido é O BEBÊ DE ROSEMARY, e não PSICOSE, hehehe.

    Porém, como o Hitch veio bem antes, acho que a referência permanente para esse tipo de filme é o cinema dele. Eu diria que CISNE NEGRO tem a cartilha de regras do cinema de Hitchcock com uma heroína neurótica tipicamente polanskiana, vide REPULSA AO SEXO e O BEBÊ DE ROSEMARY. Mesmo assim, fiquei impressionado com a quantidade de "símbolos" hitchcockianos que o filme evoca!

    Conheço PERFECT BLUE só de nome, e parece que fizeram um trailer do CISNE NEGRO só com imagens desse anime, não é? Só a associação com SUSPIRIA é que me soa absurda...

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  7. Antes de comentar sobre o texto, comento sobre um dos comentários. Também vieram me comparar Cisne Negro com Argento outro dia! E eu respondi "só se for as unhas caindo", porque não tem nada a ver um com o outro. Eu sempre tive a impressão de que as mulheres do Argento são obviamente criadas por um homem hahahahahaha

    Anyway, adorei teu texto e odiei ao mesmo tempo, porque agora mesmo é que eu não vou conseguir escrever sobre o filme! Tinha pensado em comparar com Hitchcock, mas não consegui tirar o texto de dentro da minha cabeça.

    Achei Cisne Negro o melhor thriller dos últimos tempos e até passei mal depois que vi pela segunda vez.

    Adoro os trabalhos do Aronofsky e acredito que ele seja um dos maiores diretores da história do cinema [mesmo que ele vá dirigir Wolverine (o que me faz imaginar Wolverine com o estilo de Cisne Negro, o que seria engraçado - e bem melhor do que aquelas porcarias de filmes)].

    E volto a dizer que estou morrendo lentamente por dentro por não poder ir no curso no final do mês. É certo que vai ter no Fantaspoa?

    Outra coisa. Um amigo meu, que eu acho que irá participar do curso, pediu a uns meses atrás o teu email para poder enviar um roteiro que ele escreveu. Não sei se ele chegou a mandar, mas esqueci de te avisar (ele veio me perguntar outro dia e eu não lembrava se tinha te avisado ou não).

    Beijos!

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  8. Paloma, muito engraçado seu comentário sobre o Argento, hehehe... Realmente, as mulheres do Argento se comportam como a maioria dos homens gostaria que fossem: frágeis e submissas.

    Talvez você se lembre de alguns comentários que fiz durante o curso do Hitchcock, por exemplo, sobre o quanto as mulheres adoram os filmes dele, mesmo ele não fazendo o tipo "feminino", como George Cukor, por exemplo.

    Também comentei que se algum diretor quisesse fazer um filme genuinamente hitchcockiano, era só seguir a lista de temas que discutimos - e eu nem imaginava que logo sairia um filme como CISNE NEGRO!

    Pô, é chato demais que não possa ir ao curso de março, mas está garantido o curso de julho (primeira quinzena). Não vou revelar o tema, mas acho que é algo indispensável e que ainda merece ser (re)descoberto por qualquer pessoa que gosta de cinema.

    Sobre seu amigo, peça mil desculpas a ele! Recebi o e-mail sim, e acabei deixando para responder depois... e esqueci! Na verdade, um dos problemas é que eu não teria nada objetivo para dizer a ele, tipo "fala com Fulano", e deixei para escrever depois uma resposta caprichada e atenciosa. Se puder, diga para ele me procurar durante o curso, aí podemos conversar pessoalmente, e quem sabe pode surgir alguma solução mais imediata. ;)

    Agora vou ficar esperando você escrever sua resenha do CISNE NEGRO!

    Beijos!

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  9. Bom, já que o pessoal viaja e compara Cisne Negro com Suspiria por causa do balé, vou compará-lo com o Drácula do Browning por causa da trilha de Swan Lake! Hehehe. Desculpe, mas não resisti a piadinha infame. Concordo plenamente com teu texto e com o comentário do Caraça. Tanto Hitch quanto Polanski tem tudo a ver com o filme do Aronofsky. Em contrapartida vejo algumas relações interessantes com o filme anterior do cara, O Lutador, o que muita gente neglicência, embora os protagonistas estejam em estágios diferentes (enquanto Natalie Portman busca seu lugar ao sol, o lutador de Mickey Rourke está em plena decadência, o que poderia dizer, se me permite, uma espécia de retrocesso , hehehe), ambos são seres fechados em seus mundinhos (o balé e a luta livre), se tornando praticamente impotentes fora deles, são seres praticamentes associais (dentro desse parâmetro posso citar também o matemático do primeiro filme de Aronofsky, o Pi), tanto que em O Lutador e Cisne Negro concluem de forma semelhante: ambos os personagens terminam, o que é interessante notar, feridos dentro do universo que em se adequam unicamente, seja num ringue de luta, seja no palco. O próprio corte preciso no final de ambas as obras salientam isso: não há vida para eles fora de suas obssessões. Talvez eu nesteja viajando muito! De qualquer forma um filme desse porte, que nos leva a várias interpretações e discussões e ainda para na festa do Oscar, deve ser comemorado, afinal ainda há vida inteligente em Holllywood.

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  10. Ha, ia me esquecendo: parabéns pelo texto!!

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  11. Blob, o "Lago dos Cisnes" era o toque do único celular que tive na minha vida, justamente por causa do DRÁCULA do Browning, hehehe.

    Cara, seus comentários sobre o Aronofsky são interessantíssimos; o problema é que não vi os outros filmes dele (falha grave!), por isso fiquei só na 'análise hitchcockiana'. Mas essa alienação dos personagens pelo jeito é mesmo o estilo dele; afinal, não são todos alienados os drogados de REQUIEM FOR A DREAM (esse eu vi!)?

    Como falei no final do texto, quando um filme tem tantas qualidades, a discussão nunca termina - e estou adorando os insights de todos vocês nos comentários!

    Abração!

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  12. Pô... Eu sou um dos que te falou que havia algo de Argento no filme. Mas eu me referia ao visual.

    Algo na fotografia, na composição das imagens me lembra alguns dos poucos filmes dele que vi. Talvez por isso.

    Belíssimo texto Primati.

    Taí Hitchcock ensinando mesmo depois de ter deixado este plano. Mestre é mestre!

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  13. Rodrigo, você foi o único sensato que comparou CISNE NEGRO com Argento pelo aspecto visual; eu até ponderei que pode ser pelo fato de Hitchcock também ser uma grande influência no Argento. Mas tentar aproximar CISNE NEGRO de SUSPIRIA é ver só a superfície e não pensar no conteúdo.

    Insisto que acho impressionante o quanto esse filme tem encantado o público feminino, mesmo sendo denso e pessimista (ou seja, não é um filme fofo e meigo), ao mesmo tempo que não afasta o público masculino. E isso é válido para praticamente toda a obra hitchcockiana.

    De resto, obrigado pelos parabéns! E vamos continuar a discussão!

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  14. Cara falha grave é eu não ter visto Requiem for a Dream (por isso não citei nas minha s divagações), na real, só vi Pi, O Lutador e Cisne Negro. E todos retratam seres alienados (com o diferencial é que no final do Pi o personagem se desprende de suas obssessões, o que não rola nos outros dois, pelo contrário!). Agora, para não dizer que não falei das flores, a cena da apresentação final, a iluminação com o vermelho "profundo" em alguns momentos realmente lembra Argento, tanto quanto Bava, e a trilha o Drácula (não posso deixar escapar essa, hehehe).

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  15. Voltando as comparações ao O Lutador: É interessante notar que quando Aranofsky retrata competição (Cisne Negro) escolheu o balé e o universo feminino (quantos psicanalistas de boteco por aí não gostam de grasnar a respeito do fato de que as mulheres são mais competitivas que os homens blablablá), quando fala de decadência, afinal O Lutador nos remete a coisas que já viram dias melhores como a luta livre, e não é a toa que a trilha sonora seja basicamente de Hard Rock farofa oitentista (se bem que a prostituta "passada da fase áurea" interpretada pela Marisa Tomei bem que podia ficar lá em casa!), esse é simplesmente uma ode ao declínio!! Daí ele coloca um homem como protagonista. Seria aronofsky um pró-feminista? Se os dois filmes fossem filmados em ordem inversa alguém teria já feito essa associação (se é que já não fizeram). Claro que tudo isso pode ser uma grande bobagem da minha parte...

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  16. Pois é Blob, "Profondo Rosso" é justamente um dos filme que associei visualmente a Cisne Negro.

    Estão esquecendo "A Fonte da Vida" do mesmo diretor que é um filme belíssimo que trata do amor de uma maneira que me deixou arrasado após vê-lo.

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  17. Sobre as cores, ainda prefiro pensar que a influência é Mario Bava, não Argento. :)

    Sobre as comparações entre O LUTADOR e CISNE NEGRO, apesar de eu não ter visto o primeiro, acredito que ele apenas usou cenários que representassem melhor os universos masculino e feminino. Talvez não exista essa proposta de ridicularizar os homens e ser carinhoso com as mulheres. Acho que são obsessões diferentes e "quedas" diferentes, mas apenas por representarem mundos opostos.

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  18. Rodrigo, eu não esqueci A FONTE DA VIDA; apenas não o vi! ;)

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  19. excelente resenha... essa conexão entre sexo e morte é um dos meus temas favoritos (considero uma das grandes chaves da nossa existência) mas nunca o tinha observado no cinema de Hitchcock :\

    queria eu ter visto tantos filmes dele pra poder sustentar um argumento como você faz, mas mesmo não sendo um conhecedor tão profundo eu tb senti a sombra do gordinho em Black Swan, e concordo com todas as observações que você fez!

    meu ponto de vista é um pouco diferente, pois sou um grande fan do cinema do Aronofsky! comparo o Black Swan principalmente aos outros filmes dele... a forma como Nina vai perdendo gradualmente a sanidade me remete muito ao matemático de Pi; além das obcessões, a realidade turva de todos os seus filmes, as drogas, etc

    não acredito que você não assistiu os filmes dele, pode colocar ai The Fontain na sua lista de prioridades :)

    abs
    naga

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  20. A Fonte da Vida também não vi :(

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  21. Primati sempre do contra! :)

    Corram ver A Fonte da Vida... Depois compartilhem suas opiniões. É um filme de difícil digestão, a princípio, mas é muito bom.

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  22. Mesmo com poucos filmes na carreira, o Aronofsky trabalhou sempre com os mesmos temas : obsessão, paranóia, amores perdidos. "Cisne negro" de início seria sobre a rivalidade entre duas bailarinas, depois se transformou no conto de paranóia de uma bailarina. Não sei, mas me parece que o Aronofsky de propósito buscou inspiração no anime do Satochi Kon, "Perfect Blue", que ele havia citado em "Réquiem para um Sonho", como eu mencionei antes. Engraçada que na Fangoria, o "Perfect Blue" foi chamado de cruzamento entre Argento e Disney, uma bobagem sem tamanho ou fundamento.

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  23. Eu também falei do "Étoile", filme italiano onde a Jennifer Connely faz uma bailarina que ganha o papel principal numa montagem de "O Balé dos Cisnes". Fico imaginando se o Aronofsky também viu esse filme : http://buchinsky.wordpress.com/2011/01/15/etoile-1988/

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  24. Está tudo interligado no mundo de Darren Aronofsky :

    Jennifer Connelly estrela "Etoile".
    Onde interpreta uma bailarina chamada Natalie.
    Satoshi Kon dirige "Perfect Blue".
    Darren Aronofsky dirige "Réquiem Para um Sonho".
    Estrelado por Jennifer Connely.
    Com uma cena copiada de "Perfect Blue".
    Darren Aronofsky dirige "Cisne Negro".
    Uma mistura de "Etoile" com "Perfect Blue".
    Estrelado por uma atriz chamada Natalie.

    É para se pensar, não ?

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  25. Leandro, amei sua dia do ÉTOILE. Amei as imagens. Não conhecia o filme, vou correndo assistir!

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  26. Eu sou o amigo da Paloma que mandou o e-mail =P e também fui um dos que achou referências a Argento (na verdade não especificamente a ele, mas sim em terror italiano em geral) na hora da construção do visual e clima do filme, e não psique dos personagens. Aliás, não só terror italiano, além de Bava, Fulci, Argento, etc, vejo muito de Polanski com o Bebê de Rosemary, De Palma com Sisters, Cronenberg com Gêmeos, Bergman com A Hora do Lobo e etc. Acho que ele bebe da fonte de todos esses. Pra mim esse Cisne Negro (referente principalmente a VISUAL e clima) é uma compilação de vários elementos de terror já conhecidos por aí. O que não tem nada de errado. Prefiro bem mais esse Aronofsky preocupado com o visual, do que aquele altamente metafórico e pseudo profundo do lixão Réquiem Para um Sonho (e longe de mim dizer que esse não é matafórico, acho ele excessivamente até, mas não vejo isso engolindo todo o resto). E se é pra "referenciar", ele escolheu um ótimo cinema pra fazer isso.

    E se fosse falar especificamente da construção da personagem, eu lembraria muito mais de Haneke, principalmente de A Professora de Piano, do que de qualquer outra coisa. Mesmo que tratem mais ou menos com o exemplo oposto. Se aqui a Natalie Portman vive essa reprimida sexualmente, atormentada pela mãe, que cria um universo doente e obsessivo pra fundir sua vida ao espetáculo; e no filme do Haneke vemos uma professora reprimida socialmente e principalmente psicológicamente, atormentada pela mãe, que utiliza o sexo violento como manifestação explosiva de toda essa repressão, o caminho que elas percorrem de certa forma é muito parecido: o sexo como elemento de fúria. Uma estravazando incontroladamente, outra segurando de dentes cerrados. E seja estravazando ou segurando, as consequências são muito parecidas. Uma jornada interior auto-destrutiva, com degradações fisícas (que em caso da Professora interagem diretamente com a psicológica), ou psicológicas (que no caso do Cisne, começam a ter efeitos fisícos, e aquela cena da pele e do dedo eu vou levar cravada na minha retina por muito tempo, sensacional). Também não vejo esse excesso de proteção das duas mães como coincidência, e esse disturbio sexual devido a isso.

    Se eu fosse "chutar" a maior referência do Aronofsky para criar a psique da Nina, seria a desse filme. Mas também não sou um grande conhecedor do Hitchcock, vi uns 5 ou 6 filmes dele apenas. E se Cisne Negro realmente tiver toda essa semelhança com os filmes do cara (o que não seria nada difícil, porque todos esses diretores que citei, Argento, De Palma, Polanski, etc, beberam da fonte do Hitchcock também), não vejo como A MAIOR referência. Mas independente de eu concordar ou não, achei tua visão bem interessante, e é isso que vale. Até porque se o cinema transmitisse as mesmas impressões para todas as pessoas seria uma bosta. Vou ficar de olhos nos teus próximos textos. =]

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  27. Belo post, Carlos. Entre o tanto de coisa que já foi dita e redita sobre o "Cisne Negro", achei super interessante a sua abordagem, que se destaca.O fantasma de Hitch pairando sobre nós. No "Cisne", me atrai muito o lado borderline da protagonista, que é fascinante, a psicanálise é outra das grandes chaves do filme. A tal ascese pelo feminino, mesmo que tresloucado (e às vezes previsível).

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  28. Realmente Carlos, o prêmio dardos foi perfeito para vc; um texto preciso, bem escrito. De tudo que eu já li sobre Cisne Negro, sua análise se destacou pela profundidade e conteúdo. Mas, não tive a oportunidade de assistir a este filme ainda. E seu texto me deixou com mais vontade ainda de assistí-lo!

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  29. Nagash, recomendo demais que você veja os filmes do Hitchcock para conferir essa relação sexo/morte. Além de PSICOSE, obviamente há isso em VERTIGO, que é basicamente um conto de paixão necrófila, e FRENESI, no qual essa receita é acrescida pela relação com a comida e várias maneiras cerimoniais de comer/estuprar/matar.

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  30. Oi, Andrea! Tem gente por aí chamando CISNE NEGRO de "o pior filme do mundo", o que para mim só pode ser coisa de gente recalcada... No mínimo, o filme tem isso que você disse: a protagonista nos limites, uma bailarina destruída pelas obsessões.

    Li críticas dizendo que "o problema do filme é que a bailarina é reprimida sexualmente", tipo querendo invalidar a proposta! Poxa, nem vamos falar da "vida real", onde todo mundo tem problemas, mas o que mais interessa no cinema são personagens problemáticos, não é? O que mais me atrai em filme é quando um personagem só toma decisões erradas, se destrói por pura estupidez e incapacidade de conduzir a própria vida.

    Isso me faz lembrar a espetacular frase final de BABY JANE: "Então quer dizer que nós poderíamos ser amigas esse tempo todo?".

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  31. Thiago, curiosíssima sua análise, e, como você mesmo disse, o importante não é concordar, e sim não deixar a discussão se esgotar! Ainda acho que a inspiração do Aronofsky é mais para os grandes mestres, e não de cineastas contemporâneos, como o Haneke. Mas nada impede, obviamente, que o cinema de ambos seja próximo.

    Ah, vê se aparece no curso de horror no final desse mês!!

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  32. J. Luca, bem no alvo, hehehe... Poxa, acho que você é a terceira pessoa que diz que vai ver o filme depois de ter lido o meu texto. Acho que não existe prêmio maior do que esse!

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  33. Carlinhos, há dias que a Beatriz me havia falado da excelência de seu artigo "Uma análise hitchcockiana" sobre o filme Cisne Negro(2010), tendo, inclusive, me enviado, via Facebook e Gmail, o link respectivo. Inobstante, e como você já sabe, o tempo conspira contra mim. Mas hoje, entretanto - num domingo de Carnaval e em paz - decidi trapaceá-lo e "beber em sua fonte", isto é, aprender com você. Primeiramente, como sói ocorre, fiquei encantada com toda a sua sapiência, ao tempo em que também pude constatar que nesta seara estou apenas engatinhando. Isto, porém, não me desestimula ao estudo da matéria. Muito pelo contrário. Atualmente, ando pesquisando bastante, por conta das aulas de Cenografia que me estão sendo ministradas, pelo cenógrafo Sérgio Azevedo da Silveira, no Curso de Belas Artes da UNIFOR. Lá também estudo interpretação, dentre outras disciplinas. É, indubitavelmente, um mundo novo que se descortina, com todo o seu encantamento e desafios.
    Mas, voltando ao seu artigo, confesso que, até hoje, não sabia que Pacto Sinistro, Marnie, Frenesi, Assassinato, Disque M para Matar, Pavor nos Bastidores, Cortina Rasgada, Chantagem e Confissão, Trama Macabra, Janela Indiscreta, Os 39 Degraus, A Tortura do Silêncio, Festim Diabólico, Interlúdio e Sabotador eram do Mestre do Suspense. Dele, só conhecia Psicose, Um Corpo Que Cai e Os Pássaros. Assim mesmo, só de nome, pois nunca assisti nenhum. Apesar, todavia, da minha ignorância nesse particular - pois, como disse, somente agora estou incursionando, como estudiosa (e, ainda, timidamente), neste mundo fascinante da Sétima Arte - li, como muita atenção, as confrontações que você estabeleceu entre a obra do mestre inglês Alfred Hitchcock e Cisne Negro, filme de Darren Aronofsky, e anotei, cuidadosamente, as semelhanças que encontrou. Até então, não sabia, por exemplo, que o duo sexo e morte são pilares da obra do admirável cineasta britânico.
    Enfim, parabéns, pela excelência de seu escrito, e muito obrigada pelos ensinamentos nele contidos.

    Beijos

    Cléria Saldanha

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  34. Uau, que visita mais nobre!! Isso é raro! Fico contente demais que a senhora esteja começando a se interessar pela sétima arte. A magia e a força do cinema é o poder de se contar uma história que é facilmente perceptível na superfície, mas que permite inúmeras interpretações de seu significado e de seus símbolos.

    Por exemplo, ainda falando sobre CISNE NEGRO, a bailarina é morta por um pedaço de espelho; ou seja, ela morre por seu próprio reflexo, pelo duplo dela que a assombra, e não por uma rival, como ela pensa, em seus delírios.

    Hitchcock é um cineasta sempre atual não pela técnica dos filmes dele, mas porque os temas que ele abordou nunca deixam de interessar; nominalmente, sexo e morte e as consequências muitas vezes trágicas de como encaramos isso.

    A Bia está enamorada do CISNE NEGRO e não sei como ela não a arrastou para mais uma sessão do filme, hehehe.

    Agradeço imensamente a visita e gostaria que pudéssemos conversar cada vez mais sobre esse assunto.

    Beijos,
    Carlos

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  35. Carlos,
    Seu blog é a melhor leitura sobre cinema que há no país. E este texto me deu a maior vontande de rever todos os Hitchcocks citados!
    beijo

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  36. Uau, obrigado! Isso sim é elogio!

    Como dizia a antiga seção de cartas da FANGORIA: "Procura-se mais leitores como esse..." (com uma foto do Joe Dante, John Landis ou David Cronenbeg lendo a revista!).

    Mais uma vez, obrigado e um beijo!

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  37. Desde a minha postagem original, alguns amigos vieram comentar mais alguns insights que, de certa maneira, confirmam minha abordagem hitchcockiana.

    Uma das idéias, com a qual concordo plenamente, é que a mãe de Nina é uma personagem imaginária, impressão confirmada por diversas cenas-chave. A própria cena da masturbação, quando a garota vê a mãe dormindo ao lado, para mim é claramente um delírio da moça, que, ao melhor estilo Norman Bates, vê a moral (na forma da mãe repressora) se manifestar sempre que a libido comanda.

    Outro aspecto que negligenciei no texto, mas que é totalmente hitchcockiano, é o uso do figurino: claro para a Nina boazinha; escuro para o seu lado sombrio. Hitchcock usou esse tipo de símbolo em vários filmes, como DISQUE M PARA MATAR e PSICOSE, só para citar os mais óbvios.

    Para encerrar, quero recomendar àqueles que compararam CISNE NEGRO com Dario Argento que leiam esta postagem antiga (mas de saudosa memória, hehehe): http://cine-monstro.blogspot.com/2010/07/luigi-cozzi-apresenta-black-cat-e.html.

    O tema da atriz obcecada em conseguir um papel, que enlouquece aos poucos e mergulha nesse mundo imaginário, tem mais a ver com O GATO NEGRO / FILMAGEM MACABRA, do Luigi Cozzi, do que com qualquer coisa do Argento.

    Pelo menos está lançado mais um tópico para discutirmos! ;)

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