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sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Terceiro Tiro (1955)

Homenagem a John Forsythe (1918-2010).


   A antológica entrada em cena de John Forsythe, cantando “Flaggin’ the Train to Tuscaloosa”, de Raymond Scott, na comédia macabra dirigida por Alfred Hitchcock, que discute sexo e morte com desconcertante casualidade, ao ponto de ser uma das obras ainda incompreendidas por parte do público.

4 comentários:

  1. Olá Carlos

    Ótima lembrança! "O terceiro tiro" é, de fato, um dos melhores filmes do Hitchcock, embora não haja sobre ele grandes referências ou análises, mas nem em estudos de cinema acadêmicos (a academia adora desencavar, com ou sem motivo justo, obscuridades). Mas talvez fosse legal, aproveitando o final de semana hitchcockiano, entender essa incompreensão do público, uma vez que outras obras radicais do diretor foram bem, aceitas pelo público à época e hoje ("Psicose", "Um corpo que cai") e outras nem tanto ("Quando dala o coração").

    []s e parabéns pelo blog

    Alcebiades

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  2. Alcebiades, esse filme realmente ainda está para ser descoberto, se é que um dia será. UM CORPO QUE CAI foi um fracasso de público e crítica na época, mas hoje em dia é quase surreal imaginar alguém que não enxergue seus muitos méritos.

    Confesso que fico incomodado quando leio textos que tratam O TERCEIRO TIRO como se fosse uma comédia amena e despretensiosa, enquanto que LADRÃO DE CASACA é celebrado como uma obra de destaque hitchcockiana. Este último tem a seu favor apenas o glamour e a beleza, em sacrifício a quase todos os temas puramente hitchcockianos. Poderia ter sido dirigido por Stanley Donen ou George Cukor e seria a mesma coisa. O TERCEIRO TIRO só poderia ter sido feito por Hitchcock, ou talvez por Billy Wilder, outro cineasta que tocava em temas tabu, mas os interesses dele eram um pouco diferentes.

    O filme fala, acima de tudo, dos temas que a sociedade americana na época evitava sequer dar conhecimento: sexo e morte. Mas o encanto é a maneira extremamente casual com a qual trata esses assuntos, quase os banalizando, e isso é o que lhe dá essa aura de "comédia leve". Mas não é. O filme mostra um casal de terceira idade que quer ser sexualmente ativo, e isso deixa todos no filme perplexos, pois sexo é assunto impensável para idosos. A relação com o cadáver, que é tratado com absoluto desinteresse, é rica em significados, que pode passar inclusive para o estado de permanente estagnação que vive aquela pequena comunidade. Tanto que é esse cadáver que motiva todos a começar a aproveitar a vida.

    Essa maneira banal de tratar o sexo me faz lembrar duas cenas que gosto muito: em O SENTIDO DA VIDA, do Monty Python, um professor (John Cleese) dá uma aula prática de sexo (com a esposa) diante de uma classe totalmente desinteressada na "matéria". A outra cena é de DRÁCULA: MORTO MAS FELIZ, quando Lucy, já transformada em vampiresa, ataca sexualmente o mocinho, que reage dizendo: "Mas Lucy, eu sou inglês!".

    Hitchcock também era inglês, e justamente por isso conhecia muito bem essa relação tabu com sexo (e morte). Sexo é a obsessão máxima dos ingleses, que são reprimidos nesse quesito ao ponto de que, quando o sexo se manifesta, é sempre de maneira pervertida e problemática.

    No cinema de horror, isso pode ser observado em obras feitas tanto por James Whale e Terence Fisher até Clive Barker. Por sua vez, a sociedade conservadora americana prefere nem pensar no assunto, sexo é algo sobre o qual não se deve falar jamais. Por isso O TERCEIRO TIRO é tão ousado, corajoso e genial.

    Em breve vou escrever aqui no blog sobre os filmes de horror do Pete Walker, um diretor britânico que levou a obsessão inglesa por sexo às últimas consequências.

    Grande abraço e até a próxima!

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  3. De todos os filmes do Hitch que vi, LADRÃO DE CASACA foi o que menos gostei. Senti falta da especialidade dele: a morte, o assassinato. Um filme apenas glamuroso, como você disse, poderia ter sido feito por muitos outros diretores, não tem nada de especial. Já O TERCEIRO TIRO, desde a primeira vez que assisti, é um dos meus preferidos. Você fez uma ótima comparação com Billy Wilder. Aquela comédia ácida, cheia de cinismo, poderia facilmente ter sido escrita por ele.

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  4. Billy Wilder falou de pedofilia (A INCRÍVEL SUZANA) e homossexualidade (QUANTO MAIS QUENTE MELHOR), entre outras coisas, e se safou porque disfarçou esses temas em comédias.

    Hitchcock fez algo bem parecido. Como todo grande artista, ele era capaz de criar um mundo particular, que só existe na imaginação dele, mas que mesmo assim se apresenta como algo plausível. Vejo O TERCEIRO TIRO como uma América alternativa, na qual uma bucólica comunidade fala com naturalidade de sexo e morte. Ou seja, é uma grande tiração de sarro do Hitch.

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