Maravilhosa incursão de Jean Garrett pelo universo fantástico, A Força dos Sentidos (1980) é uma obra de inspiração lovecraftiana com um clima poético e melancólico que considero comparável aos melhores trabalhos de Jean Rollin (em especial, Lèvres de Sang). Faz algum tempo que quero escrever um texto à altura deste filme, pois ainda acho que pouco se escreveu de instigante a respeito dele (Excitação, do mesmo Garrett, é muito mais popular entre os cinéfilos interessados na produção nacional). Acabei optando por fazer uma fortuna crítica do filme.
Quem se aventurar pelos textos compilados abaixo certamente achará fascinante a pluralidade de opiniões. Aqueles que ainda não conhecem os textos de Jairo Ferreira - de quem tive o privilégio de ser “colega” na série especial do centenário do cinema no Jornal da Tarde - poderão acompanhar o quanto ele conhecia de cinema fantástico. Não apenas foi um dos poucos críticos brasileiros que apreciava filmes de horror e ficção científica, mas um dos raríssimos a escrever sobre o tema com sabedoria. Por sua vez, a crítica de Rubens Ewald Filho - definido com sagacidade genial aqui - é mais um atestado de preconceito pequeno-burguês, capaz de enxergar no filme somente méritos técnicos. Isso também parece ser a única coisa perceptível para os demais críticos.
Caso queiram ler coisas ainda mais assustadoras, confiram os documentos oficiais do processo de censura do filme.
Primati, fiquei curiosíssimo de ver... a única maneira de conseguir é contigo?
ResponderExcluirThomazzo, que visita ilustre! Digamos que eu tenho o filme e não teria sentido não compartilhá-lo contigo, certo? Provavelmente a Laura também tem. Vamos nos falando e armamos isso! Precisamos de mais pessoas comentando e divulgando essas preciosidades. Grande abraço.
ResponderExcluirE ai primati, olha eu de novo... cara, eu li seu post e estava pensando com meus botões: porra, eu passei minha pré-adolescência e adolescência lendo coisas como Set, Cinemim, e claro, Video News. Ou seja, li muuuuitas coisas do Rubens Ewald Filho naquela época e, acredite, minha opinião quanto a ele continua a mesma daqueles tempos: o cara é um baita babaca!!!
ResponderExcluirBlob, essa é a visão geral que - infelizmente - temos do REF. E ele não ajuda, não é mesmo? É triste que o crítico mais famoso do Brasil seja um inimigo tão ferrenho do pensamento inteligente.
ResponderExcluirEsse filme é maravilhoso. É ótimo ver uma obra como essa integrando a filmografia do cinema fantástico brasileiro. Sobre o REF, se o filme não tem velhas glamurosas, nunca é bom o suficiente. Bom é a Meryl Streep recendo 651º Oscar. Como você costuma dizer, ele é uma prova viva de que ver filme demais não ensina ninguém.
ResponderExcluirAh, parabéns pelo blog! Além dos ótimos textos seus, está muito rico com todo esse material extra (reportagens e críticas, materiais de divulgação da época). Acabei de ver que acrescentou uma seção, uma biblioteca com os clássicos do horror. Maravilha! Extramemente interessante e útil.
ResponderExcluirEu não acho que se poderia esperar outra coisa do REF naquela época e nem hoje. Dizer isso é quase como bater em gato morto... O que surpreende é que outros críticos mais sensíveis (que certamente existiam) tenham ignorado esse filme e os outros do Garret. O "buraco" que eles deixaram faz com que boa parte do cinema brasileiro recente acabe escapando da memória e obrigando os pesquisadores e curiosos a garimparem informações como se fossem do século retrasado... Por exemplo, até hoje não encontrei nenhuma entrevista decente com o Garret publicada nos jornais e revistas da época. Se alguém souber de alguma, por favor, me avise!!
ResponderExcluirDois textos do Carrard sobre filmes do Garret, e um sobre outro grande cara, o John Doo:
ResponderExcluirhttp://mondopaura.zip.net/arch2008-05-04_2008-05-10.html
http://mondopaura.zip.net/arch2009-07-12_2009-07-18.html
Realmente, Laura, os críticos da época deixaram uma lacuna enorme (o que me faz pensar que não eram tão bons quanto querem nos fazer pensar) e agora cabe a gente como nós consertar o estrago que fizeram, tratando o cinema "inventivo" como se fosse coisa de pé-rapado.
ResponderExcluirNessa crítica o REF diz que o filme é inverossímil porque o protagonista é um escritor que vive de literatura! Que porcaria de argumento é esse?? Se é para levar para esse lado, então o Garrett era visionário, pois ele inventou o Paulo Coelho!! Prefiro a análise do Jairo Ferreira, que sugere que o personagem central é um alter-ego do próprio Garrett. Pelo menos isso é PENSAR.
Curiosos os textos do Carrard, mas ainda acho que falta dissecar o conteúdo dos filmes do Garrett, e não apenas o que eles têm de prazeroso. Eventualmente faremos isso, o cinema brasileiro merece!
só pra fazer justiça ao Biáfora, eis um trecho de um texto dele sobre outro filme do Garret, "Excitação":
ResponderExcluir"… com Excitação, o jovem diretor Jean Garrett surpreende até mesmo àqueles destituídos de preconceitos “culturais” que conseguiram aquilatar de suas potencialidades em melhores circunstâncias. Pois elas se impõem neste novo filme, o mais profícuo e caprichado que M. Augusto Cervantes produziu até hoje. Não que inexistam assimetrias, contradições e fortes lapsos de entrecho, com situações e personagens desnecessariamente tomados de empréstimo a muitas obras anteriores (…). Mas é quase a primeira vez que algo saído da Rua do Triunfo revela um gosto e uma capacidade de manipulação, um germe de linguagem para realizações de diverso teor: unidade, plasticidade, imaginação cinemática. Outro tento é a belíssima fotografia colorida de Carlos Reichenbach, toda em tons neutros e esmaecidos (…), bem dosada, atmosférica – uma das melhores que nosso cinema apresentou em muito tempo. (…) Inesperadamente efetivo o “modernoso” comentário musical de Beto Strada. E só dignas de elogios as atuações de Kate Hansen (…). Falta certamente o grande entrecho, mas é flagrante uma capacidade de vir à tona para as exigências visuais expressivas e atmosféricas do cinema. E isso é muito. (BIÁFORA, OESP, 1977)
Laura, excelente texto e maravilhosa contribuição sua, mas como falei, EXCITAÇÃO é um filme que parece ser bem mais lembrado pelo pessoal em geral do que A FORÇA DOS SENTIDOS, que eu considero superior e mais "difícil", mais complexo.
ResponderExcluirO Biáfora era um cara respeitável e tudo mais, mas também idiossincrático e não completamente despido de preconceitos. Isso até parece pré-requisito para ser um crítico respeitável, mostrar que tem opinião e fincar o pé nessa postura. Na verdade, o que me incomoda é a burrice, a recusa de enxergar, e não opiniões, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis. Nesse sentido, claro que o Biáfora merece constar entre os "visionários".
acho que levando em conta a campanha contra a pornochanchada que toda a comunidade intelectualizada levava adiante nos anos 1970 (e que tinha uma lógica complicada e muito derivada do espírito da época, que é algo que não pode ser ignorado), o Biáfora teve um papel fundamental que foi o de registrar um outro olhar. os tempos eram outros, a visão que se tinha de cinema também. mas achei legal registrar porque ele viu no Garret o que era óbvio e que a maioria não viu.
ResponderExcluirBom, mas mesmo quando leio críticas pretenciosas de antigamente ainda não se comparam às "críticas" atuais onde a opinião pessoal é quase superior a qualquer mérito que o filme tenha atingido ou não. E pior, a versão dos fatos pelos olhos do crítico é ainda mais importante do que qualquer idéia própria que o espectador possa ter do filme. E isto ainda, surpreendentemente, gera uma legião de zumbis seguidores sem opinião própria digna dos filmes do Romero!
ResponderExcluirRodrigo, confesso que leio pouquíssimas críticas de filmes, mas o pouco que leio é mesmo lamentável. Só não acho que esses críticos tenham OPINIÃO pessoal. Eles são mais guiados mesmo pelo GOSTO pessoal, ficam muito do "gosto" / "não gosto".
ResponderExcluirMeu conceito de crítica é bem simples e levo muito isso em consideração: analiso o que o filme se propõe a ser, em que nível ele consegue isso (positiva ou negativamente), tento fazer algum comentário sobre o que o filme possa transmitir além da história que conta e como tudo isso se combina. Durante esse processo todo, tenho consciência que eu, como crítico, estou sempre um degrau abaixo do filme, pois sou um "empregado" que tem o trabalho de dar uma opinião. E respeito isso, sempre.
Pode não ser a melhor receita, mas acho que é melhor do que esse bando de arrogantes que se consideram "críticos", ou os que escondem a incapacidade de escrever por trás de gracejos e piadinhas. Baseado nisso, imagine o futuro de nossa crítica...
olá, existe a possibilidade de vc postar o filme pra download?
ResponderExcluirsempre elucidativos e instigantes seus textos,parceiro...para voce e os leitores interessados em lgumas raridades do cinema, tupniquim e gringo, vejam meu acervo
ResponderExcluirhttp://memoriatvcinema.wordpress.com/ e entgrem em contato
magobardo@yahoo.com