Apesar de Pete Walker ser um nome ainda pouco familiar mesmo entre alguns aficionados por cinema de horror - praticamente todo texto sobre ele deve vir acompanhado de um parágrafo introdutório - o inglês possui um conjunto de obra interessante e respeitável, tendo sempre buscado novos temas para explorar com seu estilo nada sutil nem tampouco elegante. House of Whipcord (1974), sem exageros, merece ser considerado sua primeira contribuição relevante para o gênero, ainda que o formato narrativo apele para os mais baixos recursos do cinema exploitation, o que o torna desagradável para quem não tem paixão pelos exageros dessa tendência brutal de filmar (se é que alguém liga a mínima para o que as feministas têm a dizer...).
O filme marca o início da parceria do diretor com dois de seus mais importantes colaboradores. O primeiro desses nomes é o de sua atriz-amuleto, a inigualável Sheila Keith, dona de um dos rostos mais marcantes do cinema de gênero, sempre com expressões intensas, de ódio, rancor, insanidade, demência. Keith tem participação decisiva como a vilã de House of Whipcord e voltaria em outros quatro filmes de horror de Walker. No departamento criativo, é também o começo da contribuição do ex-crítico David McGillivray, que se tornaria um importante aliado na concepção dos peculiares exemplares de horror assinados por Pete Walker.
McGillivray assumiu o roteiro iniciado por Alfred Shaughnessy - que escrevera The Flesh and Blood Show dois anos antes - sobre uma jovem francesa (interpretada pela encantadora Penny Irving) que trabalha como modelo em Londres e conhece um rapaz misterioso durante uma festa. Ela acha graça no nome dele, Mark E. DeSade, mas não desconfia que está se metendo numa grande enrascada quando aceita o convite do moço para conhecer sua mãe. A visita pretensamente romântica se revela um verdadeiro inferno quando a garota se vê encarcerada num presídio feminino clandestino. A instituição fajuta é dirigida por uma velha sádica obcecada em punir severamente moças que ela considera moralmente condenáveis. As infelizes que vão parar no tal presídio são julgadas sumariamente em bizarros processos comandados por um magistrado cego e senil, que profere sentenças extremas às culpadas; geralmente, condenando-as à forca.
House of Whipcord combina de maneira exagerada características de filmes sobre presídio feminino com o estilo de horror cruel de Walker, que à esta altura já se revela o tipo de realizador que faz questão que seus protagonistas sofram tanto quanto possível ao longo da projeção. Mesmo apelativo e pouco verossímil, é suficientemente envolvente e dificilmente você não se flagrará torcendo ansiosamente para que a modelo consiga escapar de seus algozes. Uma crítica nada sutil ao conservadorismo e à hipocrisia da censura, o filme “é dedicado àqueles que se incomodam com a falta de códigos morais dos dias de hoje e que ansiosamente aguardam a volta do castigo corporal”, segundo afirma a sarcástica mensagem no início da fita.
Walker acerta mais uma vez na escolha do elenco feminino, preenchendo o filme com beldades pouco conhecidas, porém nada desagradáveis à vista do espectador. Ann Michelle, que faz o papel de melhor amiga da modelo francesa, lembra um pouco Claudia Cardinale em versão mais jovem, e outras atrizes em papéis breves também surgem para embelezar a tela por alguns instantes.
Eu tenho a opinião de que só devemos comentar sobre o que sabemos e, quando isso não ocorre, devemos ficar quietos para aprendermos. Apesar de pensar assim, não poderia deixar de comentar um pouco aqui e confessar que Pete Walker é uma grande lacuna no meu modesto conhecimento sobre filmes de horror. E olha que aprecio muito mais esses diretores mais obscuros... São posts assim que me fazem vir aqui todo dia, mesmo que silenciosamente, e espero que você faça mais textos apresentando mais nomes enterrados pelo tempo como Kevin Connor, John Moxey e vários outros. E até mesmo sobre o Robert Fuest, pois eu acho que muito se fala sobre o Dr. Phibes, mas se esquecem sobre o homem na direção. E se não for pedir muito, gostaria que você comentasse um pouco sobre "And Soon The Darkness" e "The Devil's Rain", sendo que esse é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos.
ResponderExcluirOpa, Corbis, pode visitar silenciosamente ou fazendo um barulhão, mas saiba que toda intervenção faz com que eu melhore o blog, pois isso não apenas incentiva a escrever mais, como também dá idéias e mostra o que o pessoal mais gostaria de ver aqui.
ResponderExcluirGosto muito do Kevin Connor, inclusive a adaptação que ele fez há alguns anos de FRANKENSTEIN, que achei extremamente inteligente e fiel ao original (e melhor ainda, com visual inspirado nas ilustrações que o Berni Wrightson fez para a edição do livro lançada pela Marvel). E nunca li alguém comentando esse filme!
Sobre THE DEVIL'S RAIN, que assisti há uns sete anos, fiquei tão fascinado pelo filme que lamentei muito não tê-lo visto na minha infância, pois tenho certeza que seria um daqueles filmes que me encheriam a cabeça de imagens indeléveis!
Pretendo falar sobre todos esses e muitos mais. O problema é que às vezes exagero no "obscurantismo" do sujeito, aí o post acaba recebendo pouquíssimos comentários. :(
Então sugiro um post sobre este tal Frankenstein baseado nas ilustrações do fantástico Berni Wrightson.
ResponderExcluirFiquei bem curioso. Quanto ao filme do post eu nunca ouvi falar mas novamente amei o cartaz. Este seu blog é um perigo pro meu vício e falta de tempo. Já tenho trocentos filmes pra eu assistir na minha coleção e ainda não consegui me atualizar e cada vez que entro aqui descubro um novo!
Abração cara!
Ah! Não sei se você ou o mestre Palhinha podem me ajudar, mas alguém sabe qual a data de lançamento e se foi lançado no Brasil o filme Zombie do Fulci? Sem ser a versão da Darkside claro!
Robert Fuest é mais talentoso que muito nome da Hammer junto.
ResponderExcluirNunca vi o Frankenstein do Kevin Connor, mas ele é meu herói dos tempos de Sessão da Tarde. Suas adaptações de obras pulp tem uma coisa que as modernas versões não tem : elas possuem o jeitão de aventuras pulp.
RODRIGO, O FILME 'ZUMBI 2 - A VOLTA DOS MORTOS' (ZUMBI-1979) DO LUCIO FULCI, FOI LANÇADO EM SÃO PAULO EM 6 DE JULHO DE 1983, NO CINE MARABÁ E CIRCUITO.
ResponderExcluirNÃO ME PERGUNTE PORQUE A DISTRIBUIDORA FOX, COLOCOU O NÚMERO 2 NA FRENTE DO ZUMBI- NEM MESMO ELES NA ÉPOCA SABIAM O PORQUÊ - JÁ VEIO ASSIM DA MATRIZ DO RIO DE JANEIRO.
ABRAÇO DE JAIME PALHINHA
Jaime, mais uma vez obrigado pela colaboração. Só mesmo você tem isso arquivado! O motivo do número "2" no título eu até entendo, e isso sugere que a versão exibida no Brasil é a italiana (imagino que o Jaime também tem isso nos arquivos, pois os folhetos de divulgação de antigamente informavam o idioma original do filme).
ResponderExcluirA explicação é que só na Itália o filme se chamou ZOMBI 2, porque ele se fazia passar pela continuação de DAWN OF THE DEAD, do Romero, que foi exibido na Itália como ZOMBI.
Quando lançamos o filme em DVD, eu dei o nome de ZOMBIE: A VOLTA DOS MORTOS, mas cortei o número "2" para evitar confusões. Tive o cuidado de ser fiel à tradução original, mas ao mesmo tempo adaptando de maneira que ninguém ficasse procurando pela (inexistente) primeira parte. Mesmo assim, teve cara tirando sarro nesses fóruns de filmes de horror na internet (esses cheios de experts no assunto), dizendo que o título "não tem nada a ver" e que a Dark Side "só faz merda..." e que "com certeza aqueles burros confundiram com A VOLTA DOS MORTOS-VIVOS".
É para essas pessoas que trabalhamos.
Rá! Eu sabia que havia perguntado no lugar certo! Quem mais teria uma informação destas assim? Prontinha pra ser passada!
ResponderExcluirObrigado meus caros!
Primati, estou procurando este DVD até agora! Zombie 2 também foi usado no Brasil tentando passar por uma continuação do Dawn of the Dead que aqui saiu como Zombie - Despertar dos Mortos. Pelo menos em VHS. Aliás, outro DVD difícil!
Abraços e obrigados!
Rodrigo, no meio de tantos "zombies" e "2", confesso que agora eu é que fiquei confuso. Qual filme saiu como "Zombie 2" no Brasil? O "Dawn of the Dead" original tem esse título mesmo. Em DVD ficou simplificado, como "Despertar dos Mortos", porque o dono do selo achou que "Zombie" dava uma idéia de filme vagabundo. Tentei argumentar, mas....
ResponderExcluirFoi o Zombie do Fulci. Saiu por aqui como Zombie 2 e na Itália também. Saiu lá primeiro se passando por uma continuação do Despertar e depois aqui pegou carona nesta mesma idéia.
ResponderExcluirAliás, prefiro o Dawn of the Dead chamando só Despertar dos Mortos mesmo já que Madrugada ficou com o remake e não se refere exatamente ao "horário" correto.
ResponderExcluirSim, que o filme saiu na Itália como ZOMBIE 2 eu sei, expliquei isso alguns comentários acima. Só não sabia que tinha saído com esse título no Brasil também. Recapitulando: o título de cinema é "Zumbi 2: A Volta dos Mortos", lançamos em DVD como "Zombie: A Volta dos Mortos". Pelo que você está dizendo, existe outra edição (DVD ou VHS?) como "Zombie 2", é isso? Essa eu não conheço.
ResponderExcluirÉ... Não sei realmente se ele saiu por aqui em VHS. Acho que sim. Mas até hoje eu o conhecia desta forma, aliás, acho que um daqueles antigos guias de terror se referem a este filme realmente como Zombie 2 sim. Se não me falha a memória agora tive uma imagem de ter visto ele com este nome lá no guiazinho.
ResponderExcluirFalando em guia, aproveitando o gancho dos comentários lá no post do Mangue Negro e deste, o que você acha de uma listinha com os DVD's que saíram da Dark Side? Seria útil, pelo menos pra mim e tu ainda faz um merchan!
Não tenho a lista (não tenho sequer todos os DVDs!), mas vou ver se providencio um catálogo e coloco por aqui. ;)
ResponderExcluirPor falar em merchan e DVD, vou aproveitar pra te passar um blog meu onde registro um dos meus passatempos que é customizar capas de DVD.
ResponderExcluirDá um pulo lá e, se puder, comente.
http://dvdcustoms.blogspot.com/
Fala Primati!
ResponderExcluirFalamos tanto de Zombie que fui hoje até o centro de São Paulo e acabei arrematando Zombie, Despertar dos Mortos (finalmente!), A Fera Deve Morrer (dificílimo de achar) e A Serpente. Belas pérolas para minha crescente coleção!
Abraços!
Parece bem peculiar e provocante, um prato cheio pros sádicos de plantão.
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