Para contemplar as presenças de George Zucco e Bela Lugosi na enquete acerca dos astros do horror clássico, escolhi rever em DVD esta confusa produção de 1947, que vi há muitos anos (se não me engano) num site de vídeos stream. Quem quiser conhecer esta paupérrima produção da Screen Guild basta clicar no botão play acima (preferencialmente usando Internet Explorer); ou, se for do tipo completista, pode baixar o filme legalmente aqui, de graça.
Morrendo de Medo (Scared to Death) é o único filme de horror colorido da carreira de Bela Lugosi, feito num processo econômico chamado Cinecolor (ou Natural Color, segundo os créditos de abertura). Deve haver alguma coisa errada na cópia que circula em DVD e na internet, pois uma tal “máscara verde” que tem alguma importância na trama na verdade é azul! Problemas daltônicos à parte, trata-se de um convencional filme ruim na carreira de Zucco e Lugosi, dupla fadada a atuar em filmes ruins durante grande parte de suas carreiras. A trama é confusa e estapafúrdia, seguindo o padrão enxuto das produções dos estúdios pobres da década de 1940: personagens confinados a um único cenário, pouquíssima ação e muito falatório.
Costuma-se dizer que George Zucco era a opção barata quando Lugosi e Karloff não estavam disponíveis, mas essa é uma maneira simplória e equivocada de tratá-lo. Zucco sempre dava um ar de dignidade aos filmes que fazia, com seu profissionalismo e dedicação. Mais do que Lugosi, que quase sempre parecia estar no limite da paródia, Zucco se esforçava em soar natural em seus papéis, por mais esdrúxulos que fossem. O duelo entre os dois astros em Morrendo de Medo - no qual interpretam primos que não são exatamente melhores amigos - é uma amostra fiel da diferença de estilo (e talento) entre os dois. Lugosi, acompanhado pelo diminuto Angelo Rossitto (meu anão cinematográfico predileto, cuja carreira vai de Freaks, de 1932, a Mad Max III, de 1985), surge em cena para atrair para si todas as suspeitas. Capa preta, olhar misterioso, falar entre dentes... Bela é o hipnotizador Leonide, o estereótipo do vilão. Tão maligno e sinistro que fica óbvio desde o início que ele é inocente. Zucco, por sua vez, compõe um personagem mais cativante, de fala mansa, manipulador, cínico.
O filme é narrado todo em flashback, em tom de comédia de humor negro, pelo cadáver de uma moça que relembra sua morte enquanto aguarda ser autopsiada no necrotério. Suas seguidas intervenções, acompanhada por uma repetitiva vinheta sonora, são ridículas e irritantes. Igualmente inconveniente é o papel de Nat Pendleton, um segurança que perambula pela clínica fazendo investigações por conta própria. A trama envolve uma série de personagens suspeitos que transitam pela tal clínica, na qual o Dr. Zucco é uma espécie de psiquiatra. Morrendo de Medo é notável apenas por se tratar de um dos pouquíssimos filmes de horror realizados em 1947, época em que o gênero foi praticamente banido de Hollywood, deixando Lugosi, Karloff e outros atores desempregados. É também um dos últimos filmes de Zucco, que tem cerca de 25 títulos de horror no currículo, sendo outros dois deles em companhia de Lugosi. Ele assumiu o papel que seria de Lionel Atwill, que adoeceu - e acabou falecendo - pouco antes de iniciadas as filmagens. Zucco morreu em 1960, muitos anos depois de ter se afastado das telas, o que deu origem ao rumor de que ele passou seus últimos dias enlouquecido num sanatório, agindo como um personagem típico dos seus filmes.
Morrendo de Medo permaneceu inédito no Brasil tanto nos cinemas quanto na televisão, mas foi lançado em VHS há uma eternidade. Também passou no saudoso canal Retrô, da Sky. Amanhã comentarei mais um filme com George Zucco, desta vez uma produção de primeira linha, para variar. Quem quiser conhecer outras obras dele, recomendo The Flying Serpent (1945), no qual ele controla um pássaro mitológico para eliminar seus rivais, e Dead Men Walk (1943), refilmagem disfarçada de Drácula, com direito a dose dupla de Zucco e a preciosa presença de Dwight Frye, num de seus últimos filmes, interpetando um maluco obviamente inspirado em Renfield.
Que texto delicioso! Pela sua descrição detalhada, o filme até parece bom, não fosse por seus comentários negativos. Mas a grande quantidade de personagens (que parecem interessantes) torna lamentável o fato de ser tão previsível.
ResponderExcluirMuito bacana o seu blog! Longa vida ao Cine Monstro!
ResponderExcluirUau, que sensacional, mais uma visita de um grande amigo. Obrigado por aparecer, Edson!
ResponderExcluirEntre no sucrilhosforever.blogspot.com e diga o que acha do meu último post, é sobre aquela história do Diabo. Aguardo as suas impressões.
ResponderExcluirSem querer fazer propaganda e já fazendo. Primati, escrevi sobre A NOITE DO DEMÔNIO, que imagino que você curta. Se puder dar um pitaco pra enriquecer o espaço, ficaria grato. Abração!
ResponderExcluirhá um erro na informação do filme ser inédito nos cinemas do Brasil.
ResponderExcluirAssisti ele em 1962 com o apelativo nome de "A Noite do Vampiro",numa alusão ao filme "O Vampiro da Noite"(Horror of Drácula da Hammer) e tentando associar a imagem de Bela Lugosi ao famoso Drácula que ele interpretou nos anos 30.
Fui ver o filme pensando ser de vampiros, mas a trama nada tinha a ver com isso...
era criança e achei no final quando os cães atacam Bela Lugosi,e sai sangue dos seus dentes,que finalmente ele viraria vampiro,mas era só o final do filme...sai murcho do cinema.
Caro Anônimo, você está confundindo os filmes. O texto se refere a SCARED TO DEATH, e não existe essa cena com Bela Lugosi sendo atacado por cães. Não me lembro de um filme dele que termine assim, mas vou tentar descobrir a qual filme você se refere. O filme SCARED TO DEATH pode ser visto aqui no blog, clicando no vídeo no topo desta postagem, caso queira tirar dúvidas. Grande abraço e visite-nos sempre!
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