Um ano depois do lançamento do thriller Die Screaming Marianne (1971), o britânico Pete Walker voltou ao horror aderindo ao estilo de cinema que se convencionou rotular de grand guignol, a violência física e explícita, repleta de cenas de mutilação e esquartejamento. Sua associação com essa tendência não poderia ter surgido de maneira mais significativa do que com o shocker The Flesh and Blood Show (1972), cujo cenário é justamente o palco de um teatro especializado em espetáculos sensacionalistas. O enredo proposto pelo roteirista Alfred Shaughnessy é simples e ordinário: um grupo de jovens atores se reúne num velho teatro abandonado localizado num pier desativado, onde a trupe deve ensaiar uma comédia erótica. Porém, pouco depois de chegarem ao local, os jovens começam a ser mortos brutalmente por um homicida misterioso. A premissa é similar às tramas de mistério e assassinato de Agatha Christie, incrementado com banho de sangue e criatividade homicida, com uma contagem de cadáveres digna dos exemplares slasher que surgiriam nos próximos anos.
O cenário isolado, arrepiante e sinistro como qualquer teatro vazio, é ideal para provocar sustos e sobressaltos, mas o excesso de personagens - e, consequentemente, de potenciais suspeitos - acaba tornando a trama um bocado tediosa de se acompanhar. Curiosamente, a premissa não é muito diferente de Ensaio Geral: A Noite das Fêmeas (1976), interessante suspense dirigido por Fauzi Mansur, no qual também acontece uma série de crimes misteriosos em meio a um grupo teatral. Pete Walker compensa da maneira mais básica a carência de maiores qualidades no roteiro: cenas de sexo. O elenco de beldades escalada para o filme é notável, todas aparecendo mais do que à vontade em cena, mostrando que Walker ainda não havia se livrado totalmente dos vícios de sua carreira no sexploitation.
O diferencial do filme é a sequência final de flashback, rodada em 3D, quando é revelada a identidade do assassino, mas infelizmente esse trecho está em preto e branco na versão lançada em DVD, perdendo todo o efeito tridimensional. Mais convencional e careta do que a investida anterior de Pete Walker no cinema de horror, The Flesh and Blood Show é também mais divertido do que seu predecessor. Não oferece grandes desafios intelectuais e é narrado sem maiores ambições, porém é um prazeroso exemplar baseado na tradicional fórmula de pessoas presas num lugar sombrio e ameaçadas por um assassino misterioso. Nos filmes seguintes, Walker enfim mostraria ao que veio e passaria a exercer um estilo mais único.
Carlos ainda não vi este filme, mas só pelas "Beldades" já vale a pena. Deve ter sido muito legal na época esta sequência em 3D. Você tem este filme? Marcone
ResponderExcluirUma trupe treatal sendo dizimada também me lembrou o slasher italiano feito posteriormente "Pássaro Sangrento" do Michele Soavi, sem falar que ele foi rodado na época auge do Giallo italiano. Esse filme me interessou muito! Vou ter que correr atrás! Valeu Primati pela dica...
ResponderExcluirDo jeito que falou do filme não me pareceu grandes coisas mas fiquei curioso. Principalmente pelo belíssimo cartaz dos tempos áureos antes do Photoshop e das "cabeças grandes recortadas lado a lado com textura de fundo e nomes acima e título abaixo".
ResponderExcluirAbraço!
Marcone, tenho esse filme sim, e todos os demais do Pete Walker que estou comentando aqui.
ResponderExcluirBlob, ótima lembrança. O engraçado é que quando vi ENSAIO GERAL, do Mansur, falei: "Olha só, PÁSSARO SANGRENTO dez anos antes!".
Rodrigo, esses cartazes PÂNICO, LENDA URBANA e EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM são mesmo as coisas mais deprimente e fracassadas do horror. Teve uma época em que pensei em colecionar essas imagens, só pra ver até onde essa moda se estenderia!
Cabe um comentário interessante: o Pete Walker era da "escola AIP de produção de filmes". Ou seja, o processo criativo começava com a escolha do título e depois a criação do cartaz. Depois de definida a arte, um roteirista era conratado para escrever uma história que usasse os elementos presentes no cartaz. Nesse filme, por exemplo, não tem nenhum Rob Zombie, ao contrário do que o cartaz indica. O próximo filme que comentarei do Walker, HOUSE OF WHIPCORD, foi feito partindo da imagem de uma moça gritando tendo à sua frente o laço de uma fora. É o espírito vivo do cinema exploitation!
Oi Carlos, aqui é o Marcio, amigo do Jaime. desculpe lhe incomodar, mas queria lhe perguntar algumas coisas sobre minha atriz favorita Mia Farrow. Meu filme favorito dela é o Bebê de Rosemary, o qual já vi várias vezes, tanto no cinema, tv e agora em dvd - minha pergunta é - porque o diretor Roman Polanski não mostrou a cara do demonio quando está fazendo sexo com ela, e também não mostrou a cara do bebê - o Jaime me disse que se o filme tivesse sido dirigido pelo produtor William Castle, ele teria mostrado ambos.
ResponderExcluirvocê concorda? o que você acha da Mia Farrow?
ela fez outros filmes de terror bem interessantes- Terror Cego' e um outro com o ator de 2001 uma odisséia no espaço, que esqueci o nome agora, e recentemente ela estava ótima mesmo num papel pequeno na refilmagem de "A Profecia".
parabéns pelo excelente blog, que foi o Jaime que me indicou, e abraço de
Marcio Meneses
Olá, Marcio, seja muitíssimo bem-vindo e visite sempre o blog!
ResponderExcluirGosto muito da Mia Farrow, mas acho que ela desperdiçou boa parte da carreira fazendo o mesmo papel de moça insegura nos filmes do Woody Allen. Gosto muito do Woody Allen, mas os papéis dela eram quase sempre limitados. Confesso que gostaria de ter visto essa fragilidade da Mia Farrow mais explorada em filmes de suspense e horror, pois criaria o sentido de tensão necessário. Basta ver o que ela faz em O BEBÊ DE ROSEMARY, provavelmente o meu filme de horror preferido de todos os que já vi.
Com todo o respeito ao Jaime, o filme seria um desastre se fosse dirigido pelo William Castle, justamente porque ele ia exagerar em tudo, inclusive ao querer mostrar o bebê e o demônio. Deixando isso para a imaginação do espectador, a coisa fica muito mais perturbadora, inclusive o filme se tornou memorável por isso. Se tivesse mostrado um bebezinho diabólico qualquer, seu impacto hoje talvez não fosse o mesmo. Polanski tomou a decisão correta e mostrou que era mesmo um gênio do horror.
O filme que ela fez com o Keir Dullea, de "2001", se chama DEMÔNIO COM CARA DE ANJO, de 1977, também muito bom. O papel dela em A PROFECIA quase salva o filme! Certamente ela é o que o filme tem de melhor, fazendo o papel que no original fora da Billie Whitelaw, outra atriz que gosto muito. De resto, é uma refilmagem injustificável.
Grande abraço e escreva sempre!
CARLOS, COM TODOS O RESPEITO QUE TENHO POR VOCÊ, E VOCÊ SABE QUE TENHO MUITO, NÃO CONCORDO ABSOLUTAMENTE QUANDO VOCE DISSE QUE SE O BEBÊ DE ROSEMARY TIVESSE SIDO DIRIGIDO PELO MEU REALIZADOR FAVORITO WILLIAM CASTLE TERIA SIDO UM DESASTRE. FIQUEI ARRAZADO COM O COMENTÁRIO! VAMOS POR PARTES; PRIMEIRO QUEM DESCOBRIU O ROMANCE DE IRA LEVIN, FOI O PROPRIO CASTLE, QUE DEPOIS COMPROU OS DIREITOS PARA LEVÁ-LO AS TELAS. ELE ESTAVA MEIO ADOENTADO NA ÉPOCA, COM UREMIA (INFLAMAÇÃO DOS RINS, QUE ALIÁS PIOROU DURANTE AS FILMAGENS FINAIS E ELE QUASE MORREU)E O EXECUTIVO DA PARAMOUNT ROBERT EVANS DISSE- 'BILL, VOCE NÃO ESTÁ BEM DE SAÚDE,PORQUE VOCE SÓ NÃO PRODUZ O FILME E CONFIA A DIREÇÃO A UM JOVEM PROMISSOR QUE FEZ DOIS BONS FILMES DE TERROR NA INGLATERRA - REPULSA AO SEXO E A DANÇA DOS VAMPIROS? - CASTLE RESPONDEU- ME APRESENTE O JOVEM E VAMOS VER O QUE EU ACHO-
ResponderExcluirFEITAS AS APRESENTAÇÕES, CASTLE GOSTOU DE POLANSKI E CONCORDOU EM ELE DIRIGIR O FILME- MAS CASTLE ESTAVA SEMPRE NA CADEIRA AO LADO DELE DURANTE AS FILMAGENS, OBSERVANDO TUDO
INCLUSIVE ELE APARECE NO FILME NA CENA DA CABINE TELEFÔNICA COM MIA FARROW.
NA CRÍTICA PUBLICADA NO JORNAL 'O GLOBO' DE FEVEREIRO DE 1969 O JORNALISTA PAULO PERDIGÃO DISSE-'É FLAGRANTE NO FILME, A INTERFERENCIA DO PRODUTOR CASTLE'- NOS CARTAZES, FOLHETOS, FOTOS E LOBBY-CARDS, DO FILME, O NOME DE WILLIAM CASTLE TEM 100% DE DESTAQUE E O DE ROMAN POLANSKI, ESTÁ BEM PEQUENO. POSSO TE ENVIAR TODO ESSE MATERIAL SE QUISERES.
AGORA, JÁ QUE VOCE FALOU DO MEU DIRETOR FAVORITO, VOU FALAR DO SEU- NO FILME 'OS PÁSSAROS' O SENHOR HITCHCOCK EXAGEROU AO MOSTRAR O ATAQUE DAS AVES AOS HUMANOS VÁRIAS VEZES - NA CENA DA ESCOLA, INCLUSIVE ATACANDO CRIANÇAS, MORDENDO A ORELHA E CABEÇA DELAS TUDO MUITO EXPLÍCITO E COM SANGUE, NA CENA DA MULTIDÃO NA QUAL EXPLODE UM POSTO DE GASOLINA, E PRINCIPALMENTE NA CENA DO ATAQUE A TIPPI HEDREN QUE DURA VÁRIOS MINUTOS E OS PÁSSAROS QUASE DEVORAM ELA COM MUITAS PICADAS E O SANGUE CORRENDO. ELE PODERIA TER SUGERIDO MAIS E MOSTRADO MENOS.AÍ COMO EM PSICOSE ELE ESTÁ IMITANDO WILLIAM CASTLE, QUE SEMPRE PREFERIU MOSTRAR DO QUE SUGERIR. EU PARTICULARMENTE ADOREI 'OS PÁSSAROS' COMO ADOREI MAIS AINDA 'PSICOSE' MAS AMBOS FOGEM AO ESTILO ELEGANTE E DE BOM GOSTO DO PROVERBIAL DIRETOR INGLÊS, O QUAL CONSIDERO UM GÊNIO, COMO TAMBÉM WILLIAM CASTLE O FOI - ALIÁS OS DOIS ERAM MUITO AMIGOS.
ABRAÇO DO JAIME
Jaime, opiniões são opiniões, não sei por que você ficaria arrasado com algo que eu comentei. Também não é porque o Sr. Paulo Perdigão afirmou alguma coisa que eu a aceito como uma verdade absoluta, incontestável e indiscutível. O que é flagrante no filme, na MINHA opinião, é o quanto ele tem o mesmo clima claustrofóbico, paranóico e opressivo de REPULSA AO SEXO, por exemplo. E se a interferência do William Castle é tão flagrante, como ele não convenceu o Polanski a mostrar o bebê no final? Afinal, é consenso entre todos os cinéfilos, fãs ou não de Castle, que se o filme estivesse nas mãos dele, ele não teria deixado nada à imaginação, teria escancarado tudo e mostrado o bebê.
ResponderExcluirNão sei bem como o Hitchcock entrou na conversa, mas é claro que qualquer um pode ficar à vontade para esculhambá-lo. Só acho que o Hitchcock era um diretor completamente diferente; inclusive, ele não se limitava a um único estilo de filmar, como muita gente insiste em pensar. Ele fazia tanto filmes intimistas, num único cenário (UM BARCO E NOVE DESTINOS, FESTIM DIABÓLICO, DISQUE M PARA MATAR), quanto atravessando todo um país (OS 39 DEGRAUS, SABOTADOR, INTRIGA INTERNACIONAL), e se reinventava a cada novo filme, fazendo obras completamente diferentes em sequência, como UM CORPO QUE CAI, INTRIGA INTERNACIONAL, PSICOSE, OS PÁSSAROS e MARNIE. O conteúdo psicológico e a genialidade cinemática que ele inseria a cada filme é que o diferenciava dos demais realizadores, fazendo com que filmes como A SOMBRA DE UMA DÚVIDA e PACTO SINISTRO, por exemplo, por mais diferentes que sejam, compartilhem as mesmas idéias.
Enfim, é mais ou menos o que penso. E seria legal alguém comentar THE FLESH AND BLOOD SHOW neste espaço aqui...
Pelo trailer, parece legal, e dá pra pereceber como ele investe na nudez gratuita, além do sexo, como você citou. Que pena que a versão em DVD omite aquele trecho em 3D.
ResponderExcluirNa verdade, o mais correto seria "omite o 3D daquele trecho". ;)
ResponderExcluirMEU OVO...
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